A polarização política que tomou conta das redes sociais nos últimos meses promete ganhar as ruas nos próximos dias com manifestações em apoio e contra o governo federal. Animados com a adesão ao panelaço durante o pronunciamento da presidente Dilma Rousseff na televisão, domingo passado, manifestantes críticos ao governo organizam um protesto para o próximo dia 15 em todo país com a ajuda do Facebook e do WhatsApp.

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Em Santa Catarina, 14 cidades têm eventos confirmados. Entre os apoiadores há indignados com os escândalos de corrupção, descontentes com o rumo da economia, empresários adeptos da cartilha liberal, defensores do impeachment e até apoiadores de uma intervenção militar.

A promotora de eventos Ana Ferreira, 26 anos, vai trocar o domingo de trabalho para ir às ruas em Criciúma. Está mobilizando amigos e alguns desconhecidos:

– Sou casada, tenho filhos, estou ocupada com meu trabalho, mas me sinto na obrigação, como brasileira de não fechar os olhos para isso que está acontecendo no nosso país. Estamos passando vergonha para o mundo.

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::: Rafael Martini e Upiara Boschi comentam sobre o que pode acontecer nas manifestações de domingo

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Para sexta-feira, foi agendada uma espécie de contraprotesto em Florianópolis. A Central Única dos Trabalhadores (CUT-SC) organiza a manifestação, que será realizada na praça da Catedral, em defesa da Petrobras, da democracia e dos direitos dos trabalhadores.

– Vamos pedir a retirada da pauta das medidas provisórias 664 e 665 (que estabelecem novas regras ao seguro-desemprego) – disse um dos dirigentes da CUT no Estado, Renaldo Pereira.

As duas MPs fazem alterações no seguro-desemprego, tornando mais difícil a obtenção do benefício trabalhista e mudando os critérios da liberação do auxílio-doença e da aposentadoria por invalidez.

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Entidades se mobilizam

Entidades de classe também estão se organizando para o evento de domingo. A Associação Empresarial da Região Metropolitana de Florianópolis (Aemflo) e a Câmara de Dirigentes Lojistas (CDL-SJ) de São José estão conclamando filiados e sociedade.

– Estamos fazendo uma campanha para que a sociedade possa participar, de forma pacífica, desse protesto. Com um único mote: basta de corrupção e má gestão da máquina pública – disse Marcos Antônio Cardozo, presidente da Aemflo/CDL-SJ. Ele diz, no entanto, que a pauta das duas entidades não envolve o impeachment. Afirmou que o ideal é que essa decisão política fique para os parlamentares eleitos pela população.

Em comum, as manifestações recebem o apoio do Movimento Brasil Livre (MBL), organização que surgiu após as eleições de outubro do ano passado e que cobra a saída da presidente do comando do país por não ter cumprido promessas de campanha, responsabilizando-a pelos casos de corrupção na Petrobras – Dilma era presidente do conselho da estatal durante a maior parte do período das investigações da Lava-Jato.

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“O debate político no Brasil, neste momento, é decepcionante”

Flávio Ramos, doutor em sociologia política e professor da Univali, falou ao Diário Catarinense sobre as mobilizações.

Pelas mobilizações nas redes sociais, o senhor acredita que o protesto pode reviver as manifestações de junho de 2013?

Difícil prever, neste momento, a dimensão dessas manifestações programadas. As redes sociais tornaram-se meios de mobilização eficazes mas de difícil mensuração envolvendo o potencial dessas iniciativas de levar os cidadãos para as ruas.

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Sobre o protesto marcado para o dia 15, há muitas pessoas falando sobre impeachment. Como o senhor vê esse tipo de discurso?

Acredito que falar em impeachment seja precipitado. As manifestações populares são válidas, mas esses processos trazem insegurança institucional e, em função das indefinições políticas e econômicas , não acho prudente levantar essa possibilidade. Pode-se discordar da presidente Dilma, questionar seu estilo de gestão, mas não há condições objetivas, pelo menos neste momento, para o Parlamento brasileiro discutir o impedimento da Presidente.

A participação direta e indireta de partidos políticos na organização desse eventos pode prejudicar uma ampla discussão sobre os rumos do país?

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A presidente Dilma encontra-se extremamente fragilizada no exercício do poder. Observamos pressões de segmentos da sociedade, da oposição e da própria base aliada no Congresso brasileiro. Há interesses diversos nesse intrincado jogo do poder. O debate político no Brasil, neste momento, é decepcionante. A consciência republicana de nossos representantes deixa a desejar.

“Quem pede impeachment não sabe o que essa palavra significa”

Waldir Rampinelli, doutor em Ciências Sociais e professor da UFSC, falou ao Diário Catarinense sobre as mobilizações.

Pelas mobilizações nas redes sociais, o senhor acredita que o protesto pode reviver as manifestações de junho de 2013?

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Acredito que o tipo de mobilização é bem menor. Um ponto importante é sobre a lista da operação Lava-Jato, que pode fazer com que o foco das manifestações seja dividido. Muitas pessoas vão reclamar da Dilma, mas também teremos reclamações contra o Congresso, especialmente por causa da inclusão dos presidentes da Câmara e do Senado entre os citados no inquérito. É um direito de qualquer partido político ir às ruas. Na verdade, essa é a função de um partido. Se a oposição for às ruas e mostrar seu programa de governo, está apenas cumprindo com seu dever.

Sobre o protesto marcado para o dia 15, há muitas pessoas falando sobre impeachment. Como o senhor vê esse tipo de discurso?

Quem pede impeachment não sabe o que essa palavra significa. Não há provas contra ela. A única acusação que poderia ser usada contra a Dilma seria a de estelionato eleitoral, mas se forem tirar ela do cargo por isso, deveriam fazer isso com todos os governadores e prefeitos do país, porque todos os políticos prometem coisas na campanha e fazem o oposto quando estão no poder.

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