No seu discurso em reunião do Conselhão, na tarde desta terça-feira, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva defendeu que o Brasil adote uma política internacional agressiva para encontrar mercados para seus produtos, sobretudo na África e na América Latina, mas sem sufocar os países economicamente menores.
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Lula defendeu que o Brasil financie países africanos e latino-americanos que precisam importar produtos brasileiros, mas que não dispõe de grande quantidade de recursos para fazer os investimentos.
– Temos que ajudar financeiramente, senão os europeus, os americanos e os chineses nos engolem – afirmou.
O ex-presidente ainda defendeu que o país organize missões e feiras internacionais para mostrar a sua produção e buscar novos mercados se desvencilhando de uma dependência dos países tradicionais, como Estados Unidos e os europeus.
– Se a gente não fizer, os chineses fazem. Temos de oferecer à África e à América Latina uma alternativa não colonizadora, mas construir com eles parcerias para fazer aquilo que está faltando.
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Como de costume, Lula estava bem-humorado e fez várias brincadeiras durante o discurso. Também reforçou a necessidade de o Brasil ser mais ousado e disse agradecer a Deus por ter perdido algumas eleições para ter um amadurecimento maior.
– PT ganhou experiência e aprendeu com erros e acertos – resumiu.
Ao aconselhar as presidentes Dilma Rousseff e Cristina Kirchner a estabelecerem parcerias entre Brasil e Argentina, Lula aproveitou para cutucar os tucanos:
– Menem (Carlos Menem, ex-presidente da Argentina) e o nosso ex-presidente (Fernando Henrique Cardoso) brigavam para ver quem era mais amigo do Clinton.

FOTO: Claudio Fachel, Palácio Piratini, Divulgação
Elogios ao Conselhão e lembranças do governo
O ex-presidente disse ter ficado emocionado ao voltar a Porto Alegre após dois anos e cinco meses sem visitar o Estado. A última vinda dele ao RS foi em dezembro de 2010, quando ainda era presidente da República.
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Lula também afirmou que o maior legado que deixou não foi os programas sociais, como o Bolsa Família, mas a relação que conseguiu estabelecer com a socidade, estimulando a participação nas decisões.
– O Estado é de todos, não de um partido ou de um governo – destacou.
Ele também disse que o Conselhão é uma forma republicana e democrática de governar, pois oferece espaço para construir ideia e criticar.
– Quando a criança é feia, não tem pai. Quando é bonita, tem muitos. Então, não é só do Tarso a responsabilidade. O que queremos é construir um Estado em que todos se sintam responsáveis – ressaltou Lula.
Para o ex-presidente, os governantes devem fazer opções e, em vez de ficar culpando o passado, devem construir o futuro:
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– É muito fácil discutir a desgraça, mas temos que discutir a saída, o que é possível fazer. Foi assim que conseguimos governar o nosso país.
A reunião, que encerrou às 18h10min, foi aberta pelo secretário executivo do Conselhão, Marcelo Daneris, que destacou importância do ex-presidente.
Em seu pronunciamento, o governador Tarso Genro destacou as mudanças sociais ocorridas na gestão de Lula e reiterou o avanço na relação do Estado com o governo federal. Depois, homenageou Lula com a Comenda da Ordem do Ponche Verde, maior honraria oferecida pelo Palácio Piratini.
Seminário do PT é destaque em agenda na Capital
Após a reunião no Conselhão, Lula participa de um seminário do PT para avaliar os 10 anos do partido no Palácio do Planalto, com Dilma Rousseff. No evento, a cúpula petista dará uma amostra do discurso eleitoral que será empregado em 2014, quando a sigla tentará conquistar o quarto mandato presidencial consecutivo.
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A expectativa é de reunir cerca de mil pessoas no ato político, a partir das 18h, que terá como eixo central o debate da política internacional dos governos Lula e Dilma. Com direito a comparações com os predecessores, sobretudo em alusão à era Fernando Henrique, os petistas irão valorizar a aproximação com os governos da África, Ásia e América Latina, como Venezuela e Bolívia.
Também irão enaltecer o que chamam de “independência” das gestões de Lula e Dilma diante dos países ricos, o que abrirá mais brechas para críticas ao PSDB, acusado pelos petistas de ter sido subserviente aos Estados Unidos, Europa e Fundo Monetário Internacional (FMI) enquanto esteve à frente do Planalto.