Adeus, Salim
A morte de Salim Miguel, na última sexta, fez deste 2016 um ano ainda mais cinza: menos uma letra na linha do tempo da escritura. Embora Nur na escuridão seja seu livro mais famoso, meu favorito é Mare nostrum, romance desmontável, de 2004, pela força das inúmeras histórias, a maioria à beira do mar da Grande Florianópolis. Pescadores, rendeiras, o louco da praia, o negro Ti Adão, o eremita e os manezinhos fizeram deste livro um retrato universal de toda a mitologia que cerca o mar. ¿Sempre fui fascinado pelo mar e sempre fiz questão de residir próximo a ele¿, afirmou certa vez o autor. Com este livro, Salim deixou um monumento para sua paixão.
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2 de maio: o dia C
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Em 2015 a Clarice Lispector teve todos os seus contos reunidos pela primeira vez, mas pelas mãos de uma editora norte-americana: a edição figurou na lista dos livros mais importantes do ano do jornal The New York Times e abocanhou o Pen Translation Prize 2015. Mas a espera brasileira chegou ao fim: a partir de 2 de maio as livrarias receberão Todos os Contos (Rocco, R$ 69,90, 656 páginas), com primorosa organização do biógrafo Benjamin Moser, autor de Clarice. Agora será possível mergulhar nos seus primeiros escritos, ainda na adolescência, e nas últimas linhas desta autora que produziu contos (e romances) emblemáticos da literatura em língua portuguesa. O projeto gráfico é o mesmo da edição americana: uma belezura.
Um Stevenson inédito
A editora Carambaia acaba de colocar em pré-venda Viagem com um Burro pelas Cevenas (141 páginas, R$ 79), segundo livro escrito por Robert-Louis Stevenson (1850-1894) e obra inédita no Brasil. Famoso por A ilha do tesouro e O médico e o monstro, Stevenson faz um pitoresco diário narrando a travessia – acompanhado de uma jumenta, a quem chama de Modestine – pela cadeia montanhosa das Cevenas, no sul da França.
A aventura, ritmada sobretudo pelo humor da teimosa Modestine, durou doze dias: de 22 de setembro a 3 de outubro de 1878. A narrativa cruza vilarejos carregados de história, cenários de batalhas das guerras protestantes do início do século 18, albergues e abadias. A edição especial, de mil exemplares numerados, conta com um posfácio assinado pelo francês Gilles Lapouge e é revestida por um material que simula a pele de um burro. A disposição do texto – alinhado apenas pelas margens, sem quebra de parágrafos – recria o universo visual do percurso. Mais uma pequena joia da Carambaia, já apontada como a nova Cosac Naify pelo primor de suas edições.
Bell em São Paulo
O livro Lindolf Bell – 50 Anos de Catequese Poética (Patuá, 200 páginas, R$ 30) terá seu primeiro lançamento em São Paulo, amanhã (28), a partir das 19 horas, na Patuscada Livraria e Café. O movimento, criado em 1964 (em plena ditadura) por Bell, levava a poesia às ruas por meio de recitais nas praças, ruas, viadutos, escolas e universidades. Com organização do poeta Rubens Jardim, o livro-antologia dá espaço para os poetas menos conhecidos do movimento e reafirma o papel visionário de Bell. Depoimentos de escritores e críticos como Affonso Romano de Sant¿Anna, Renata Pallottini, Carlos Felipe Moisés, Péricles Prade e Carlos Soulié do Amaral são um dos destaques da edição. As comemorações dos 50 anos da Catequese Poética começaram em maio de 2014, e durante o ano de 2015 o livro teve lançamentos em Balneário Camboriú, Timbó, Florianópolis, Belo Horizonte e Goiânia. Agora chegou a vez da capital paulista, onde tudo começou.
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