Hoje colorida, limpa e bem iluminada, a Praça da Estação, como é chamada pelos moradores, nem parece o local esquecido de meses atrás. Na localidade de Estação Cocal, em Morro da Fumaça, no Sul de Santa Catarina, dezenas de voluntários apostaram na ocupação e revitalização das áreas públicas como enfrentamento à violência. Para as festas de final de ano, mais de 3,5 mil quadradinhos de crochê enfeitam a praça, que virou ponto de encontro de famílias e amigos.

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Na metade do ano passado, uma série de roubos e furtos tirou o sossego da comunidade, acostumada com a calma do interior. Em solidariedade a um dos comerciantes prejudicados pela onda de violência, um grupo resolver criar o Movimenta pela Paz. O policial rodoviário federal Antônio Robson Rodrigues foi quem deu início às ações, que hoje envolvem centenas de moradores.

– Tudo começou como uma resposta à insegurança, nos solidarizamos com quem tinha sido atingido e pensamos o que poderíamos fazer para mudar esse cenário. Decidimos apostar na melhoria do convívio entre nós mesmos, e daí surgiu a ideia de melhorar as áreas comuns – relembra Rodrigues.

O terreno, que era muitas vezes usado como depósito de lixo, passou por um mutirão de limpeza com o apoio do poder público e empresas. Depois surgiu a ideia de “abraçar” as árvores, que garantem sombra e beleza ao lugar. Foi aí que os clubes de mães entraram em ação e decidiram criar quadradinhos de tecido e crochê, para dar ainda mais cor ao local.

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– Elas começaram no ano passado, mas agora aumentou ainda mais. A praça está limpa, sendo ocupada, e visivelmente há uma redução nos índices de violência por aqui, inclusive nos registros policiais. A tranquilidade voltou, mas o mais importante foi a integração da comunidade – comemora o policial aposentado.

Ponto a ponto, as mãos habilidosas fazem em poucos minutos um trabalho caprichado e rico em detalhes. Todo material utilizado para revestir as árvores, a casa do Papai Noel as janelas da antiga estação, é sustentável. Grupos da região doam tecidos e linhas, as crocheteiras aproveitam o que tem de restos de materiais, e quem ainda não aprendeu a técnica, colabora com doação.

– Está tudo muito lindo, antes era sujo, abandonado, e hoje é uma pracinha mesmo, as pessoas vem mais. A gente se reúne e faz as peças, quem não sabe fazer doa as linhas, e a comunidade vai se integrando – comemora a aposentada Naide Ana Bortolatto Pereira, de 67 anos.

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Tudo se transforma

A casinha do Papai Noel, construída por voluntários no ano passado, foi feita com madeira que seria descartada. Para este Natal, ela ganhou cara nova, e ao invés de receber pintura, foi revestida com centenas de quadradinhos de crochê sobre tecido. Na árvore, enfeitada com pequenas almofadas em forma de coração, cada adorno teve a participação de pelo menos três voluntárias: desde o corte e costura do tecido, passando pelo preenchimento e recebendo os toques finais com pontos de crochê. Para Silvana Harger , uma das participantes do Movimento pela Paz, essa integração é a essência da iniciativa.

– Algumas mulheres resgataram a técnica do crochê que há muito não praticavam, para colaborar. Para a maioria, o crochê foi a materialização do que estávamos sentindo, se unindo de certa forma contra a violência urbana. O pouco que cada uma faz, 10 quadradinhos, 30, 100, todas colocam a mão e tem a sua parcela, é a essência disso que estamos fazendo e da comunidade que queremos viver – comenta.

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