“Fiz de tudo para não ir nesse casting, mas quando as coisas tem que acontecer acontecem”. A fala é da modelo Amanda Griza, 19 anos, que ficou presa na China por 17 dias. A prisão teria ocorrido por problemas na documentação da jovem, mas atualmente ela acredita que o dono da agência para a qual trabalhava estava sendo investigado.
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Em casa em Balneário Camboriú, onde chegou na noite de segunda-feira, Amanda contou que por muito pouco não deixou de participar do casting que culminou em sua prisão. A prova falsa foi uma armadilha da polícia chinesa para prender Amanda e outros modelos.
– Eu estava com o pé machucado e tinham me ligado para dizer que era um casting de sapatos. Aí perguntei se precisava mesmo ir, aí falaram que não seria só de sapatos – lembra.
Amanda conta que o casting era em outra agência que não a sua. Ela estava desanimada e passou primeiro na agência pela qual fazia trabalhos na China. De lá seguiu para o local do casting.
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– Encontramos a porta fechada. Mas aí forçamos e começamos a ouvir as outras modelos gritando lá dentro para não entrarmos. Só que nisso eu congelei e aí um policial me puxou pelo braço e me colocou junto com as demais – conta.
Naquela semana o celular de Amanda havia quebrado e ela comunicou a mãe que usaria o dinheiro de comer para consertar o aparelho. Graças a isso a jovem conseguiu trocar mensagens sobre a prisão com a mãe, Elena Griza, até que o aparelho foi confiscado.
Confira abaixo como foram os dias de Amanda na detenção chinesa:
O que você e as demais modelos imaginaram quando foram presas?
Aos poucos fomos juntando as peças e falaram que não podiam nos deportar. Ninguém tinha o visto vencido, ninguém estava com visto foram da validade, a maioria estava com visto irregular. Depois, pelo que a policial perguntava, percebemos que eles estavam atrás do dono da agência. Ninguém tinha conhecimento de se a agência era ilegal e nem poderíamos imaginar porque eram três agências do mesmo dono e nós andávamos com book pra cima e pra baixo.
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A imigração já tinha te contatado antes disso?
No primeiro mês que eu estava na China foram até meu apartamento. Pegaram meu passaporte, mas no outro dia eu tinha o passaporte de volta. Mandei mensagem para minha agência falando disso, mas me falaram que estava tudo tranquilo. Não me preocupei.
Quantas meninas foram presas junto com você?
Nós éramos 31. Não eram todas da agência, tinha algumas da outra agência que foi onde nos pegaram e as outras eram de agências que trabalhavam com ele (dono da agência da Amanda). Ele abriu um clube e estava pagando as agências para levarem meninas para trabalhar dentro do clube. Nessa história eu acho que ele arrumou briga com muita gente.
Em que momento você começou a contribuir com a polícia?
Foi pelo quarto dia. Eu e uma modelo polonesa. Começamos a conversar pensamos: eles já sabem tudo, sabem quem é o dono da agência, então não tem sentido ficar mentindo. Se mentíssemos e eles descobrissem poderíamos ficar ali mais tempo, se não falássemos não sabíamos. Então eu e ela demos todas as informações que podíamos e foi o momento que ficamos mais tranquilas. Antes eu tinha prestado depoimento só na delegacia.
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Foi nesse momento que você começou a suspeitar que estavam atrás do dono da agência e não de trabalhadores ilegais?
Comecei a cogitar que poderia ficar mais de 30 dias. Pensei que ia ficar até pegarem o dono da agência e eu sabia que ele iria fugir porque ele tem muito dinheiro. [Você o conhecia da agência?] Só conhecia ele de balada, de jantares. Eu saía bastante com meus amigos e ele convidava direto para jantares, teve uma que foram só os brasileiros e era o único contato que eu tinha com ele. Então a única foto que eu tinha com ele era de um jantar. Lembrei e mostrei para a polícia. Foi quando me deram o celular e consegui mandar uma mensagem para minha mãe.
Você imaginava que estava ocorrendo uma mobilização para te tirar de lá?
Eu no fundo não acreditava que poderiam me manter presa, até onde eu sei é ilegal manter alguém preso se não está ilegal. Ainda comentei com a minha amiga: se me levam para algum lugar a minha mãe vai contatar a Dilma, mas ela me tira daqui, eu conheço a mãe que eu tenho.
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Eu sabia que minha mãe estava fazendo de tudo. Aí a vice-cônsul (Carmelita Pollicott) falou comigo e disse que minha mãe estava contatando deputado e tudo. Ela tem vontade de voltar para o Brasil e me disse: “Amanda eu vou te tirar daqui nem que seja a última coisa que eu faça na China”. A Carmetila me tranquilizou bastante porque a tortura maior nos primeiros dias foi saber que os meus pais estavam aqui sem notícias.
Você tira alguma lição desse episódio?
Várias. Meus dias eram longos e eu tinha muito tempo para pensar. Descobri o valor que tem a minha liberdade. No início eu tinha muita raiva de tudo e agora não tenho mais espaço para raiva. Talvez eu tenha um pouco de mágoa por tudo o que aconteceu, mas eu vim no avião e todas as vezes que eu orei agradeci a Deus por tudo o que aconteceu comigo e por ter conseguido mudar minha mente como eu mudei.
Você vai continuar na carreira?
Eu acho que sim, não tenho certeza ainda. Pensei em desistir ir estudar outra coisa, mas todos os caminhos me levam para a moda porque eu amo muito isso então eu acredito que vá continuar.
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Os pais de Amanda também não decidiram que medidas judiciais tomarão a partir de agora. De qualquer modo, um advogado acompanha o caso.
Entenda o caso
Na quinta-feira, 8 de maio, uma chamada inesperada da filha provocou um turbilhão na vida da família Griza. A modelo gaúcha Amanda, 19 anos, usou um aplicativo de mensagens de voz para narrar ao vivo para os pais, Edson e Elena, sua prisão na China.
Natural de Osório e com a família radicada em Balneário Camboriú, Amanda trabalhava desde fevereiro no país asiático. Chamada pela agência para uma seleção de modelos, foi surpreendida quando o casting se revelou uma armadilha. A polícia chinesa montou uma operação para deter trabalhadores com problemas em vistos. A brasileira acabou detida num grupo com cerca de 60 modelos de diversas nacionalidades.
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