Mais de 30 testemunhas relacionadas à tragédia da danceteria que se incendiou em Santa Maria foram ouvidas pela Polícia Civil nos dois últimos dias. Os depoimentos convergem num sentido: falhas de segurança, inclusive na orientação para evitar que qualquer pessoa deixasse a boate sem entregar a comanda. Isso se revelou fatal no domingo, quando o fogo irrompeu no recinto fechado.

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Um dos que prestou depoimento à polícia é um ex-chefe da segurança da Kiss, que trabalhou lá durante dois anos. Em entrevista a Zero Hora, ele disse que a orientação dos donos da boate – no caso, Elissandro Spohr, o Kiko – era fechar as portas e não deixar alguém sair antes de pagar a despesa. Se houvesse uma briga, os seguranças só deixavam os brigões saírem depois que pagassem o que fosse devido.

– Isso resultou em inúmeras confusões, porque muita gente tentava escapar da pancadaria e nós éramos obrigados a impedir que saíssem – disse.

O mesmo segurança relata que as festas eram sempre abarrotadas de gente. Em shows como Papas da Língua e Reação em Cadeia, por exemplo, a lotação da Kiss teria ultrapassado 2 mil pessoas, segundo ele. A capacidade autorizada para a Kiss, conforme o Corpo de Bombeiros, é de 691 pessoas.

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O ex-funcionário disse que teria avisado Kiko: “vamos parar de colocar gente, está muito cheio”. A resposta, segundo ele, teria sido: “você não tem nada a ver com isso: cuida da porta que a gente cuida de ganhar dinheiro”.

O segurança contou ainda que uma vez aconteceu um princípio de incêndio na cozinha e nenhum dos extintores teria funcionado. Os funcionários conseguiram apagar o fogo usando panelas com água.

Uma outra ex-funcionária, uma promoter, disse aos policiais que a Kiss estaria em nome de duas familiares de Kiko “para evitar problemas com a Justiça”. Ela também afirmou que a casa estava sempre superlotada.

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O segurança e a promoter disseram, no depoimento, que Kiko teria se envolvido em várias brigas dentro da boate. Na ficha policial do empresário há registro de duas ocorrências registradas contra ele, por clientes, por agressão. Já o outro sócio da Kiss, Mauro Hoffmann, o Maurinho, foi investigado por estelionato, nos anos 90.

A tragédia

O incêndio na boate Kiss, no centro de Santa Maria, começou entre 2h e 3h da madrugada de domingo, quando a banda Gurizada Fandangueira, uma das atrações da noite, teria usado efeitos pirotécnicos durante a apresentação. O fogo teria iniciado na espuma do isolamento acústico, no teto da casa noturna.

Sem conseguir sair do estabelcimento, mais de 200 jovens morreram e outros 100 ficaram feridos. Sobreviventes dizem que seguranças pediram comanda para liberar a saída, e portas teriam sido bloqueadas por alguns minutos por funcionários.

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A tragédia, que teve repercussão internacional, é considera a maior da história do Rio Grande do Sul e o maior número de mortos nos útimos 50 anos no Brasil.

Veja onde aconteceu

Imagem: Arte ZH

A boate

Localizada na Rua Andradas, no centro da cidade da Região Central, a boate Kiss costumava sediar festas e shows para o público universitário da região. A casa noturna é distribuída em três ambientes – além da área principal, onde ficava o palco, tinha uma pista de dança e uma área vip. De acordo com o comando da Brigada Militar, a danceteria estava com o plano de prevenção de incêndios vencido desde agosto de 2012.

Clique na imagem abaixo para ver a boate antes e depois do incêndio

A festa

Chamada de “Agromerados”, a festa voltada para estudantes da Universidade Federal de Santa Maria (UFSM) começou às 23h de sábado. O evento era de acadêmicos dos cursos de Agronomia, Medicina Veterinária, Tecnologia de Alimentos, Zootecnia, Tecnologia em Agronegócio e Pedagogia. Segundo informações do site da casa noturna, os ingressos custavam R$ 15 e as atrações eram as bandas “Gurizadas Fandangueira”, “Pimenta e seus Comparsas”, além dos DJs Bolinha, Sandro Cidade e Juliano Paim.

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