O despacho do juiz federal Sergio Moro, que autorizou a sétima etapa da Operação Lava-Jato com a prisão de executivos e funcionários de grandes empreiteiras do país, respingou no Rio Grande do Sul.
Continua depois da publicidade
Ao apontar as relações de funcionários da construtora OAS com Alberto Youssef, de acordo com dados da investigação policial usados para embasar sua decisão, o magistrado citou a existência de trocas de mensagens pelo celular entre o doleiro e o funcionário da empresa José Ricardo Nogueira Breghirolli, preso na última sexta-feira, que indicavam a entrega de remessas de dinheiro em Porto Alegre.
Leia todas as notícias sobre a Operação Lava-Jato
Leia todas as últimas notícias de Zero Hora
São essas conversas que levaram a Polícia Federal a fazer, em março passado, buscas nas residências do jornalista e marqueteiro Marcos Martinelli e do engenheiro Eduardo Antonini, ambas na Capital. ZH teve acesso aos diálogos interceptados, que constam nas milhares de páginas do inquérito da Lava-Jato, operação na qual os gaúchos não foram indiciados.
Continua depois da publicidade
As escutas tratam das remessas destinadas aos endereços de Martinelli e Antonini, em valores que seriam de R$ 66 mil e R$ 500 mil, respectivamente. As buscas pretendiam localizar o dinheiro, o que não se confirmou. A troca das 81 mensagens ocorreu em quatro dias entre fevereiro e março, interceptadas do celular de Youssef, que aparece com o codinome Primo.
Nos diálogos, o doleiro conversa com um contato identificado por “JRicardo”, apontado no despacho do juiz Sergio Moro como sendo José Ricardo Nogueira Breghirolli. A decisão do magistrado relata que “trocas de mensagem indicam que Breghirolli era o responsável, junto à OAS, pelos contatos e negócios com Alberto Youssef, inclusive para remessas fraudulentas ao Exterior”.
Às 14h33min da quarta-feira, 26 de fevereiro, Youssef e o funcionário da empreiteira combinaram a entrega, por um subordinado do doleiro, de R$ 66 mil no bairro Santa Tereza, em Porto Alegre. Foi Breghirolli que repassou o endereço de Martinelli.
Após, ele orientou: “Procurar Martinelle. Total=66”. Ao final da tarde, Breghirolli buscou novidades sobre o encontro e disse estar ansioso para saber o horário, já que precisava avisar um amigo. “Te dou o horário mais tarde”, respondeu Youssef, que em seguida confirmou estar “tudo certo para o dia seguinte”.
Continua depois da publicidade
CONVERSA TERMINOU COM ORDEM E RISADA
Na quinta-feira, 27, o doleiro informou que houve um pequeno atraso no voo, mas às 16h59min avisou que o intermediário chegou a Porto Alegre e que seguia “a caminho da reunião”. Às 19h22min, Youssef relatou a José Ricardo que estava “tudo ok”.
Já na sexta-feira, 7 de março, Youssef e o funcionário da OAS voltaram a trocar mensagens, desta vez para acertar a entrega de R$ 500 mil no bairro Três Figueiras. Breghirolli questionou: “confirmar PoA na segunda?”, mas recebeu a orientação de agendar o encontro para terça.
Ele alertou, porém, que deveria “ser até o meio-dia”. Em seguida, não citou o nome de Eduardo Antonini, apenas repassou o endereço do engenheiro junto com o valor “500”. Ainda fez um alerta: “Até meio dia!!!! Sem atraso”. Youssef respondeu “você manda. Kkkkk”.
CONTRAPONTOS
O QUE DIZ MARCOS MARTINELLI
Diz que não conhece e nunca manteve contato com o doleiro Alberto Youssef e o funcionário da OAS José Ricardo Nogueira Breghirolli. Também destaca que sua área de atuação profissional é o marketing, sem contratos firmados com a Petrobras.
Continua depois da publicidade
– Não conheço nenhum doleiro, não tenho operação com Petrobras. Não trabalho com usina ou refinaria – diz.
Martinelli reforça que o pedido de busca e apreensão executado pela Polícia Federal em sua casa, em março, no qual não foi encontrado dinheiro, estava no nome de outra pessoa. À época, ele viajava a trabalho para Roraima. Retornou ao Estado e se apresentou à Polícia Federal.
– Forneci as declarações pedidas e não estou citado nem intimado.
Destaca que, desde março, não foi mais procurado por responsáveis pela investigação. Informa que, a cada mês, tira uma certidão na Justiça Federal na qual comprova que não há condenações em seu nome. Diz que o fato de ter sido relacionado ao esquema, sem comprovação, implicou prejuízo a sua imagem.
O QUE DIZ EDUARDO ANTONINI
O engenheiro afirma que jamais teve contato com o doleiro Alberto Youssef e que não mantinha vínculos com o funcionário da OAS José Ricardo Nogueira Breghirolli. Destaca que, em março, após busca feita em sua casa, na qual não foi encontrado dinheiro, prestou todas as informações solicitadas à Polícia Federal:
Continua depois da publicidade
– Não fui indiciado porque não havia nenhum indício – frisa.
Segundo Antonini, seu nome não aparece na investigação da Polícia Federal, o que consta é só seu endereço, sendo que foi preciso realizar uma consulta à CEEE para saber quem era o dono do imóvel.
Antonini reforça que teve a imagem prejudicada por ter seu nome relacionado à Operação Lava-Jato, ligação não comprovada pelas autoridades.
Sobre José Ricardo Nogueira Breghirolli, preso na última etapa da Operação Lava-Jato, Antonini ressalta que o funcionário da construtora OAS nunca teve qualquer relação com ele e com o projeto de construção da Arena do Grêmio, do qual o engenheiro fez parte.