– Me senti agredida, porque precisamos trabalhar bastante para ganhar R$ 6 mil. Fiquei realmente chocada. Nunca vi na vida alguém, que você espera que vai fazer o que é certo, te fazer uma proposta dessas e ainda te chamar de amiga.

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Foi com tranquilidade que a analista financeira de um restaurante da Via Gastronômica, peça fundamental para a prisão na última quarta-feira de uma fiscal da Secretaria de Infraestrutura de Joinville suspeita de corrupção, recebeu a reportagem do “A Notícia” para uma conversa na tarde de sexta-feira.

A funcionária de 28 anos, que há um ano trabalha na administração do estabelecimento, contou que esta foi a primeira vez que se deparou com uma proposta de propina. No começo de julho, ela esteve na Seinfra para solicitar a visita dos fiscais para avaliação de uns reparos na estrutura do restaurante, pois faltava a certidão de conclusão de obra, essencial para a obtenção do alvará da Prefeitura. Cerca de um mês depois, um casal de fiscais foi até o estabelecimento e, após observar rapidamente a parte reformada, disse apenas que a funcionária precisaria fazer adequações, sem mencionar quais.

– Nessa primeira visita, ela me puxou para um canto e disse que poderia levar sete meses se tivesse que fazer a reaprovação do projeto. Mas que ela conseguiria resolver, sem ter que mexer na obra, em duas semanas e depois deu um novo prazo, dois dias. Perguntei se teria de pagar e ela disse que sim – conta a analista financeira, indignada.

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Ainda naquela tarde, a funcionária do restaurante passou o número de celular para a fiscal e ela ficou de ligar quando tivesse um retorno (uma proposta), sugerindo que não estava sozinha no esquema. Na mesma tarde, a funcionária conversou com os donos do restaurante e um deles sugeriu que ela procurasse a polícia para denunciar a fiscal.

Esquema montado para pegar em flagrante

Uma semana depois, quando a servidora fez o primeiro contato e voltou ao restaurante, a funcionária já estava trocando informações com a Polícia Federal e gravando todas as conversas com a suspeita.

Em uma das ligações, a fiscal repassou o valor da propina de R$ 6 mil, alegando que essa parte não teria nada a ver com ela e que o valor cobrado normalmente seria entre R$ 8 mil e R$ 10 mil, mas que como ela teria dito que a funcionária do restaurante era amiga dela, ela conseguiu um desconto.

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Na última quarta-feira à noite, com os policiais federais já a postos dentro de um carro estacionado em frente ao restaurante, a fiscal chegou também de carro e a funcionária foi até ela.

Na conversa que durou cerca de dez minutos, a analista financeira tentou extrair outros nomes da fiscal, sem sucesso, e efetuou o pagamento para configurar o crime de corrupção passiva por parte da servidora, saiu do carro e fez o sinal combinado com os policiais, que imediatamente a prenderam.

– A hora que ela viu um dos policiais abrir a porta do carro ela disse: “Ai meu Deus”, sentindo que a casa dela havia caído – relata a funcionária.

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Denunciante diz que faria tudo de novo

Com a rotina normal e sem se dizer com medo, a funcionária do restaurante alega que faria tudo novamente.

– Acho que a gente sabe que está fazendo a coisa certa e aí tira forças de onde não tem. Gostaria que outras pessoas tivessem a mesma atitude que eu porque o mundo não pode ser mais das pessoas espertas e, sim, das honestas — disse.

A analista financeira disse não saber por quanto tempo a fiscal ficará presa, mas acredita que será tempo suficiente para ela refletir sobre as suas ações.

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Outras vítimas de corrupção dessa suspeita ou de outros fiscais devem procurar a Polícia Federal informalmente e relatar os seus casos e assim colaborar com as investigações.

Assista ao vídeo do momento da prisão: