A Associação dos Familiares de Vítimas e Sobreviventes da Tragédia de Santa Maria estuda encaminhar um pedido formal para que a polícia colha depoimento do padre Lauro Trevisan, autor de um livro sobre o incêndio na boate Kiss responsável por gerar revolta na cidade.

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Nesta quarta-feira, depois de uma ação extrajudicial por meio da qual a associação pediu o recolhimento de todos os exemplares, Trevisan colocou nas livrarias uma versão modificada da obra Kiss – Uma Porta Para o Céu. A supressão de dois trechos na nova edição não foi o suficiente para aplacar a fúria dos parentes das vítimas.

– Pedimos que ele recolhesse o livro. Ele não fez isso e ainda colocou uma nova versão em circulação. Ele está usando a tragédia em benefício próprio, para ganhar dinheiro – afirma o presidente da associação, Adherbal Alves Ferreira.

No trecho mais polêmico do livro, removido da nova edição, Trevisan narra a chegada das vítimas do incêndio ao Céu, onde Deus comanda uma grande festa: “No auge da balada celestial, o Pai perguntou se alguém queria voltar. Dois ou três disseram que sim e foram encontrados vivos no caminhão frigorífico que transportava os corpos ao Ginásio de Esportes”. A menção feita a jovens vivos dentro do caminhão dos mortos transtornou os pais. Trevisan afirmara, em entrevistas, que havia baseado a obra em relatos de parentes das vítimas.

Como as investigações não apontaram que jovens vivos tenham sido trancados nos caminhões frigoríficos, a associação vai procurar a Delegacia de Polícia e solicitar esclarecimentos.

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– Estamos avaliando juridicamente essa questão e aguardando a formalização do pedido. Se houver repercussão criminal, podemos chamá-lo – antecipa o delegado Marcelo Arigony, que comandou a investigação sobre o incêndio na Kiss.

A nova versão do livro sobre o incêndio, lançada pela editora do próprio Trevisan, tem 2 mil exemplares. Com apenas 77 páginas, custa R$ 20. Os familiares reclamam que, mesmo depois de protestarem e pedirem o recolhimento da obra, foram ignorados por Trevisan.

– Ele nunca entrou em contato conosco, nem mesmo por intermédio de um advogado. Editou o novo livro e não nos consultou. É incrível como se nega a sair do pedestal. Podia ao menos ter pedido desculpas. Não entendo como um padre pode ter essa falta de sensibilidade. Não deu bola para nós, como se não existíssemos. É uma falta de respeito – critica Adherbal.

Capa do livro escrito pelo padre Lauro

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