* Esta reportagem se propõe ser inclusiva, com descrição de legendas e vídeo audiodescritivo
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“Amor é fogo que arde sem se ver” , escreveu Luís Vaz de Camões. O poeta português, que não tinha um olho, usa de lirismo para comparar o sentimento e a cegueira. Verdade é que olhar não é o único canal por onde escorre a emoção. O oceano dos afetos é um turbilhão movido por diferentes sentidos. O corpo também pode ser inundado pelo timbre de voz, pelo toque, por um cheiro. A imersão da audição, do tato e do olfato permite a uma pessoa cega se interessar por outra. É essa alquimia que faz com que pessoas cegas se apaixonem. Prova de que o visual e o visível são elementos distintos.
O visual e o visível são elementos distintos, sugere Leandro de Oliveira, 23 anos, e Tábata Duarte, 20. Com 2% de visão em consequência de uma doença congênita na retina, Leandro se considera cego. Tábata tem 10%, um campo muito reduzido que lhe mostra do mundo apenas vultos e sinais de luz. No auge da paixão, o casal de estudantes usa o termo inversão de valores para expressar o que sente:
– O processo envolvendo cegos é diferente, pois não nos atraímos pela beleza física do outro. No meu caso, por exemplo, foi pela voz da Tábata. Depois veio a conversa, o toque na mão, o abraço – diz o acadêmico de Serviço Social da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC).
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A estudante de Pedagogia da Uniasselvi também foi atraída pelo tom de voz de Leandro, mas foram as ideias claras e inteligentes do rapaz que despertaram mais interesse. Eles já se conheciam da Associação pela Integração do Cego (Acic), onde ele trabalha e ela estuda. Mas foi a partir de um momento tenso para ela que conseguiu sentir o quanto Leandro parecia uma pessoa bacana.
– Ele me convidou para cantar na abertura de um evento, mas como sou tímida me senti embaraçada. O Leandro tentou descontrair o ambiente, me deixando mais à vontade. Sentimos necessidade de nos conhecer e estamos enamorados – revela.
Os jovens podem não enxergar, mas sentem as mesmas emoções que costumam tomar conta dos enamorados. Especialmente na hora da pegada:
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– Não só arrepia, mas deixa a gente nervoso também – afirma Tábata.
Tábata descreve o momento: tempos de coração palpitando, de corpo trêmulo, de sentir a alteração na voz quando conversavam. Para ela, o amor é cego e acontece à medida de que até o defeito vira encanto. Leandro mantém o papo cabeça, na mesma tocada que atraiu a namorada:
– Eu acho que o amor é algo construído. Pode ser cego, assim como pode ser mudo. Mas certamente é diferente desse amor que a mídia coloca, pois não é superficial e vindo da visão ou só do tato. É tudo isso.
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