O Diário Catarinense adianta o editorial que publicará no próximo domingo para que os leitores possam manifestar concordância ou discordância em relação aos argumentos apresentados. Participações enviadas até as 19h de sexta-feira serão selecionados para publicação na edição impressa. Ao deixar comentário, informe nome e cidade.

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MERITOCRACIA NA EDUCAÇÃO

A longa paralisação dos professores públicos do Rio de Janeiro, que já provocou conflitos com a polícia e depredações de veículos e prédios, provavelmente causados por vândalos infiltrados no movimento, tem como pano de fundo uma palavrinha apreciada no meio empresarial que virou palavrão no vocabulário do magistério em todo o país: meritocracia. As entidades representativas dos mestres, especialmente, combatem com intransigência esse sistema de valorização profissional, promoção e premiação baseado no mérito pessoal e na avaliação. Alegam que, ao contrário do que ocorre no mundo corporativo, o desempenho dos professores não pode ser medido pelos resultados alcançados, pois eles atuam em condições de trabalho muito diversas, em áreas de grandes diferenças socioeconômicas e com alunos de perfis variados. São argumentos consideráveis, mas insuficientes e inconsistentes diante da experiência bem-sucedida de administrações públicas mais ousadas que adotaram o sistema.

São Paulo é o melhor exemplo. O Estado adotou um regime de meritocracia na rede estadual em 2008, com metas de aprendizado e bônus salariais para diretores, mestres e servidores das escolas melhor avaliadas. Pesquisadores da Universidade de São Paulo em Ribeirão Preto constataram avanços significativos no desempenho dos estudantes dessas instituições, a partir de dados da Prova Brasil, aplicada pelo Ministério da Educação.

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A propagação de experiências semelhantes, porém, tem esbarrado no corporativismo dos sindicatos, que temem injustiças e demissões. Alegam que a fixação de metas de aprovação pode gerar deformações e competições entre as escolas, sem melhorar a qualidade do ensino. Pressionados a apresentar resultados, docentes e escolas podem simplesmente preparar seus alunos para os testes de avaliação, descuidando-se da formação integral. Existe, realmente, esse risco.

Mas ele pode ser reduzido significativamente se a implantação do processo for acompanhada por medidas de apoio aos professores, de estímulo e oferta de oportunidade para o desenvolvimento profissional e de conscientização sobre os reais propósitos das mudanças. Para cobrar resultados, é preciso primeiro oferecer boas condições de trabalho, remuneração adequada, formação continuada e currículos compatíveis com as metas estabelecidas. Preenchidas tais condições, o poder público certamente estará legitimado para cobrar produtividade, assiduidade e eficiência dos profissionais de educação, assim como para premiar adequadamente aqueles que oferecerem as melhores respostas para as demandas da sociedade. Quem acredita nas próprias potencialidades não teme a meritocracia.