A mensalidade de R$ 380 da creche da filha de 11 meses consome praticamente metade do salário da auxiliar administrativa Amanda Letícia Backes, 19 anos.

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O problema é que ela não teve outra alternativa senão matricular a menina em uma escola particular para continuar trabalhando. Isso tudo porque ela foi derrotada pela fila de 4.332 crianças de até seis anos à espera de vagas nos centros de educação infantil de Joinville. Em janeiro deste ano, havia 3.217 crianças na fila.

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O dilema de Amanda começou há cerca de sete meses, quando ela saiu da licença-maternidade e não conseguiu matricular o bebê em nenhuma das três unidades da rede municipal que ficam perto da casa dela, no bairro Parque Joinville, zona Leste. No início, a jovem pagava cuidadoras, mas, por causa da logística e dinheiro, ela precisou transferi-la para uma creche.

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Hoje, Amanda luta sozinha para dar conta das despesas com o salário de R$ 910. Ela é separada e mora sozinha em uma casa cedida nos fundos do terreno da mãe.

– Isso é um absurdo. Eu conheço muitas mulheres que não trabalham e têm condições de pagar uma creche particular para os filhos que conseguem uma vaga na rede pública, enquanto eu tenho que me desdobrar para pagar a mensalidade – desabafa.

A mãe não entende por que não foi contemplada com uma vaga, pois ela fez o cadastro online para matricular a filha na rede. Segundo a Secretaria de Educação, a ordem do cadastro não tem influência no processo de seleção. O principal critério é o socioeconômico.

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– Já estou cansada de ir até a Secretaria de Educação e ouvir sempre a mesma resposta: nós não temos como ajudá-la no momento. É necessário esperar. O problema é que nós somos obrigadas a pagar os nossos impostos, mas não temos acesso ao que é de direito, como a educação – diz Amanda, indignada.

Apesar de não ter com quem deixar a filha durante o dia, a auxiliar administrativa conta com a ajuda das avós para levar e buscar a menina na escola.

Assim como Amanda, mais de 4,3 mil mães joinvilenses enfrentam o mesmo problema diariamente. Isso porque a estrutura da educação infantil não é suficiente para atender à demanda.

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Hoje, as 59 unidades da rede têm 11.668 alunos matriculados. Além disso,a Secretaria de Educação comprou este ano 4.578 vagas em 64 unidades particulares conveniadas. Mesmo assim, está longe de atender a todas as mães.

Sobre o crescimento de mais de mil crianças na fila de espera, a justificativa da Educação é de que hoje as mães podem fazer o cadastro para pedir vaga na rede a qualquer momento. A secretaria também argumenta que há muitos casos em que a família matricula o filho na rede particular enquanto aguarda vaga no município.

Mais de mil vagas serão abertas até o final deste ano

A construção de seis CEIs irá desafogar a fila de 4.332 crianças, mas não resolverá o problema da maioria das famílias que sofre com a falta de vagas. Mas se todas as construções ficarem prontas até dezembro, as novas salas de aula se tornarão a segunda casa para cerca de 1.020 meninos e meninas.

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Além disso, a Secretaria de Educação pretende inaugurar oito CEIs até o final de 2015, abrindo mais 1.800 vagas.

A construção dessas unidades tem como objetivo diminuir a demanda reprimida e atender à lei número 12.796, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional. Ela diz que todas as crianças com quatro anos terão de estar na pré-escola a partir de 2016 e que será um dever dos pais matriculá-las.

CEI Monteiro Lobato

Das seis unidades que estão sendo construídas neste ano, o CEI Monteiro Lobato, no bairro Paranaguamirim, será o primeiro a abrir as portas. A construção será inaugurada nas próximas semanas e beneficiará 142 crianças. As aulas começam já no segundo semestre.

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O CEI terá oito salas e receberá 11 turmas de zero a cinco anos em período integral e parcial. O investimento da obra foi de R$ 2.368.141,91 e o recurso veio do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação.

Cadastro online é fundamental

A situação da auxiliar de produção Gisele Tatiane Balasim, 27 anos, é ainda mais complicada. Ao que tudo indica, ela terá de abandonar o trabalho assim que sair da licença maternidade, em agosto.

Isso porque ela não conseguiu vaga para três dos quatro filhos. O problema é que, apesar de ela ser separada e receber somente cerca de R$ 850, ela não concretizou o cadastro das três crianças para pleitear vagas na rede.

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– Eu fui até o CEI perto da minha casa, no Boa Vista, e quem me atendeu pediu um documento que eu não tinha na hora – conta Gisele.

Desde então, ela não voltou mais na unidade porque pensou que estava tudo certo. Segundo a Secretaria de Educação, os três filhos dela não estão na lista de espera e é necessário que ela faça o cadastro para conquistar a matrícula dos três. Gisele disse que vai correr atrás dessa questão para tentar colocar os três filhos na escola.

O que diz a Secretaria de Educação de Joinville

A lei determina que o município tem de oferecer vagas para crianças entre 6 e 14 anos, como já ocorre. Mas este cenário vai mudar em 2016, quando a criança será obrigada a estar na escola a partir dos quatro anos. Por isso, estão sendo construídos seis CEIs este ano e programados mais oito para 2015.

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– Estamos nos preparando para receber essa nova demanda – diz o secretário de Educação, Roque Mattei.

Ele comentou que a estrutura familiar mudou e hoje as mães vão trabalhar e precisam deixar os filhos na escola. Outro motivo está relacionado à qualidade do ensino, que melhorou e pais que teriam condições de pagar colégio particular acabam optando pela rede pública.

Sobre o caso da auxiliar-administrativa Amanda Letícia Becks, a secretaria pede que ela atualize o cadastro da filha no sistema, pois há irregularidades nas informações apresentadas.

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A atualização da inscrição pode ser feita por meio do telefone 3431-3018 ou pela internet. A Educação destacou que essa pendência pode ser um dos entraves para a conquista da vaga.