Mesmo com a insistência da Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria (AVTSM) em solicitar o recolhimento da primeira edição do livro Kiss – Uma Porta Para o Céu, o escritor Lauro Trevisan, conhecido como padre Lauro, defende que a situação já foi solucionada com a retirada de trechos em novos exemplares.
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Em entrevista a Zero Hora nesta quarta-feira, o autor alega também que não vê motivo para procurar os parentes e conversar sobre a polêmica. Confira abaixo:
Zero Hora – O que o senhor suprimiu do livro?
Lauro Trevisan – Retirei aqueles trechos que, segundo dizem por aí, causariam indignação ou sofrimento.
ZH – Uma das passagens que o senhor suprimiu era a que falava das vítimas agonizando?
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Trevisan – É, que agonizavam em meio da fumaça funérea. Pensavam que o significado da palavra agonizar era estar sofrendo, sofrendo e sofrendo, quando agonizar significa, segundo o Dicionário Houaiss, estar prestes a morrer.
ZH – Que objetivo o senhor tinha com esse livro?
Trevisan – São três objetivos. O primeiro: confortar as pessoas que estão sofrendo. Segundo objetivo: reerguer o ânimo de Santa Maria. O terceiro é oferecer uma lição à humanidade.
ZH – Se o senhor tinha o objetivo de confortar as pessoas que estão sofrendo, por que nunca os procurou?
Trevisan – Mas procurar por quê? Eu não sou escritor? Por que vou procurar?
ZH – As famílias reclamam que, mesmo depois de pedirem modificações, o senhor não fez nenhum contato.
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Trevisan – Eu fiz a retificação.
ZH – O senhor não achou necessário entrar em contato com eles?
Trevisan – Não. Não há essa necessidade. Se querem que eu vá lá conversar com eles, com o maior prazer.
ZH – Nas primeiras entrevistas, o senhor afirmou que havia escrito a partir de relatos de familiares. Isso não era a realidade?
Trevisan – Não tem nada ver. Quem lê, vê que não há nenhuma dúvida de que são alegorias. É uma imaginação. Os anjos levaram, as pessoas chegaram no Céu, houve a festa, o gaiteiro tocou.
ZH – Mas isso seria uma alegoria de quê?
Trevisan – Alegoria significa o seguinte. Dicionário Houaiss: “Uma história, com personagens e acontecimentos simbólicos”. Depois dessa visão simbólica, dessa homenagem aos que partiram, aí eu começo o texto do livro.
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ZH – Sim, é uma história simbólica. Mas ela simboliza o quê?
Trevisan – Simboliza os que partiram e foram subindo, levados pelos anjos.
ZH – Uma alegoria é uma história que se conta para representar uma outra coisa…
Trevisan – Pega uma caneta que vou te dar uma definição precisa do Dicionário Houaiss: “É uma história…”
ZH – Não precisa. Gostaria de entender qual é o simbolismo. O senhor coloca os jovens diante de Deus, então alguns decidem ficar no Céu e outros decidem voltar à Terra. Quer dizer que as vítimas decidiram se queriam morrer ou viver?
Trevisan – Não. Simboliza aquele fenômeno de quase morte, daquelas pessoas que têm a impressão de que chegaram até o Céu e retornam. Simboliza que alguns poderiam até retornar à Terra e continuar a vida. É um simbolismo. Não tem nada a ver com a realidade.
ZH – Os pais das vítimas ficaram abalados e sofreram por causa do livro, o senhor pretende dar a eles algum tipo de ajuda?
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Trevisan – Mas o livro é a ajuda. O livro é todo feito para ajudar essas pessoas. Ninguém veio me dizer que não gostou. A não ser a associação, que estava representando alguns familiares. Mas isso é um tema esgotado. Não tem mais no livro. Foi retirado do livro.
ZH – O senhor não recolheu a versão com os trechos que desagradaram.
Trevisan – Não existe mais. Vou recolher o quê?
ZH – Os livros existem. Estão espalhados pelo Estado.
Trevisan – Eu não sei onde anda aquilo. Isso é com a editora.
ZH – A editora é do senhor, não é?
Trevisan – São vários sócios.
ZH – E o senhor é um deles. Não sabe onde foram esses livros?
Trevisan – Sei lá onde foram. E por que eu preciso saber? Não tenho nenhuma razão para isso.

Capa do livro escrito pelo padre Lauro
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