O último inventário da Ethnologue, o maior compêndio de idiomas do mundo, catalogou 7.097 línguas vivas – cinco a menos em relação ao ano passado. Estima-se que no século 21 pelo menos 500 línguas desaparecerão, muitas graças ao inglês, a linguagem da internet. Com a extinção dessas línguas, perde-se também parte da história do mundo e dos povos que já o habitaram. Se depender do jornalista de Biguaçu, Ozias Alves Jr, no entanto, pelo menos os dialetos minoritários ainda falados no Brasil resistirão, mesmo que na forma de livro de história.
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Ele acaba de lançar sua quinta obra, Parlons Uchinaaguchi/ Okinawa-gô, um estudo sobre a língua do arquipélago de Okinawai e hoje falado predominantemente – pasme! – em São Paulo. As ilhas formavam um país independente até 1879, quando foram anexadas ao Japão e seu último rei exilado. Na época, o governo impôs o idioma japonês. Com os imigrantes que chegaram ao Brasil a partir de 1906, entre eles muitos okinawanos, o idioma uchinaaguchi continua vivo na comunidade japonesa da capital paulista.
Parlons (falamos, em francês) é uma coleção da editora L´Harmattan, de Paris, com 207 livros publicados sobre línguas minoritárias de todo o planeta. O objetivo da editora é catalogar todos os idiomas existentes. Alves Jr contribuiu com cinco obras, três delas de idiomas falados em Santa Catarina: Parlons Hunsrückisch (2013), Parlons Talian (2013) e Parlons Xokleng (2014).
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– Cada língua é uma aventura. Alguns povos têm milhões de habitantes e outros apenas 500 falantes.
O jornalista fala inglês, francês, italiano e vai voltar para a faculdade de Letras – Alemão. Em 2004, ele conheceu um professor de Florianópolis que estudou nada menos que 125 línguas. Escreveu então uma reportagem premiada sobre ele, e de fonte o professor passou a amigo e inspiração. Foi na biblioteca de referência dele que encontrou um dos livros da coleção Parlons.
Na época, Ozias já tinha pronto um livro de 600 páginas sobre a história de Biguaçu e o Hunsrückisch, dialeto alemão falado na região do Hunsrück, no sudoeste da Alemanha, e em algumas regiões de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Paraná e Espírito Santo. No município de Antônio Carlos, localidade emancipada de Biguaçu, tornou-se língua oficial desde 2010.
– O Hunsrückisch não tinha escrita e o livro Parlons foi a primeira compilação da gramática da língua – diz Alves Jr.
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Idioma dos povos nativos
A primeira contribuição de Ozias para a coleção Parlons foi sobre Nheengatu, língua derivada do tronco linguístico tupi e falada nas regiões amazônicas da América do Sul. Ele estava pesquisando sobre os tupiniquins e no livro, além de léxico e gramática, conta também parte da história do Brasil no século 16.
– Nos séculos 18 e 19 vieram muitos colonizadores de Portugal e o português virou a língua do Brasil. Os últimos falantes de nheengatu são do século 19 em São Paulo – conta.
Os livros são divididos em cinco partes: história do povo, gramática da língua, conversação e primeiras lições, cultura (literatura, dança, música) e léxico francês – língua, língua – francês.
Por que as obras são publicadas em francês e não em português? A resposta é simples. Alves Jr simplesmente não consegue publicar no Brasil.
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– Na França, se a editora gosta da obra, banca a publicação e paga os direitos autorais. Até quero ir lá ver se com o cachê consigo comprar um bom perfume – brinca.
Para comprar os livros: http://leiadc.sc/parlon