O Ginásio Capoeirão, em Florianópolis, parece vazio, mas lá no fundo, depois de um corredor escuro, uma sala guarda o sonho de 16 atletas de taekwondo da região. De estrutura, as luvas, os doboks, os protetores e um tatame. Espaço pequeno, mas suficiente para grandes ambições. Puxando o grupo, a atual campeã brasileira na categoria até 53kg, Alessandra Trevisan, que está prestes a alçar seu vôo mais alto: defender o Brasil em um Mundial.
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Desejo que alimenta desde a infância. Primeiro foram o basquete e o vôlei na escola, depois sete anos de patinação artística, para, aos 18 anos, o acaso acertar seu rumo. Na gráfica em que trabalhava em Balneário Camboriú, imprimiu o cartaz de um concurso de beleza “Garota Taekwondo”. Quem vencesse ganharia seis meses de aulas de inglês, além de uniformes e inscrição na academia de artes marciais. Interessada em aprender o idioma, Alessandra desfilou e ganhou. Aproveitou a cortesia para iniciar também no esporte.
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Em dois anos de prática, graduou-se faixa preta e, no ano seguinte, 2006, conquistou pela primeira vez o título de campeã brasileira na categoria até 57kg. Desde então, passou a rondar o topo do ranking nacional a toda temporada. Mas não se deu por satisfeita.
– Desde que comecei a treinar foi para ir para a Olimpíada – afirma.

Reviravolta na carreira após os 30
E foi por mais esse sonho que, na metade de 2014, mudou o estilo de lutar, emagreceu quatro quilos e desceu uma categoria (-53kg). Aos 31 anos, teve um boom na carreira, venceu o Brasileiro, terminou o ano no topo do ranking, venceu a seletiva nacional em março de 2015 e, pela primeira vez, classificou-se para o Mundial na Rússia.
Ela será a única catarinense a embarcar neste domingo para disputar o campeonato a partir do dia 12 de maio e leva na bagagem todas as suas fichas para uma vaga olímpica. Só se voltar com uma medalha da Rússia se destacará no ranking internacional e terá chances de disputar os Jogos Pan-Americanos, qualificatório para a Olimpíada, ou ganhar uma das vagas garantidas ao Brasil por ser país sede.
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O caminho é de pedras, mas o mais difícil obstáculo está fora dos tatames. Em ano pré-olímpico, Alessandra e os demais atletas da equipe estão sem apoio financeiro. A bolsa-atleta do governo federal ainda não abriu inscrições para 2015, que ajudaria Alessandra, já que ela é a atual campeã brasileira e estaria apta a receber. Em âmbito municipal, a expectativa é de contar com verba a partir de maio, segundo informou a Fundação Municipal de Esportes, em um projeto que envolve também aulas gratuitas a 330 crianças de Florianópolis.

Determinação a qualquer custo
– O único patrocínio que tenho em dinheiro é de 150 reais. Para pagar aluguel, comer, guardei dinheiro do ano passado do bolsa-atleta do governo federal, que neste ano ainda não abriu inscrições e nem sei quando vai abrir – lamenta Alessandra, que ainda tem um privilégio em relação aos atletas mais jovens da equipe: convênios com academia, psicólogo e fisioterapeuta. Ainda assim, já vê sua preparação prejudicada. Planejava fazer um training camping no interior de São Paulo na última semana, com a técnica da seleção brasileira, mas desistiu porque não tinha recurso para pagar a passagem.
A campeã pode até se frustrar, mas não se abala. A determinação e foco são sua marca. Nos últimos oito anos, nunca faltou a uma sessão de treinos sequer – são duas por dia, em um total de quatro horas.
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– Nunca pensei em parar. Virou como se fosse um vício. O taekwondo é muito dinâmico, você nunca sabe o que o outro atleta vai fazer, então precisa ter muito raciocínio, lógica e precisão técnica. Mesmo se não for para competição, gosto de estar praticando ou dando aula para crianças.
