Era evidente o desconforto e o constrangimento na Assembleia Legislativa no início da noite de quarta-feira. Poucas horas antes, a sessão havia sido interrompida por um oficial de Justiça que levou à mesa diretora a decisão do desembargador José Trindade dos Santos determinando o afastamento por até 180 dias do presidente Romildo Titon (PMDB), denunciado pelo Ministério Público de Santa Catarina por suposto envolvimento nas irregularidades investigadas na Operação Fundo do Poço.

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Era o vice-presidente Joares Ponticelli (PP) que comandava a sessão no momento da chegada do representante judicial. Assim que tomou conhecimento do teor da liminar concedida pelo desembargador, o pepista telefonou para Titon, que estava no gabinete. Abalado, o peemedebista decidiu deixar a Assembleia sem alarde.

Ali mesmo no gabinete da presidência, Ponticelli iniciou uma reunião de crise. Chamou a mesa diretora, outros deputados e a procuradoria da Assembleia. Em conjunto, foi assinada uma breve nota oficial que em duas frases anunciava o recebimento da comunicação do Tribunal de Justiça (TJ-SC) e a interinidade de Ponticelli.

Uma nova reunião está convocada para hoje, às 11h, quando os procuradores devem apresentar alternativas para derrubar a decisão de Trindade dos Santos. Parlamentares de diversos partidos se mostraram solidários a Titon. O próprio Ponticelli, que renunciou à presidência em fevereiro para cumprir o acordo de divisão do mandato com o peemedebista, era um dos mais abalados. Ele se mostrou confiante em reverter a decisão.

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– Devem ser dois caminhos. O que a Assembleia vai decidir na reunião pela manhã e a própria defesa do deputado Titon – disse Ponticelli na antessala do gabinete da presidência, onde conversava com parlamentares e assessores.

Titon esteve à frente da Assembleia por 23 dias. A própria posse do parlamentar no cargo passou a ser colocada em dúvida nos bastidores a partir da deflagração da Operação Fundo do Poço, em 28 de novembro do ano passado. O deputado negou as denúncias que o vinculavam a fraudes em licitações para perfuração de poços artesianos nas regiões do Planalto Serrano e do Meio-Oeste. O MP-SC apresentou a denúncia ao Tribunal de Justiça, onde o relator Trindade dos Santos ainda analisa se o caso vai se tornar um processo judicial.

O acordo de divisão de mandato entre Ponticelli e Titon foi mantido e referendado pelos deputados estaduais, que elegeram o peemedebista por unanimidade em fevereiro. Na posse, dia 3 de fevereiro, estava presente na mesa de autoridades o procurador-geral de Justiça, Lio Marcos Marin, chefe do MP-SC.

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A reportagem ligou para o deputado e para o advogado nesta quarta-feira para falar do afastamento, mas nenhum dos dois atendeu.