Um dia o educador precisou de livros no sistema braille para atender o aluno cego. Outra vez, de um intérprete em libras para que o estudante surdo acompanhasse as narrativas. Até a chegada de outra criança, nem cega ou surda, porém, com uma doença genética que a impedia de mexer as mãos para segurar o material escolar. Diferentes entre si. Mas iguais em um aspecto, o direito de aprender a ler.
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Assim o contador de histórias Carlos Alberto Mafra, que desenvolve projetos de leitura inclusiva em escolas ribeirinhas da região norte do país, descreve a realidade brasileira. Integrante da Rede Nacional de Leitura Inclusiva, projeto da Fundação Dorina Nowill presente em todos os Estados, o professor reflete acerca da presença cada vez maior de pessoas com diferentes deficiências em bibliotecas, escolas e espaços públicos.
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Situação já trazida no Censo do IBGE, de 2010. Os números apontavam para cerca de 45 milhões de brasileiros com algum tipo de deficiência. Organizadas em grupos ou de forma individual, essas pessoas se apresentam cada vez mais na luta por direitos essenciais, como inclusão na escola, no mercado de trabalho, acessibilidade, saúde, acesso ao lazer e à cultura.
“As pessoas acham que por ter a deficiência, os cegos não possuem desejo sexual”, diz especialista
Por isso, crescem também as ferramentas para promover a leitura inclusiva. Os instrumentos permitem acesso à informação, especialmente no campo visual. São livros em braille, audiolivros ou falados, com a letra ampliada, o Livro Digital Acessível – Daisy (Digital Accessible Information System). De acordo com o modelo, servem também para surdo-cegos, pessoas com deficiência cognitiva e até mesmo com síndrome de Down.
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Conteúdos disponíveis de forma diferenciada
Temas assim marcaram o 1oº Encontro Nacional da Rede de Leitura Inclusiva, dias 15 e 16, em São Paulo (SP). A rede começou em 2013, com a participação de 10 Estados. Santa Catarina está presente desde o começo. Duas universidades comparecerem, UFSC e Unisul.
A bibliotecária Salete Cecília de Souza, da Unisul, explica que cerca de 250 pessoas com deficiências estão incluídas no Programa de Promoção de Acessibilidade. São pessoas com deficiência sensorial, física, dificuldade de aprendizagem e com necessidades específicas que, de forma presencial ou à distância, precisam de conteúdos diferenciados.
Alunos cegos recebem todo o material – livros, artigos – em arquivo DOC ou braille. O serviço mapeia o estudante e entra em contato com o departamento para antecipar os conteúdos no semestre seguinte. Acadêmicos surdos têm acompanhamento de intérprete de libras nas avaliações presenciais e durante as aulas, tradução e interpretação em webconferência e web-aula, além de livros em libras e documento eletrônico. Aqueles com deficiência física têm à disposição recursos de mobilidade nos diferentes ambientes da universidade.
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– Nosso objetivo é dar autonomia para os estudantes, além de fomentar o debate com professores, entre alunos e mesmo com as famílias de origem dos acadêmicos – diz Salete.
A bibliotecária cita o que considera como uma das principais barreiras para o processo de inclusão: a educação assistencialista, resultado de uma cultura de muitos anos e que, apesar do processo de mudanças provocado por leis, ainda há a necessidade de que o próprio aluno se perceba como um ser de direito.
– Essas pessoas precisam vir e exigir seus direitos, cabendo às instituições responder às suas necessidades – sugere.
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Salete é uma defensora de pessoas com deficiência acessando livros:
– Com a leitura a pessoa se apropria da vida. Defendo a continuidade do uso do braille, assim como o recurso digital – diz.
A UFSC também oferece serviços aos usuários, como orientação no uso adequado das fontes de informação e recursos tecnológicos, ledores, adaptação de material. Outra vantagem é o uso de materiais como lupas, audiolivros, vídeos em libras, notebook, teclado adaptado, aparelho MP3.
– Temos um espaço que segue os padrões de acessibilidade e disponibilizamos computadores com softwares específicos para usuários, acervo em braille e acervo digital acessível – explica Clarissa Pereira.
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