Na última vez em que havia sido visto publicamente, Marcos Antônio de Queiroz ainda era considerado foragido, mas exibia uma expressão firme e chamava atenção pelas roupas de grife quando foi detido em agosto do ano passado, em Indaiatuba (SP).

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Ao comparecer no Fórum de Joinville nesta quinta-feira, para a primeira das audiências do processo movido contra ele e outros seis réus, Queiroz não parecia o mesmo: mais magro e vestindo um uniforme prisional alaranjado, o réu não escondia a expressão abatida enquanto era escoltado por agentes penitenciários até a sala de audiências.

Com marca-passos nos pés, Marcos Queiroz também teve de usar algemas nos percursos de entrada e saída do Fórum. Por momentos, Queiroz ficou de frente para os quatro delegados que conduziram a investigação do golpe milionário e falavam na condição de testemunhas.

Só que o acusado teve de permanecer em silêncio e apenas poderá se manifestar quando for agendado seu próprio interrogatório. Ao promotor Francisco de Paula Neto, responsável pela acusação, os delegados Fábio Fortes, Zulmar Valverde, Adriano Boni e Priscilla Cemin deram detalhes sobre como a investigação teve início e o que se descobriu durante a apuração.

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Valverde reforçou a convicção da polícia de que o esquema chefiado por Marcos Queiroz se caracterizava como quadrilha por envolver a mulher dele, Ana Cláudia Queiroz, e outros funcionários. Ana Cláudia não compareceu à sessão.

Dos outros cinco ex-funcionários do Grupo Marcos Queiroz denunciados, somente Alexandre Duhring, Sirlaine Damaris Dias e Jéssica Samara Lopes também estiveram presentes na audiência. Os advogados de Santelino Izidoro Júnior e Susy Ribeiro pediram a dispensa deles.

Além dos delegados, uma ex-funcionária do material de construção tocado por Queiroz no bairro Vila Nova também prestou depoimento. Lúcia de Souza afirmou ter trabalhado por apenas duas semanas no estabelecimento, antes dos saques ocorridos nos dois materiais de construção.

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Ela disse ter feito contato direto apenas com Marcos Queiroz e Jéssica Lopes durante a experiência – Jéssica era gerente dos pontos comerciais. Conforme Lúcia, dias antes de o caso vir à tona, os funcionários percebiam a retirada frequente de materiais de construção em caminhões, levados para locais incertos.

Perguntada se, durante aquele período, alguém desconfiava que tudo pudesse ser parte de um golpe, a ex-funcionária respondeu que não.

Os advogados Marcelo Galli Santana e Hélio Rubens Brasil, representantes de Marcos Queiroz e Ana Cláudia Queiroz, repetiram a mesma pergunta aos quatro delegados convocados a depor: o que sabiam sobre um e-mail anônimo que circulou entre funcionários do Grupo Marcos Queiroz e despertou desconfiança sobre a intenção de ser praticado um golpe.

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Na avaliação dos advogados, a origem da mensagem foi um estopim de todos os acontecimentos e precisa ser esclarecida.

-Uma mensagem anônima nunca tem boa intenção. Poderia ser alguém interessado em frear as vendas, em prejudicá-lo. Foi aquilo que causou toda a repercussão e deu força às ações contra o negócio-, afirmou Santana à reportagem.

Em depoimento, os delegados afirmaram ter conhecimento sobre o e-mail, mas todos disseram não ter confirmado a origem da mensagem. O e-mail foi lembrado porque, no começo das investigações, funcionários afirmaram que a rede interna de quem trabalhava para Queiroz recebeu um aviso anônimo de que os negócios do grupo caminhavam para um golpe.

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Questionado sobre a mensagem, Queiroz convocou uma reunião para o dia seguinte com os profissionais, mas não apareceu e deixou a cidade.

Após a audiência desta quinta-feira, os representantes de Queiroz também apontaram como positiva a confirmação de que outros advogados se apresentaram numa delegacia de Joinville, em nome de Marcos Queiroz, antes que ele fosse preso.

-É mais uma evidência de que ele não queria fugir, apenas manter sua integridade física. Ele já buscava esclarecer as circunstâncias, mas o clima na cidade era de tensão-, reforça Hélio.

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Como os pedidos de habeas corpus têm sido negados, os advogados contam com a possibilidade de que, encerradas as audiências, a prisão de Marcos Queiroz seja relaxada pela Justiça. Conforme os advogados, a iniciativa de comparecer à audiência partiu do próprio Queiroz.

O caso

O chamado Grupo Marcos Queiroz mantinha uma imobiliária e dois materiais de construção em Joinville. O grande atrativo da empresa era a venda de seis edifícios na planta. Mais de 300 apartamentos foram vendidos, com entradas que passavam de R$ 30 mil por unidade.

Os materiais de construção também eram conhecidos por praticar preços abaixo do mercado. A propaganda indicava que o grupo aproveitava os próprios materiais de construção para tocar as obras nos investimentos. Mas somente um prédio começou a ser erguido, parcialmente, e as licenças dos demais imóveis nunca saíram.

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Com a repercussão de que Queiroz supostamente havia aplicado um golpe e já estava fora da cidade, clientes e compradores dos imóveis saquearam os dois materiais de construção na tentativa de minimizar prejuízos. Marcos Queiroz foi preso semanas mais tarde no interior paulista. Ele, a mulher, e cinco ex-funcionários foram denunciados por estelionato, quadrilha e outros crimes.