Doar os órgãos de um ente querido pode parecer muito quando a morte está à espreita. Quando Letícia Becker, 32 anos, recebeu a notícia que a mãe, Iracema Becker, 57, teve morte cerebral diagnosticada, estava certa de que iria doar os órgãos.

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Mas esta vontade só foi despertada porque cinco anos antes o marido, Ezequiel Hipólito, 35, precisou entrar na lista de transplantes por causa de uma insuficiência renal. O nome dele foi incluído em 4 de dezembro de 2009, uma sexta-feira. No domingo seguinte ele recebeu a ligação que havia um rim e que o transplante ocorreria naquele dia.

– Ligaram às 5h porque um rapaz que iria receber o rim desistiu. Ele ficou 15 dias internado. Voltou a trabalhar dois anos depois e agora leva a vida normal.

Iracema ficou internada um mês com infecção no Hospital Santo Antônio. Quando morreu, Letícia quis fazer a doação baseada na experiência do marido. A parte mais difícil no dia da morte foi convencer os outros 10 irmãos a compactuar com o mesmo desejo.

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– Iracema nunca tinha expressado a vontade de ser doadora. Quando esclarecemos o que era a doação, a família entendeu quantas pessoas poderiam ser ajudadas. Os filhos aceitaram e o processo foi muito interessante porque eles se deram conta da importância – lembra Adelita Krambeck Bahr, psicóloga da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos para Transplante (Cihdott) do Hospital Santo Antônio.

Serviço

Celebrado neste sábado, o Dia Nacional do Doador de Órgãos e Tecidos reunirá famílias de doadores, transplantados e profissionais da área da saúde em frente à escadaria da Catedral São Paulo Apóstolo, das 9h às 13h, para conscientizar as pessoas sobre a doação. Às 11h balões e laços verdes serão soltos como forma de chamar a atenção para o tema da campanha: “Não leve seus órgãos para o céu. O céu sabe que nós precisamos deles aqui”.

ENTREVISTA: Charlene Verusa da Silva, enfermeira

Famílias mais bem informadas tendem a ser mais receptivas à doação

Escolher doar os órgãos de um familiar é muitas vezes consequência de diálogo e informação. Há oito anos a enfermeira Charlene Verusa da Silva, da Comissão Intra-Hospitalar de Doação de Órgãos para Transplante (Cihdott) do Hospital Santa Isabel, acompanha famílias na hora de tomar a decisão.

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Como trabalhar a doação em um momento tão difícil quanto o da perda?

Charlene – A entrevista é uma construção com a família que ocorre desde que o paciente começa a ter sinais de morte cerebral. Só falamos de doação de órgãos após todos os testes de morte cerebral serem concluídos.

A família é quem escolhe que órgãos vai doar?

Charlene – No termo de doação a família assina do lado de cada órgão que pode ser captado. Às vezes pode ocorrer de o médico encontrar um tumor e acaba sendo inviável. As famílias geralmente autorizam rins, fígado e córneas.

A família do doador tende a querer conhecer a do transplantado?

Charlene – A família às vezes quer saber para quem foi doado o órgão, mas não podemos fazer essa aproximação. O acaso muitas vezes faz eles se conhecerem.

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Qual o caminho para elevar o índice de doação?

Charlene – A informação. Famílias mais bem informadas tendem a ser mais receptivas sobre a doação. A mídia, quando traz o assunto à tona, também ajuda.