Duas datas de aniversário. É assim que Jair Inácio Costa vai celebrar a vida daqui para frente. O dia 12 de outubro é marcado pelo seu nascimento e o 14 de setembro por um novo coração. Transplantado há duas semanas, Jair, 62 anos, recebeu o órgão do bombeiro militar Maurício Valls, que teve morte cerebral após um acidente de trânsito a caminho de um atendimento em Gaspar no dia 11.
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Apesar de não ter tido contato com a família do doador, Jair guarda as reportagens e fotos do homem que lhe salvou a vida. Quando a filha, Sandra Maria, começou a ler um dos textos que falava sobre a morte do jovem, em soluços ele pediu que ela parasse, pois ainda não estava preparado para conhecer a história de quem o fez renascer.
– Quando o Jair recebeu a ligação do filho avisando sobre o transplante ele só olhou para o céu e falou “obrigado por ter chegado esta hora”. Não sabia se estava sonhando ou se era realidade. Não sei como retribuir. Foi um anjo em nossa vida – conta emocionada a esposa de Jair, Leonir Terezinha Costa, 60 anos.
O agricultor e morador de São José do Cerrito, cidade próxima a Lages, infartou aos 24 anos e apenas 30% do coração estava em bom funcionamento. Já não podia caminhar e foi internado diversas vezes neste ano. Entrou na lista de transplante há dois meses e teve uma operação bem-sucedida no Hospital Santa Isabel, onde agora se recupera. Na quinta-feira pôde sentar e falar ao telefone com os familiares avisando que passava bem. Em uma poltrona no quarto andar da unidade de saúde, com olhar tímido, ele ainda custa a acreditar que tem dentro do peito um novo coração:
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– Estou me sentindo bem. Se Deus quiser, terei uma vida nova. O coração é a máquina da pessoa, é tudo. Não acreditava muito que tudo poderia acontecer tão rápido. Fazia nem 60 dias que entrava na lista e agora já estou aqui sentado.

Serviço
Celebrado neste sábado, o Dia Nacional do Doador de Órgãos e Tecidos reunirá famílias de doadores, transplantados e profissionais da área da saúde em frente à escadaria da Catedral São Paulo Apóstolo, das 9h às 13h, para conscientizar as pessoas sobre a doação. Às 11h balões e laços verdes serão soltos como forma de chamar a atenção para o tema da campanha: “Não leve seus órgãos para o céu. O céu sabe que nós precisamos deles aqui”.
ENTREVISTA: Charlene Verusa da Silva, enfermeira
Famílias mais bem informadas tendem a ser mais receptivas à doação
Escolher doar os órgãos de um familiar é muitas vezes consequência de diálogo e informação. Há oito anos a enfermeira Charlene Verusa da Silva, da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos para Transplante (Cihdott) do Hospital Santa Isabel, acompanha famílias na hora de tomar a decisão.
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Como trabalhar a doação em um momento tão difícil quanto o da perda?
Charlene – A entrevista é uma construção com a família que ocorre desde que o paciente começa a ter sinais de morte cerebral. Só falamos de doação de órgãos após todos os testes de morte cerebral serem concluídos.
A família é quem escolhe que órgãos vai doar?
Charlene – No termo de doação a família assina do lado de cada órgão que pode ser captado. Às vezes pode ocorrer de o médico encontrar um tumor e acaba sendo inviável. As famílias geralmente autorizam rins, fígado e córneas.
A família do doador tende a querer conhecer a do transplantado?
Charlene – A família às vezes quer saber para quem foi doado o órgão, mas não podemos fazer essa aproximação. O acaso muitas vezes faz eles se conhecerem.
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Qual o caminho para elevar o índice de doação?
Charlene – A informação. Famílias mais bem informadas tendem a ser mais receptivas sobre a doação. A mídia, quando traz o assunto à tona, também ajuda.