Aquele era um mundo sem Instagram, sem Whatsapp ou Facebook, e foi pela TV que a maioria dos brasileiros acompanhou, naquela tarde de 2 de agosto de 2005, o primeiro – e último – duelo entre os dois protagonistas do escândalo do mensalão.
Continua depois da publicidade
O ringue era uma sala do Anexo 2 da Câmara onde ocorriam as sessões do Conselho de Ética. O clima era de confronto pelo cinturão dos pesos pesados. Antes do início dos trabalhos, centenas de repórteres se aglomeravam junto à porta da sala aos gritos de “abre, abre”.
No meio do tumulto, a então repórter da Band Sabrina Parlatore, ex-musa da MTV nos anos 1990, gravava reportagem sobre os bastidores da sessão. Parlamentares e presidentes de partidos misturavam-se a curiosos, alguns vindos especialmente para a ocasião, como o estudante Roberto Aragão, 17 anos, de Osasco (SP).
– Estou acompanhando a polêmica desde o início – explicou, mostrando fotos tiradas com a câmera do celular.
Toda essa expectativa tinha motivo. Naquele dia, o deputado e ex-chefe da Casa Civil José Dirceu (PT-SP) prestaria depoimento sobre a suspeita de “fraudar o regular andamento dos trabalhos legislativos” – eufemismo para o pagamento em troca de votos a parlamentares aliados do governo Luiz Inácio Lula da Silva.
Continua depois da publicidade
À primeira fila, estaria sentado o também deputado Roberto Jefferson (PTB-SP), que, quase dois meses antes, havia utilizado pela primeira vez o termo “mensalão” para tratar do esquema.
Nem bem Dirceu acomodou-se na mesa diretora dos trabalhos, o PTB de Jefferson protocolou uma representação contra aquele que havia sido considerado o homem forte do lulismo – outros dois parlamentares do PL, mesmo partido do vice José Alencar, também eram acusados. A partir daquele instante, nenhum deles poderia renunciar.
Houve golpes e contragolpes, promessas e ameaças veladas. Ninguém poderia imaginar que seriam necessários mais sete anos para que as sentenças originadas pelo escândalo transitassem. E que o último condenado a ir para a prisão seria o criador do termo mensalão – o mesmo Jefferson que vi chegar às 14h50min daquela terça-feira, de terno cinza e gravata rosa.