Dos pequenos furtos aos roubos de imagens sacras de valor inestimável. As igrejas seguem o exemplo da Catedral Metropolitana e instalam sistemas de segurança para garantir um mínimo de proteção aos templos e suas relíquias. Paróquias mantem imagens enclausuradas, longe dos fieis, com medo de quadrilhas especializadas que já roubaram, por exemplo, a imagem de São Miguel Arcanjo, furtada em 1979 e devolvida quinta-feira à comunidade de Biguaçu.

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Maior templo católico de Santa Catarina, a Catedral Metropolitana passou a ter vigilante 24 horas e câmeras de segurança depois de ter sido invadida por ladrões não especializados. Em furtos a fieis dentro da igreja este ano, imagens das câmeras mostraram um homem viciado em crack em ação. Ele escolhia a vítima e se aproximava para esperar uma distração. Quando o fiel se ajoelhava, ele furtava a bolsa e saía. O homem era suspeito de outros furtos cometidos na catedral e na Igreja de São Francisco de Assis, Centro da Capital. A 1ª Delegacia de Polícia registrou 10 boletins de ocorrência do tipo.

Confira a entrevista com o padre Maurício Serafim da Igreja Nossa Senhora da Lapa

A Igreja Nossa Senhora da Lapa, no Ribeirão da Ilha, Sul da Ilha, é um dos recentes alvos de ladrões. O templo que está em restauração e já foi visitado por Dom Pedro II, em 1815, foi invadido na última semana de setembro, por uma porta lateral. Furtaram botijões de gás, cestas básicas, peças de artesanato e o equipamento de som da igreja. Foi o terceiro furto a igrejas da mesma paróquia naquele período. A Capela São João Batista, na Caieira da Barra do Sul, e a Capela São Sebastião, no Campeche também tiveram objetos sem valor histórico ou cultural furtados.

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– Reforçamos a porta e vamos colocar sistema de alarme para coibir este tipo de furto – contou o pároco da N.S. da Lapa, padre Maurício Serafim.

Para preservar o que restou de imagens sacras, muitas tombadas pelo patrimônio histórico, as paróquias optaram por enclausurar seus santos e criar réplicas dos originais. No Ribeirão da Ilha, a réplica da Nossa Senhora da Lapa feita há cerca de 20 anos fica no altar, temporariamente montado em um anexo da igreja em obras. A original é do século 18, feita de madeira e trazida pelos colonizadores açorianos.

Ficou por muito tempo peregrinando de casa em casa na comunidade como medida de segurança. Atualmente, está guardada em um cofre em local não revelado pela paróquia. Só sai do cofre no dia da festa em sua homenagem. No claustro, ao lado da Nossa Senhora, estão outras três imagens originais. Uma delas é a de São Miguel, furtada há mais de 10 anos por quadrilha especializada. O santo foi parar em Minas Gerais e depois de recuperado pelo Polícia Civil de SC voltou para a clausura no Sul da Ilha.

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Imagem mais valiosa furtada foi de Miguel Arcanjo

A imagem mais valiosa até hoje furtada em Santa Catarina foi São Miguel Arcanjo, da Paróquia São João Evangelista, em Biguaçu. A informação é da Polícia Federal de SC, responsável pela custódia da imagem durante 11 meses, do momento em que foi recuperada no Rio de Janeiro até sua devolução à comunidade, anteontem. Assim como outras imagens barrocas, é tombada como patrimônio histórico nacional por seu valor histórico e cultural. E por isso, o furto de uma imagem dessas é crime federal.

Quem furta imagem tombada ou não responde pelo crime de furto qualificado com pena de dois a oito anos de reclusão. Para o delegado Raimundo Barbosa, titular da Delegacia de Meio Ambiente e Patrimônio Histórico da PF/SC, a aplicação do Código Penal para crimes de furtos de imagens e não apenas a Lei Ambiental é um avanço sob o ponto de vista de política criminal.

Uma convenção internacional da Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco) com países como o Brasil, a Convenção do Unidroit sobre Bens Culturais Roubados ou Ilicitamente Exportados, garante a proteção dessas imagens. A convenção exige que o Estado proteja seus bens tombados pelo município, estado ou União.

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O superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional ( Iphan) em SC, Dalmo Filho, não pode falar com a reportagem porque está viajando, segundo a procuradoria do Iphan.

Cada paróquia se encarrega da segurança das igrejas

A assessoria de imprensa da Arquidiocese de Florianópolis, a igreja tem controle do que tem, mas não do que é roubado ou furtado de seu acervo. Segundo a assessoria, cada paróquia se encarrega da segurança em suas comunidades. São mais de 800 igrejas só na Arquidiocese de Florianópolis. A assessoria informou que a igreja é um patrimônio privado e portanto não cabe ao poder público fazer a segurança desses espaços, a não ser das igrejas mais antigas, que também são patrimônios históricos. De acordo com a assessoria de imprensa da Polícia Militar, todos os locais de manifestação religiosa estão inseridos no planejamento do policiamento ostensivo da cada unidade operacional da PM em SC. A PM, por meio da assessoria, reconhece que não tem como fazer policiamento de todas as igrejas, mas garante que quando não há emergências, as patrulhas atuam na prevenção e fazem ronda no entorno de templos religiosos.