Os manifestantes que ocupam o parque Gezi de Istambul indicaram nesta quinta-feira que se negam a retirar do local, apesar do ultimato lançado pelo primeiro-ministro turco Recep Tayyip Erdogan neste sentido. – Ficaremos no parque Gezi com nossas barracas, nossos sacos de dormir, nossas canções, nossos livros, nossos poemas e todas as reivindicações – declarou o advogado Can Atalay, em nome do principal grupo de manifestantes, o Solidariedade Taksim.

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Em seu ultimato, Erdogan exigiu que manifestantes abandonem imediatamente o parque, epicentro dos protestos políticos que agitam a Turquia há duas semanas.

– Tivemos paciência até agora, mas a paciência está se esgotando. Faço meu último aviso: mães, pais, por favor, retirem seus filhos – disse Erdogan em um discurso em Ancara para os prefeitos de seu partido, o Partido da Justiça e Desenvolvimento (AKP).

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-Não podemos esperar mais porque o parque Gezi não pertence às forças que o ocupam. Pertence a todos.Faço um apelo aos irmãos defensores do meio ambiente, não nos façam ficar tristes por mais tempo. Deixem que limpemos o Parque Gezi para devolvê-lo a seus autênticos proprietários, os moradores de Istambul- insistiu o chefe de Governo.

No discurso, Erdogan também confirmou a vontade de convocar uma consulta popular em Istambul sobre o projeto de reforma urbana da Praça Taksim e do Parque Gezi, que desencadeou protestos contra o governo em 31 de maio.

O premier afirmou que “não há impedimentos legais”, em uma resposta a quem considera que o referendo seria ilegal.

Os manifestantes também rejeitaram essa proposta:

– Não vivemos todos estes ataques que mataram e feriram cerca de 5.000 concidadãos para que se organize um referendo – enfatizou Atalay.

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A proposta do primeiro-ministro turco para um referendo municipal sobre o futuro de parque Gezi de Istambul não é legal nem desejável, afirmou à AFP um representante dos manifestantes.

– Já existe uma decisão judicial, que obrigou a interrupção das obras urbanísticas do Parque Gezi. Nestas condições, não é legal prever uma consulta popular para decidir o futuro do parque – declarou Tayfun Kahraman, do Solidariedade Taksim, que reúne 116 associações que promovem protestos no Parque Gezi.

O primeiro-ministro tentou na quarta-feira neutralizar os protestos contra o governo com a ideia de um referendo sobre o projeto urbanístico da Praça Taksim e sobre o futuro das 600 árvores do parque Gezi.

Um tribunal administrativo de Istambul divulgou em 31 de maio uma medida cautelar para suspender as obras, à espera de uma decisão sobre a legalidade do projeto estimulado pelo governo.

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Nesta quinta, o ministro do Interior, Muammer Guler, pediu o fim rápido da ocupação do Parque Gezi, cenário de protestos há duas semanas.

– A ocupação do Parque Gezi não pode durar. Desde 1º de junho, alguns grupos ocupam um espaço público e impedem o acesso a outros. Tudo isto deve acabar antes que provoque mais tensão. Esta situação não é aceitável em uma democracia – disse Guler em Ancara.

Ao mesmo tempo, o chanceler turco, Ahmet Davutoglu, considerou inaceitável uma resolução adotada nesta quinta pelo Parlamento europeu e que critica o uso excessivo da força por parte da polícia turca contra os manifestantes antigovernamentais.

– Esta atitude é inaceitável – afirmou Davutoglu aos jornalistas, para afirmar que a Turquia é uma “democracia de primeira” e não precisa receber lição de ninguém.

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Os deputados europeus haviam expressado, minutos antes da reação de Ancara, sua “profunda preocupação com a violência excessiva e a intervenção brutal da polícia contra manifestações pacíficas e legítimas”.