A primeira oportunidade como jogadora de futebol de Thatiane Gonzaga foi aos 16 anos na Ferroviária de Araraquara (SP). Então adolescente, exitou em aceitar a proposta, mas a mãe não deixou a filha perder a oportunidade que mais tarde a levaria para Seleção Brasileira e Europa.
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– Na época a gente se comunicava pelo Orkut. A saudade era muito grande, eu chorava muito, mas nunca deixei a Thaty saber para não deixar ela mais insegura ainda – revela, nove anos depois, a mãe, dona Angela Maria.
Ninguém ganha das meninas Veneno de Florianópolis
A família mora no Panorama, um condomínio enorme no coração do Monte Cristo. Thaty divide um dos quartos com a irmã Thaise. No guarda-roupas, taças, medalhas e camisas da Seleção. No outro quarto dorme a mãe, que é professora. Na sala ficam os instrumentos da banda de pagode que as meninas participam, a Mistura Black. Thatiane toca pandeiro e Thaise, voz e cavaco.
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Hoje com 25 anos, Thaty está terminando o Ensino Médio e procurando emprego. Para se manter em forma, treina com as meninas do Veneno FC/Paula Ramos. Por causa das várias mudanças de casa que o futebol lhe trouxe, nunca conseguiu concluir o colégio.
– Está complicado encontrar trabalho. É sair de casa de manhã, entregar mais de 10 currículos e nada, porque minha carteira não tem muita experiência. Então eu pretendo agora terminar os estudos para pegar um emprego – planeja.
Futebol feminino de Santa Catarina ainda engatinha
Mundial no currículo
A carreira de Thathy começou aos 13 anos na equipe do Scorpions. Em um campeonato disputado em Cabo Frio, no Rio de Janeiro, o time de Araraquara viu a menina jogando e a convidaram para um teste. Assinou contrato de um ano, mas já em três meses conseguiu vaga na seleção brasileira sub-17, onde permaneceu por dois anos. Representou o Brasil no mundial de 2008 na Nova Zelândia.
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– Eu era titular absoluta, mas tive um baque grande, fiquei com medo daquele lugar, aí me deixaram no banco. Mas depois que peguei foco deslanchou. A partir do segundo jogo fui titular. Foi uma experiência muito boa jogar com outros países, ser vista pelo mundo inteiro e ser um exemplo aqui para a comunidade e para as outras gurias que sonham em chegar onde eu cheguei – lembra.
De volta a Florianópolis para jogar no Avaí, o técnico Diogo Fernandes indicou a jogadora para o Oulu Nice Soccer, do futebol finlandês.
– A Finlândia foi uma experiência de quatro meses. O time estava quase desclassificado, e conseguimos chegar em quarto lugar. Depois o contrato acabou – conta.
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Atrevidas FC: as meninas que treinam no Parque de Coqueiros
Dona Angela Maria guarda até hoje as edições da Hora de SC que noticiaram a ida da filha para Seleção e para o país nórdico. Enche a boca para dizer que a menina ¿é o orgulho da comunidade¿.
Mas agora Thaty quer apenas ser mais uma pessoa comum. A jovem se desiludiu com o futebol feminino. Recentemente recebeu uma proposta para jogar no Milan, na Itália. Só que o salário era de apenas 300 euros (R$ 1.066). Ela recusou.
– Não tenho mais muita expectativa na carreira do esporte. Ao longo do tempo a gente vai se decepcionando com o futebol feminino. Aqui no Brasil é praticamente impossível viver do esporte no feminino. Mas se eu fosse homem, hoje certamente estaria vivendo do futebol – lamenta a atleta.
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A manezinha agora torce, na TV da casa no Panorama, pelas ex-colegas da Seleção. Das que estão nas Olimpíadas do Rio, conviveu com Rafaelle, Thaizinha, Bia e Raquel. Thaty espera muito que uma medalha de ouro faça o
país ver com outros olhos o futebol feminino e toda a luta dessas atletas.