– Pergunta para ele.
Essa foi a única resposta dada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao ser bombardeado com perguntas sobre se ainda acreditava que Marcos Valério estava mentindo, mesmo depois de o empresário afirmar que entregou provas ao Ministério Público que mostrariam o envolvimento do ex-presidente nos episódios denunciados. A informação foi publicada nesta quinta-feira pelo jornal Folha de S. Paulo.
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Apesar de fugir da imprensa durante todo o dia desta quinta em Barcelona e até usar os corredores da lavanderia do hotel para não ter de enfrentar os repórteres, Lula voltou a garantir:
– Continuo a fazer política.
Ele esteve em Barcelona para receber um prêmio de R$ 215 mil, um dia depois de levantar, em Paris, a possibilidade de voltar a ser candidato.
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Nesta quinta, voltou a repetir que não deixou a política.
– Existem várias formas de fazer política. Até dois anos atras, fiz política através de processos eleitorais democráticos – disse.
– Encerrados dois mandatos eletivos de presidente, continuo a fazer política porque tenho uma crença profunda na humanidade – afirmou.
– Meu papel político, agora, é pregar que o desenvolvimento de um País deve representar a prosperidade de todos seus cidadãos.
Apesar de garantir que não sairá da vida pública, o ex-presidente foi obrigado a recorrer aos corredores da lavanderia de um sofisticado hotel de Barcelona para fugir da imprensa. Ele se recusou a falar do escândalo revelado pelo jornal O Estado de S. Paulo que o envolveria no mensalão.
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O esforço para evitar a imprensa incluiu, ao chegar ao hotel, um forte esquema de segurança. Ao sair do quarto, sabendo que os jornalistas estavam no lobby do hotel, a saída foi usar corredores internos, passando pela lavanderia do edifício – que o conduzia até uma porta de serviços com acesso para a rua. Lula chegou a ser alertado por seus assessores de que jornalistas tentavam falar com ele. O ex-presidente, então, virou o rosto rapidamente e entrou no carro.
Segundo a assessoria do governo catalão, houve uma recomendação da comitiva brasileira para que sua agenda fosse mantida em total sigilo, assim como o hotel onde se hospedaria. Após o evento, Lula voltou a ser abordado pela imprensa, e sequer olhou para os jornalistas, que o questionavam sobre os episódios divulgados pela imprensa brasileira – incluindo a frase atribuída a Marcos Valério de que ele teria provas de seu envolvimento. Só parou quando um jornalista conseguiu lhe perguntar se ele achava que Valério estaria mentindo.
– Pergunta para ele – respondeu.
Valério teria entregue à Justiça documentos que provariam o envolvimento de Lula. Em Paris, o ex-presidente reagiu à sua fala:
– É tudo mentira.
Entre os membros da comitiva, o empenho era para minimizar o caso. O ex-ministro Luis Dulci negou que o noticiário sobre Valério tivesse afetado a viagem de Lula pela Europa e insistiu que o ex-presidente sequer falou do caso com a comitiva.
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– São denuncias velhas – afirmou.
Lula, porém, tratou da crise no PT envolvendo os escândalos de corrupção em um longo almoço que teve com o ex-presidente espanhol, o socialista Felipe Gonzalez. O ex-chefe de governo da Espanha teve seus últimos anos de mandato cercado por escândalos de corrupção que afetaram a popularidade de seu partido durante anos. Gonzalez se recusou a dar detalhes da conversa, acompanhada por cava e charutos cubanos.
– Foi maravilhoso – insistia.
Lula voltou nesta quinta ao Brasil em um jato privado que, segundo sua assessoria, foi disponibilizado por investidores que organizaram uma palestra dele no Catar, no fim de semana.