O próximo domingo deve ser marcado por protestos contra o governo federal em vários Estados do Brasil. Em Joinville, um evento no Facebook já reúne 8 mil pessoas com presença confirmada para as manifestações que devem pedir a “anulação da eleição imediatamente ou impeachment já!” da presidente reeleita, Dilma Rousseff (PT), na praça da Bandeira. Pelo menos outras 35 cidades farão manifestações do mesmo tipo, no mesmo dia, em todo o Brasil.

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Os grupos que estão organizando protestos contra a presidente compartilham a insatisfação com o governo federal, mas divergem sobre um pedido de impeachment. Ativos na internet, onde já somam dezenas de milhares de seguidores, esses grupos se dividem entre os que reivindicam um impeachment imediato e outros que ainda esperam por um fato que dê margem legal a uma decisão dessa natureza.

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Até terça-feira, havia atos confirmados em 35 cidades do Brasil, além de Boston, nos EUA, e Sydney, na Austrália, segundo levantamento do Movimento Brasil Livre, um dos grupos que encabeça as manifestações de domingo.

Impulsionado pelas redes sociais, o protesto de Joinville planeja marchar pelas ruas do Centro após a concentração na praça.

A ação deve começar a reunir manifestantes a partir das 16 horas. Willian Tonezi, empresário joinvilense, é um dos que adotaram a função de “recrutar” participantes joinvilenses interessados nos protestos do próximo domingo, e diz que esse é apenas o começo de um processo que quer chamar atenção para a política pública nacional.

– Contatei o Movimento Brasil Livre e eles me orientaram como organizar o processo, começando com a criação do evento no Facebook. Tão importante quanto se manifestar é fazer isso com ordem, respeito aos outros e às leis. E, principalmente, incentivar outros a fazerem o mesmo.

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Em pronunciamento oficial realizado no último domingo, a presidente Dilma defendeu o direito dos manifestantes de saírem às ruas, mas criticou a ideia de anular as eleições de 2014.

– Eu acho que há de caracterizar razões para o impeachment, e não o terceiro turno das eleições. O que não é possível no Brasil é a gente também não aceitar a regra do jogo democrático. A eleição acabou, houve o primeiro e o segundo turnos – disse Dilma.

Fórum envia carta de apoio

O Fórum Permanente de Combate à Corrupção de Joinville divulgou terça-feira, em comunicado oficial, uma lista de bandeiras e ferramentas defendidas para tornar mais eficiente o combate à corrupção.

Segundo o comunicado, o movimento social brasileiro, pressionado pelas cobranças do mercado, permitiu que os interesses particulares achassem lugar nos postos de comando na administração pública e nos três poderes – Executivo, Legislativo e Judiciário.

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– Recolocar o trem nos trilhos é agora uma tarefa mais difícil, e não será realizada sem a participação e a manifestação da sociedade. Sempre haverá opiniões diferentes, mas ações que resultem em prejuízo da coletividade deverão ser incondicionalmente coibidas – diz o comunicado.

Entre as cobranças propostas pelo Fórum Permanente estão o apoio incondicional ao papel investigatório do Ministério Público, o fim das coligações eleitorais partidárias, a transparência sobre atos públicos e a adoção e fiscalização do Projeto Ficha Limpa.

– Atritos e ânimos exaltados sempre existem, mas podem ser amenizados com a arte do debate – falar com a intenção de transmitir uma ideia, e ouvir se esforçando para absorver o conteúdo do que está sendo transmitido – diz.

Acij é a favor do movimento, mas sem violência

A Associação Empresarial de Joinville (Acij) apoiará as manifestações públicas – sem violência, nem vandalismo – programadas para o dia 15 de março. O presidente da Acij, João Martinelli, defendeu que a manifestação é um direito constitucional.

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– Todas as manifestações, no sentido de demonstrar indignação com o que não está certo, são legítimas, espelhando um sentimento comum à maioria dos brasileiros, que é não compactuar com o que não é ético.

Alguns vice-presidentes da entidade já avisaram que vão à praça da Bandeira, no Centro de Joinville, no domingo. Martinelli está inclinado a ir também, mas ainda não decidiu. A presença de lideranças do meio empresarial no ato significa que há um descontentamento generalizado contra a corrupção e a espiral inflacionária, diz Martinelli.

– Há receio em relação à situação do nível de emprego. A insegurança e a violência assustam. O nível de qualidade da saúde perturba. Desapareceu a confiança no governo – afirma.

A CDL de Joinville vai analisar o assunto em reunião hoje. O presidente Luiz Kunde antecipa que não vai participar e nem incentivar diretores. Entende que a revolta das pessoas é natural, principalmente porque a onda de escândalos políticos e de corrupção se junta ao processo inflacionário que corrói os ganhos.

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“O debate político no Brasil, neste momento, é decepcionante”

Flávio Ramos, doutor em sociologia política e professor da Univali, falou sobre as mobilizações.

Pelas mobilizações nas redes sociais, o senhor acredita que o protesto pode reviver as manifestações de junho de 2013?

Difícil prever, neste momento, a dimensão dessas manifestações programadas. As redes sociais tornaram-se meios de mobilização eficazes mas de difícil mensuração envolvendo o potencial dessas iniciativas de levar os cidadãos para as ruas.

Sobre o protesto marcado para o dia 15, há muitas pessoas falando sobre impeachment. Como o senhor vê esse tipo de discurso?

Acredito que falar em impeachment seja precipitado. As manifestações populares são válidas, mas esses processos trazem insegurança institucional e, em função das indefinições políticas e econômicas , não acho prudente levantar essa possibilidade. Pode-se discordar da presidente Dilma, questionar seu estilo de gestão, mas não há condições objetivas, pelo menos neste momento, para o Parlamento brasileiro discutir o impedimento da Presidente.

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A participação direta e indireta de partidos políticos na organização desse eventos pode prejudicar uma ampla discussão sobre os rumos do país?

A presidente Dilma encontra-se extremamente fragilizada no exercício do poder. Observamos pressões de segmentos da sociedade, da oposição e da própria base aliada no Congresso brasileiro. Há interesses diversos nesse intrincado jogo do poder. O debate político no Brasil, neste momento, é decepcionante. A consciência republicana de nossos representantes deixa a desejar.

“Quem pede impeachment não sabe o que essa palavra significa”

Waldir Rampinelli, doutor em Ciências Sociais e professor da UFSC, falou sobre as mobilizações.

Pelas mobilizações nas redes sociais, o senhor acredita que o protesto pode reviver as manifestações de junho de 2013?

Acredito que o tipo de mobilização é bem menor. Um ponto importante é sobre a lista da operação Lava-Jato, que pode fazer com que o foco das manifestações seja dividido. Muitas pessoas vão reclamar da Dilma, mas também teremos reclamações contra o Congresso, especialmente por causa da inclusão dos presidentes da Câmara e do Senado entre os citados no inquérito. É um direito de qualquer partido político ir às ruas. Na verdade, essa é a função de um partido. Se a oposição for às ruas e mostrar seu programa de governo, está apenas cumprindo com seu dever.

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Sobre o protesto marcado para o dia 15, há muitas pessoas falando sobre impeachment. Como o senhor vê esse tipo de discurso?

Quem pede impeachment não sabe o que essa palavra significa. Não há provas contra ela. A única acusação que poderia ser usada contra a Dilma seria a de estelionato eleitoral, mas se forem tirar ela do cargo por isso, deveriam fazer isso com todos os governadores e prefeitos do país, porque todos os políticos prometem coisas na campanha e fazem o oposto quando estão no poder.