Romero Rodrigues é presidente da Buscapé Company e membro do conselho de administração da Neogrid, entre outros cargos que ocupa. É uma das principais lideranças do meio digital do País e possui vínculos profissionais com expoentes do setor mundo afora.
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Fez palestra de 40 minutos sobre “A cultura do fracasso” no lançamento do Prêmio Joinville de Inovação, realizado na Acij no dia 22 de agosto. A texto abaixo une o conteúdo da sua fala, e entrevista exclusiva, de 65 minutos, realizada no mesmo dia, no restaurante do Hotel Tannenhoff. Afirma que o município de Joinville tem caractarísticas capazes de torná-lo uma das cinco cidades digitais do País.
>> Saiba como foi a vinda da Buscapé para Joinville em 2012
Empreendedores
– Os empreendedores têm de ter três características comportamentais:
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1- resiliência (dispostos a receber seguidos “nãos”, até conseguir uma resposta afirmativa para seus planos e suas ideias.
2- consistência: abrir um negócio próprio é um sonho e deve ser dividido com os sócios.
3- fracasso: tem de estar preparado e flertar com o fracasso, e desafiar o status quo.
O começo
– A Buscapé Company atua em toda a cadeia de negócios digitais. No início, com software pronto, visitamos várias lojas perto de casa. Há 15 anos, ninguém falava preço de mercadorias por telefone. Aí, não deu certo. E a empresa “morreu” pela primeira vez. Depois de muitas tentativas, em 1º de junho de 1999 colocamos o site para operar.
Não atenda ao telefone
– Aviso aos empreendedores iniciantes: quando você é pequeno e o telefone tocar, não atenda. Sempre é problema. 2001 foi o ano da bolha da internet e… novo fracasso. No ano seguinte, decidimos fechar a empresa se não atingíssemos o resultado previamente definido. Em setembro daquele ano conseguimos o ponto de equilíbrio econômico-financeiro e fomos adiante.
– Compreendemos que o poder do consumidor deve ser total: é a essência do negócio da Buscapé. Ter uma ideia boa só se justifica se ela for implementada.
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Pilares
– A inovação é um dos três principais desafios das companhias. Os outros dois são a manutenção da cultura, e atrair e manter talentos. O ativo real é o talento humano que você tem na empresa. A cultura passa por três fatores: comunicação clara, transparência e respeito. Um profissional talentoso quer, primeiro, autonomia e ter a chance de trocar conhecimentos para aumentar o aprendizado.
Os melhores
– Um bom profissional quer trabalhar com outro pelo menos do mesmo nível de qualidade. Neste caso, empresas pequenas podem estar na frente. A razão é simples: os melhores querem deixar legado.
Fracasso
– A inovação tem de estar na base da organização. É comum que, com o crescimento, os empresários se afastem do consumidor. Isso é problema. Nesta hora, o time não pode ter medo do fracasso. No Brasil, o fracasso é terminal. Não deveria ser tão pesado. O medo tira do foco. A dor da escolha errada é três vezes maior do que a da escolha certa.
Premiar experiências
– A inovação precisa de percepção e, aí, de movimento, de ação. A cultura corporativa deve permitir o fracasso. É necessário premiar as experiências. Lembre: não é o mais forte quem sobrevive, e sim, aquele que melhor se adapta às mudanças. Você deve se permitir ao fracasso.
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Adiados
– Em um momento de baixa atividade econômica, projetos de tecnologia são adiados em razão das incertezas. Por isso, é importante promover a inovação no dia-dia, com a equipe que você tem.
Reputação
– 80% das ofertas de varejo tinham serviços ruins. Isso é inadmissível. No Buscapé, há, agora, metade das lojas que havia há 18 meses. Nos primeiros cinco anos de nossos negócios, o cliente queria preço. Agora ele quer conveniência. Hoje, ter reputação é mais importante do que a marca. É fundamental atender o cliente em prazo de entrega e em promessas feitas. O click vai para a loja com preço justo; não necessariamente para a loja com o menor preço.
Escolhas
– É essencial escolher quem é seu competidor. Brigue com quem é parecido contigo. E foque na prestação de serviços.
Indústria
– A indústria tem pouca tolerância ao erro e as grandes empresas podem arriscar menos, agindo, então, no sentido de fazer aquisições. A indústria nacional precisa flertar mais com o fracasso.
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Rápido
– O que foi decisivo para nós é que aprendemos rápido a fazer o que era necessário. Os empreendedores devem saber que parte do conhecimento pode ser complementada com uma equipe talentosa. Bem no começo de nossa história, “peitamos” um varejista que queria nos processar. Não tínhamos ainda CNPJ.
Diferencial
– Três fatores nos ajudaram a encontrar o sucesso: a sorte de acharmos o “timing” certo de entrar no mercado de tecnologia, a consistência – não nos seduzimos a fazer mais coisas do que fizemos – e o projeto não começou pensando em investimentos. Hoje, uma loja com negócio de R$ 50 é melhor para nós do que outra, de R$ 1 milhão, há 15 anos.
Melhor hora
– Até pouco tempo, o consumidor preferia comprar via internet nas segundas-feiras ao meio-dia. Agora o processo de compra ocorre no final de semana. Um terço dos nossos usuários compra via celular. Aí, o pico de uso é aos sábados e domingos, entre 14 e 20 horas. Ele já resolve no próprio shopping alguma dúvida. O site “bomba” às segundas-feiras.
Compra assistida
– As compras no mundo físico serão auxiliadas por um assistente de compras digital. Será pelo celular que se farão as compras. O varejo que se moderniza vai deixar de ser um “tirador de pedido” para se tornar um consultor a orientar os clientes. Já há redes fazendo isso.
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Patentes
– O Brasil ainda engatinha quando o assunto é pesquisa e desenvolvimento de patentes. A patente de processos é a mais importante e não está bem definida na legislação brasileira. A Google comprou a Motorola só por causa das 5 mil patentes que tinha para manter o Android. Pagaram bilhões de dólares.
Exemplos de sucesso
– Empresários jovens bem sucedidos? Leonardo Simão, da BB Store. Na minha raiz (Datasul), Miguel Abuhab (hoje com a Neogrid) e Laércio Cosentino (Totvs). O que a Natura construiu é impressionante com sua forte marca.
Joinville
– Talentos e infraestrutura são vetores que possibilitam campo fértil para uma cidade se consolidar como cidade digital. Joinville tem potencial a ser explorado. É importante destacar os talentos humanos que tem. A pluralidade dos negócios e da economia se assemelha a poucas cidades brasileiras.
Polo digital
– A favor de Joinville, ainda, há o ambiente empreendedor e uma indústria de TI, que já formou muitos engenheiros, há mais de 20 anos. Joinville tem muitas possibilidades de se tornar um polo de tecnologia significativo.
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– Florianópolis tem requisitos para o empreendedorismo como um todo. Campinas criou condições favoráveis ao surgimento e desenvolvimento de startups. Recife tem o porto digital. Belo Horizonte tem o São Fernando Valley. Rio de Janeiro e São Paulo são os polos naturais em função dos mercados. Joinville poderá ser uma das cinco cidades digitais do Brasil.
Online
– Na área de pagamentos online, quando entramos em uma loja pequena parece o “velho Oeste”. Na compra online, o vendedor é o responsável se acontecer algum erro e não a operadora de cartão de crédito. Na Buscapé, criamos um produto para facilitar a entrega aos clientes. Em até 14 dias, entregamos o produto e repassamos o dinheiro para o vendedor.
Onda digital
– Meu neto não vai compreender que jornal impresso e Ipad conviveram ao mesmo tempo, no começo do século 21. Daqui a 20 anos, 99% do tráfego será mobile. A economia da mobilidade vai se beneficiar do crescimento dos negócios digitais. Tudo por celular. Vai sumir o checkout de pagamento de compra feita. Os aplicativos virão também para o Brasil, em breve, para isso desaparecer. A comprovação de compra será automática, eletrônica, instantânea. Isso vai aumentar o consumo. Conveniência é o que o consumidor quer.