Ainda internado sob custódia policial no Hospital Santa Lúcia, em Cruz Alta, Elissandro Spohr, o Kiko, um dos sócios da boate Kiss, em Santa Maria, falou publicamente pela primeira vez, ao repórter Giovani Grizotti, da RBS TV, para o Fantástico. Em um vídeo gravado por celular pelo advogado, Jader Marques, ele falou sobre a lotação, o alvará e outras questões relacionadas ao incêndio do último domingo. Pontuando o depoimento, o Fantástico apresentou contestações a afirmações do sócio da Kiss.
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A tragédia
“A pergunta que eu mais tenho medo é essa: ‘O que dizer aos pais?’ Eu não sei o que dizer.”
A lotação da casa
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“Nessa noite, eu lembro que na entrada, e geralmente eu entro e pergunto, ‘E aí, como é que tá?’, ‘Tá bom, tá razoável, deve ter umas 700 pessoas’. Entrei lá pra dentro e realmente acredito que tinha perto de 600 a 700 pessoas. E a capacidade da casa, eu nunca tive informação. Eu não sou um perito, eu não sou… Eu não fiz legislação, eu não sou estudado nisso”, disse Kiko.
Em alguns dos mais de 30 depoimentos colhidos pela polícia, diversas testemunhas citaram a superlotação da casa.
O momento do fogo
“Saí já gritando ‘abre, abre tudo que é sério!’. Eu mesmo abri as portas, inclusive. E as pessoas em vez de ter saído e aberto ficaram na frentre da boate, atrapalhando, ainda.”
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Uso de fogos pela banda
“A banda nunca falou comigo sobre isso. Eu nunca autorizei isso. Fazem dois anos, eu acho, que a banda toca lá. Eu vi no mínimo 30 shows deles. Eles nunca fizeram isso, nem na Kiss. Vi também shows deles em outros lugares, eles também nunca usaram isso. Se eu soubesse que ia usar isso, eu não deixaria usar”, justificou.
Durante o Fantástico, foram exibidas imagens que comprovariam o uso de fogos em outras ocasiões dentro da própria Kiss. As investigações da polícia dão conta de que o grupo Gurizada Fandangueira era conhecida pelos shows pirotécnicos.
O alvará da Kiss
“Quando eu entrei de sócio na boate, quando eu fui comprar a boate, a boate já estava em funcionamento com alvará de bombeiro, tudo. Eu só renovava. Um ano eu renovei, os bombeiros estiveram lá, detectaram que as minhas portas, que eram já dessas de incêndio, que bate e abre, estavam ultrapassadas. Foi o que eles me disseram. E me indicaram uma empresa chamada Hidramix, que era de um antigo colega deles, que fazia todo esse sistema operacional pra mim. Quando veio uma notificação, imediatamente eu pedi que o meu cunhado Ricardo e a minha irmã fossem até os bombeiros e encaminhassem a papelada pra nós deixar tudo em dia.”
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A colocação da espuma
As reclamações de vizinhos contra o barulho produzido pelas festas na boate exigiram uma reforma para melhorar o isolamento acústico da casa. Sobre isso, Kiko Spohr citou um engenheiro, identificado como Miguel Ângelo Pedroso.
“As opções eram: gesso ou espuma. A espuma, eu achava horrível, muito feio. Eu optei pelo gesso. Porém continuou o barulho. Eu voltei a chamar o Pedroso, pra gente trocar uma ideia, ver o que fazer. A gente botou espuma e madeira por cima. Concreto. E aí, por fim, espuma. Eles queriam que eu botasse espuma em toda a boate. Mas até que não precisou botar em toda a boate. Eu botei só no palco”, revelou Kiko.
Também entrevistado no programa, o engenheiro se defendeu:
“Eu tenho uma quantidade grande de projetos de acústica e de laudos acústicos e jamais, nenhum projeto, em nenhum laudo acústico, eu aconselhei a usar espuma de borracha”, disse Pedroso.
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O sonho de ser dono da Kiss
“Eu entrava dentro da Kiss e cumprimentava todo mundo. Todo mundo me conhece, todo mundo sabe o quanto eu batalhei. Eu sempre me preocupei em ter uma coisa que eu pudesse realizar e eu estava vivendo um sonho. Eu nunca tive uma vida tão boa. E acabou.”

