Um projeto que alia esporte e educação, e, de quebra, leva os pais para dentro da escola, tira os alunos da rua e das drogas, e (sim, tem mais!) ainda ensina práticas de boa alimentação. Se tudo isso parece impossível de aplicar de uma só vez, na Escola Estadual Idelfonso Linhares, do bairro Carianos, em Florianópolis, a proeza está saindo do papel através de aulas de judô.

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Atualmente são 47 alunos, de cinco a 17 anos, que são diretamente atingidos por essa iniciativa no Sul da Ilha. A revolução escolar teve início com o retorno do judoca Glauber Oliveira, 34, ao tatame. Ele praticava o esporte quando era mais jovem, mas acabou parando. Foi só quando seu filho se interessou pela modalidade que Glauber retomou a prática. Se tornou faixa preta e resolveu criar o projeto na escola do bairro em que morava, a Idelfonso Linhares.

Há cinco anos ele conseguiu garantir seu espaço na escola, em uma sala que é cedida somente para a prática do esporte. Pelo menos 350 crianças já passaram pelas aulas de judô. Mas foi este ano, com a empolgação de sua esposa, a judoca e faixa marrom Fernanda Tourinho, de 34, que as atividades começaram também a sair do tatame.

— Perdemos dois alunos para as drogas, e isso nos sensibilizou muito. Decidimos que não íamos mais perder nenhum aluno para as ruas e ampliamos a nossa ideia. Os professores do judô também vão para a sala de aula e chamamos os pais para participar mais de nossas atividades — explicou a sensei (instrutor de judô, em japonês) Fernanda.

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Muitos alunos tem problemas familiares e os senseis esperam que o judô possa ajudá-los de alguma forma.

— Muita mãe tem vindo pedir ajuda. Não dá para ficar alheio, a gente quer fazer alguma coisa. Não queremos desistir destes alunos — complementa Fernanda.

Para trazer os pais mais para perto, os senseis mandaram cartinhas, avisos, os convidaram a assistir os filhos lutando. Foi com essa união que eles conseguiram, por exemplo, reformar o “dojô“, o espaço onde se pratica as artes marciais, em japonês. Hoje, ele tá lindão e até tem pinturas na parede que remetem à cultura japonesa. E tudo feito a várias mãos.

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Comidinhas verdes no prato

A sensei Fernanda, durante as aulas, notou que a criançada e os adolescentes estavam comendo muita besteira. Era muita coxinha, pastel. E nada de uma verdurinha ou fruta. Daí surgiu uma ideia: o projeto NutriAção.

Funcionários da Comcap foram até a escola para ensinar os alunos a como montar uma horta dentro de uma garrafa pet, e a como cuidar. Eles doaram material de compostagem e as mudinhas.

— Cada criança é responsável por sua garrafa. Tem alface, rúcula, agrião e alguns temperos, como cebolinha. Eles levam para casa e precisam me mandar fotos no Whatsapp para eu ver se eles estão cuidando bem da verdura. Assim que crescer, podem comer — explicou Fernanda.

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Denivaldo Trindade da Silva, de 40 anos, pai do aluno Vinícius Trindade da Silva, 6, é um dos que acompanha de perto e comemora a iniciativa.

— Fazem dois meses que meu filho começou o judô. E a alimentação mudou muito. Ele viu os amiguinhos comendo, e hoje come alface, cenoura — fala ele, felizão com o resultado.

De olho nos alunos indisciplinados

O judô é um esporte que exige muita disciplina, que é cobrada ainda pelos senseis dentro e fora do tatame.

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— Temos uma parceria com os professores da escola. Se um aluno do judô está atrapalhando alguma aula, se não segue as regras, um dos senseis vai para dentro de sala de aula e fica de olho nas crianças. Eles têm que ter disciplina — conta Fernanda.

O professor de Artes do colégio e sensei voluntário no projeto do judô, Ângelo Rafael, 37, notou que muito aluno mudou de postura: eles têm mais responsabilidade e respeito pelos colegas. O diretor da Idelfonso Linhares, Sérgio Bertoldi, confirma.

— No judô eles aprendem disciplina, comprometimento, respeito ao ambiente. Além de aprenderem a controlar a ansiedade e os impulsos. Sem contar a aproximação da família, que é tão importante para a escola.

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Música no tatame

Outra tática para deixar o judô mais divertido é a música. Os próprios professores inventaram quatro músicas para ajudar na memorização da filosofia do esporte. Essa é a parte que a pequena Carolina Felicidade, de 9 anos, mais gosta: cantar. Além é claro, de aplicar uns golpes, como ela mesma diz.

Vitória Carolina, 9, começou no judô há poucos dias porque viu seus amiguinhos praticando e gostando do esporte. Hoje, ela já está ansiosa para mudar de faixa. Da branca, quer ir para a cinza.

— É isso que nos motiva. Ver o crescimento dessas crianças. Estamos buscando parceria para agora ir para outras escolas — revelou o sensei Glauber.

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Para fazer o judô, é cobrado o valor de apenas R$ 25 por aluno, para cobrir despesas que voltam para as próprias crianças.

Assista o vídeo sobre o projeto:

Projeto de Judô na Escola Estadual Idelfonso Linhares, no bairro Carianos, está trazendo os pais para dentro da escola.