A Polícia Federal (PF) recebeu dois laudos sobre a queda do helicóptero, ocorrida na zona Sul de Joinville em 8 de março deste ano. Dois meses após o incidente, um dos documentos confirmou a identidade das vítimas, o outro a procedência da arma encontrada no local. A PF ainda aguarda o resultado do laudo dos destroços, que foi encaminhado para Curitiba/PR. Essa análise ainda pode demorar mais alguns meses para ficar pronta. O inquérito policial também foi prorrogado por mais 90 dias.

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O laudo cadavérico elaborado pelo Instituto Geral de Perícias (IGP) atestou a identidade dos mortos no dia da queda: o piloto Antônio Mário Franco Aguiar, 56 anos, auxiliar de pista Bruno Siqueira, 21, e do passageiro Ivan Alexssander Zurman Ferreira, 24. Já o único sobrevivente, Daniel da Silva, 18 anos, teve alta do Hospital Municipal São José no início de abril, onde permaneceu internado desde o dia do acidente. Depois, ele foi encaminhado ao Presídio Regional de Joinville onde permanece preso.

A outra perícia concluída foi sobre as armas encontradas nos destroços. Uma delas é um revólver que estava com a numeração raspada. Já a pistola calibre 9 milímetros pertenceu à Forças Armadas do Paraguai. A polícia trabalha com a hipótese de sequestro da aeronave. Também há a suspeita de que o helicóptero seria utilizado para o resgate de um preso, que é investigada e não foi confirmada ou descartada pela polícia.

O helicóptero pertencia à empresa de taxi aéreo Avalon foi contratada por R$ 3,1 mil, por dois homens para um sobrevoo de 50 minutos pela região de Joinville. A partida aconteceu em Penha, no Litoral Norte, por volta das 15h20 no dia do acidente, e deveria retornar para o mesmo local depois do tempo de voo. Aproximadamente 25 minutos depois do embarque, a aeronave caiu há dois quilômetros de distância da Penitenciária Industrial de Joinville, no bairro Paranaguamirim, na Zona Sul da cidade.

A PF já ouviu diversas pessoas para elucidar as circunstâncias da queda da aeronave, também há várias diligências em curso para apurar o acidente. A investigação sobre a queda do helicóptero corre em segredo de justiça e detalhes não podem ser revelados.

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Por volta das 19 horas, a Polícia Civil confirmou a informação de que a aeronave foi sequestrada.

“Quando cheguei ao portão, o helicóptero já estava queimando”, diz moradora que estava a cerca de 50 metros do acidente

Confira uma atualização do que já se sabe sobre o caso envolvendo a aeronave:

O trajeto

A aeronave, de prefixo PR HBB, modelo Bell 206B, da operadora Avalon Táxi Aéreo, que presta serviços de voo panorâmico para o parque Beto Carrero World, foi contratada para um passeio por dois homens. Eles informaram que gostariam de visitar um terreno em Joinville e efetuaram o fretamento do voo. A partida ocorreu em Penha, no Litoral Norte, por volta das 15h20 da quinta-feira (8) e deveria retornar ao mesmo local em cerca de 50 minutos.

A queda

Por volta das 15h45, a aeronave caiu nas proximidades da Penitenciária de Joinville, no bairro Paranaguamirim, na Zona Sul da cidade. Moradores relataram ao A Notícia que a impressão era de que a aeronave já estava se desintegrando no ar, com barulho forte e teria tentado desviar de residências. No entanto, o um vídeo registrou o momento da queda e a impressão, pelas imagens, é de que a aeronave “despencou” sem rumo, explodindo em uma fração de segundos. A derrubada do helicóptero aconteceu cerca de dois quilômetros distante da Penitenciária de Joinville.

Os ocupantes

Dois funcionários contratados da operadora da aeronave estavam no voo: o piloto, Antônio Mário Franco Aguiar, de 57 anos, e o auxiliar de pista, Bruno Siqueira, de 20. Ambos morreram no local. Bruno trabalhava na Avalon há três meses e costumava a ajudar o piloto a abrir e fechar as portas da aeronave e raramente voava com o colega de trabalho.

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Além deles os contratantes do serviço Daniel da Silva, de 18 anos, e Ivan Alexsander Zurman Ferreira, de 24, também embarcaram. Daniel sobreviveu ao acidente e segue internado no Hospital São José, em Joinville. Ivan morreu na tragédia e foi o último a ser identificado pelo Instituto Geral de Perícias (IGP), uma semana depois do acidente.

De acordo com a polícia, Daniel e Ivan são suspeitos de terem sequestrado a aeronave durante o voo, ainda por motivação desconhecida. O primeiro deles tem passagens pela polícia por tráfico de drogas e dano ao patrimônio. Ele teve o auto de prisão em flagrante decretado pela Polícia Federal, mas ainda não foi ouvido em decorrência da situação de saúde.

Investigação de sequestro

No dia da queda a Polícia Civil de Joinville confirmou que a aeronave teria entrado no espaço aéreo de Joinville sem informar o plano de voo à torre de controle. Afirmou ainda que a aeronave teria sido sequestrada. Além disso havia a hipótese de tomada ilícita do controle do helicóptero com o voo em curso, o que motivou o repasse da investigação à Polícia Federal.

O acesso dos suspeitos à aeronave

As informações repassadas pela Polícia Federal revelam que o sobrevivente Daniel da Silva e Ivan Ferreira entraram em contato com a Avalon Táxi Aéreo na quarta-feira para saber informações para um serviço de fretamento. O objetivo da dupla era fazer um voo de aproximadamente 50 minutos para sobrevoarem um terreno em Joinville.

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Já na quinta-feira, os dois foram até o posto da empresa, que fica no parque de diversões, e fizeram o fretamento. Foram pagos R$ 3,1 mil em dinheiro. Eles chegaram no local a bordo de um Honda Civic, conduzido por uma terceira pessoa, que não teve a identidade revelada pela polícia. Um possível envolvimento do motorista com o caso também não foi confirmado até o momento.

As linhas de investigação

A PF ainda não afirma o que de fato ocorreu durante o voo que culminou na queda do helicóptero. A informação é de que várias diligências estão em curso e apurando todas as possibilidades até que uma delas se confirme. A expectativa é de uma resposta breve para explicar as circunstâncias que levaram à queda. Ao todo, desde o acidente, mais de dez pessoas já prestaram depoimento. Uma das hipóteses levantadas é que o objetivo final da ação seria ajudar a fuga de um detento sob alcunha de “Calango”, do Sistema Prisional de Joinville. A suspeita é investigada e não foi confirmada ou descartada até esta quarta-feira (21).

X da questão

Apesar de a Polícia Federal não abrir detalhes sobre à apuração da hipótese de tentativa de uso da aeronave para resgate de um detento, a Secretaria de Segurança Pública de Santa Catarina transferiu nos últimos dias quatro presos de Joinville para a penitenciária Sul de Criciúma. Entre eles, o traficante Paulo Henrique Artmann dos Santos, o Calango, condenado a 15 anos de prisão, que deverá permanecer por um mês na cadeia do Sul do Estado. Em interrogatório, ele teria ficado em silêncio.

Coleta de vestígios

Segundo a Polícia Federal, o piloto Antônio Aguiar e o passageiro Daniel estavam na parte da frente da aeronave, enquanto o auxiliar de voo Bruno e Ivan estavam atrás. Outra informação levantada pela polícia é de que a empresa responsável pela aeronave não percebeu a atitude suspeita vinda dos contratantes do serviço. Durante perícia realizada no local da queda, os peritos recolheram também as duas armas que estavam no helicóptero: um revólver que ficou completamente queimado e passará por perícia, e uma pistola fabricada no Brasil, que havia sido exportada para órgãos de segurança do Paraguai. A suspeita é de que ela foi extraviada em algum momento e acabou parando na posse de alguém dentro do helicóptero.

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Ainda falta ser esclarecido pelo PF, por exemplo, se o piloto realmente emitiu código para a empresa ou à torre de controle informando alguma atitude ilícita durante o percurso no ar. Até o dia 20, o Segundo Centro Integrado de Defesa Aérea e Controle de Tráfego Aéreo (Cindacta-2), em Curitiba, ainda não havia encaminhado resposta direta para a solicitação da polícia.

O que dizem os laudos

Foram extraídas partes da aeronave, objetos e feitas fotografias para análise. Esses materiais vão servir de apoio para as perícias técnicas, que devem indicar o que de fato ocorreu no helicóptero. Essa conclusão pericial ainda pode levar meses. Em paralelo, dois investigadores do 5o Serviço Regional de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Seripa V) fazem diligências no local. O órgão, que representa regionalmente o Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos (Cenipa), visa a apurar as causas da queda com o objetivo de prevenir que novos acidentes com as mesmas características ocorram. O Instituto Geral de Perícias (IGP) já havia verificado o local ainda na quinta- feira, 8, quando recolheu os corpos dos três mortos. Dias depois, o órgão confirmou as identidades das vítimas e efetuou a liberação dos corpos. O instituto realizou ainda exames de raio-x e nenhum dos três homens tinha perfuração de bala. Apesar da não detecção de projétil nas vítimas, não está descartada a possibilidade de disparo de arma de fogo antes de o helicóptero atingir o solo.

Reforço na segurança aérea

Ao jornalista a NSC Comunicação, Diogo Vargas, autoridades ligadas à Segurança Pública fomentaram nesta semana a discussão sobre a necessidade de criar medidas de prevenção e reação diante de casos de apoderamento de aeronaves por bandidos. Este foi o primeiro episódio do gênero, no Estado. Piloto e delegado da Polícia Civil, o delegado Eduardo André Senna afirma que o crime em Joinville foi uma situação diferenciada e emblemática para que as polícias se reúnam com a coordenação de tráfego aéreo em busca de ações integradas. O secretário da Justiça e Cidadania, Leandro Lima, destaca que a vigilância da unidade tem armamento pesado (fuzil) e o utilizaria se fosse necessário. Lima diz ainda que não seria possível o pouso do helicóptero, o que dificultaria o plano dos bandidos, caso a suspeita se confirme. Já o diretor da Diretoria Estadual de Investigações Criminais (Deic), delegado Anselmo Cruz, considerou o fato amador pelos criminosos e não crê que fosse possível o resgate. Também se manifestou o comandante-geral da Polícia Militar catarinense, coronel Araújo Gomes. “Houve uma preocupação do secretário de Segurança (Alceu de Oliveira Pinto Júnior) em montar um protocolo de como reagir de maneira conjunta, as medidas que devem ser tomadas. Esse meio extremo usado com helicóptero mostra um desespero do crime e, na minha opinião, demonstra também que as forças estaduais devem se mobilizar”, justifica.