Não faltaram lágrimas, aplausos e manifestações emocionadas na despedida de um dos sacerdotes mais estimados pelos joinvilenses em sua história, o padre Luiz Facchini, que faleceu na segunda e foi sepultado nesta terça-feira, na Catedral de Joinville. Entre todas as homenagens que ocorreram nestes dois dias, provavelmente a que mais faria com que ele abrisse um largo sorriso – marca registrada de um religioso conhecido pela simplicidade e pelo jeito carinhoso – seria assistir à chegada de crianças, adolescentes e adultos que são atendidos ou já passaram pelas ações sociais que ele criou no município.
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Era o encerramento da última missa antes do sepultamento, e os jovens entraram pelo corredor principal da catedral levando flores brancas e lembrando, nos versos de uma canção popular, a importância de ter alguém que protege e faz o bem.
Facchini morreu na tarde de segunda-feira, aos 76 anos, vítima de um infarto fulminante. Ele era natural de Taió, mas chegou a Joinville em 1971, depois de ser ordenado na Suíça. Fixou residência na cidade e começou a construir o mundo melhor com que sonhava: um no qual fosse totalmente proibido existir crianças com fome. Em 1974, tornou-se o primeiro pároco da Comunidade Cristo Ressuscitado, no bairro Floresta. Foi lá que as despedidas começaram, com o velório na segunda-feira.
Uma pessoa muito corajosa, diz irmão
No local, a empatia do padre foi relembrada diversas vezes por familiares, amigos e fiéis na missa que ocorreu durante a manhã. Centenas de pessoas se reuniram para prestar as últimas condolências na igreja que ele ajudou a fundar, cena que se repetiu à tarde, em missa celebrada pelo atual pároco, José Irineu Victor.
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O irmão dele, João Facchini, recordou do início da trajetória de Luiz. Ao mudar para o bairro Floresta, ele começou a reunir os moradores para estudos da bíblia, dando início ao que seria a Comunidade Cristo Ressuscitado. Foi neste período também, entre os anos 1970 e 1980, que ele conheceu as comunidades carentes e compreendeu as necessidades daqueles grupos.
– Luiz foi uma pessoa muito segura, muito corajosa. Ele não “arredava pé” quando se tratava do evangelho, da prática correta dos ensinamentos de Jesus. Por isso, buscava ajudar os pobres, o que era, para ele, a forma de chegar mais perto de Deus. Ele acreditava que não dá para admitir a fome, nem para pregar o evangelho aos famintos — recorda João.
Da comunidade na Zona Sul saiu um cortejo com carros e ônibus que passaram pelas ruas Santa Catarina, São Paulo e Ministro Calógeras, até chegar à Catedral de Joinville. Levado por outros sacerdotes da Igreja Católica de Joinville, o caixão de padre Facchini chegou ao altar para a missa de corpo presente, iniciada pelo padre Dúlcio e, depois, ministrada pelo bispo da Diocese de Joinville, Dom Francisco Carlos Bach. Ao fim da missa, o corpo foi sepultado para a cripta da Catedral.
O padre Dulcio lembrou a trajetória de doação do padre Facchini ao ler sua biografia e salientou:
– A fome está voltando para as nossas comunidades carentes. Quem irá ajudar essas crianças agora? Eu rogo para que sejam enviados novos profetas para o meio de nós, e que sejam corajosos para denunciar as injustiças sociais, mas também tenham o coração sensível e solidário como o dele – afirmou.
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Misto de sentimentos
Na visão de Dom Francisco Carlos Bach enfrentar a morte do padre Facchini representa um misto de sentimentos: a dor da perda e a satisfação em enxergar, na luta do religioso, um legado pela igualdade e de amor ao próximo, “sendo fiel a um dos principais ensinamentos deixados por Jesus Cristo”.
Em pouco tempo de convívio (Dom Francisco assumiu a Diocese há cerca de nove meses), o bispo enxergava em Facchini uma figura de muita resiliência.
– A grande mensagem que ele deixa é a de ter um olhar pelo outro, o outro é meu irmão, alguém que me ajuda na vida porque ninguém vive sozinho – afirma Dom Francisco.
Marli Borba e Francico Kamaroski foram algumas das pessoas da comunidade que foram se despedir do religioso. Eles o conheceram na Comunidade Cristo Ressuscitado, onde ele ofereceu aulas sobre a teologia da libertação, há cerca de 10 anos.
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– Tínhamos muito respeito por ele, uma pessoa que dedicou a vida a ajudar os mais necessitados. Ele, mesmo quando ganhava roupas novas como presente, dava a quem precisava mais – conta Marli.
Facchini fundou a Fundação Pauli-Maudi (depois rebatizada como Fundação Pe. Luiz Facchini – Pró Solidariedade e Vida), projeto que tinha como objetivo a implantação de Cozinhas Comunitárias na região. Atualmente, a fundação possui o programa Cidadão do Futuro, que oferece atividades esportivas, artísticas e de cidadania no contraturno escolar para 200 crianças e adolescentes; e a Cozinha Comunitária, que atende 150 crianças. Ele já havia se retirado da diretoria, que agora deve, com a família do padre, dar continuidade ao projeto.
– Neste momento, precisamos de calma e serenidade para discutir o que será feito a partir daqui. Mas é claro que a ausência da figura do tio Luiz também fará muita falta na ação social da fundação padre Facchini – lamenta o sobrinho, o vereador Rodrigo Facchini.
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