Correção: ao contrário do que afirmou esta reportagem até as 15 horas desta quarta-feira, o efetivo de policiais da Delegacia de Homicídios (DH) de Joinville é de 13 policiais e não três. O texto original já foi corrigido.
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O quintal da casa verde na rua Arco-íris, no bairro Iririú, zona Leste de Joinville, agora guarda apenas as memórias de Maria Schlickmann Brüning. A senhora, de 87 anos, morreu por causa de uma embolia arterial provocada pelas agressões sofridas por ela durante assalto que aconteceu na madrugada da última quarta-feira, dia 19 de abril.
Até o momento, já são 50 mortes violentas registradas neste ano na cidade. Em 2016, essa marca foi alcançada apenas no final do mês de maio. O roubo de um celular e cerca de R$ 600 na casa de Maria ocorreu por volta das 4 horas. Um homem invadiu a moradia da vítima após arrancar o vidro de uma das janelas com uma faca.
Ao entrar na residência, o homem comeu bolachas que a idosa havia feito e um vidro de palmito que ela mantinha guardado. Segundo o filho, Vicente Brüning, a idosa dormia quando o homem entrou na casa. Ela acordou com o barulho, mas como não sabia o que acontecia na cozinha, resolveu ir ao banheiro do quarto em que estava. Ao retornar, estranhou que a porta estivesse aberta, já que ela sempre a mantinha trancada.
– Quando ela colocou a mão na maçaneta para verificar, alguém empurrou a porta com força e ela caiu – afirma Vicente.
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Depois de derrubar Maria, o homem desferiu chutes contra a vítima e tentou enforcá-la enquanto ainda estava caída. De acordo com Vicente, a mãe lembrava-se de todos os detalhes da ação e os relatou ao filho. O suspeito vestia uma espécie de capuz que improvisou com a capa do galão de água que ficava na cozinha.
— O homem ficava perguntando sobre dinheiro e ameaçando matar.
Como tentou estrangular, a minha mãe perdeu os sentidos.Assim que Maria recuperou a consciência, o suspeito já estava revirando o guarda-roupa. Ela conseguiu se arrastar até o outro banheiro da casa e trancou-se nele. Quando não ouviu mais nenhuma movimentação, saiu do banheiro e foi até o telefone fixo ligar para o filho. Como ele não ouvia a voz da mãe (o ladrão cortou o fio), imediatamente decidiu ir até o local porque sentiu que algo estava errado.
Ao chegar à residência, encontrou a mãe bastante machucada e trancada no banheiro. Ainda na quarta-feira, por volta das 9 horas, a senhora começou a sentir fortes dores na cabeça. A visão estava embaçada e ela desmaiou. Vicente imediatamente chamou o Samu e a mãe foi encaminhada ao hospital. Depois de dois dias internada, Maria faleceu em decorrência da violência sofrida na noite do assalto.
– Eu ainda lembro as últimas palavras dela: ¿Filho, vai para casa descansar!¿. Eu disse que já estava indo. E ela retrucou: ¿Mas você vai me deixar aqui sozinha?¿
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‘Uma mulher de fibra e muito saudável’, diz filho
Para Vicente, a mãe era uma mulher de fibra e muito saudável. A alegria de Maria era cozinhar e receber os familiares. Para ela, sinal de fartura era a mesa cheia – de gente e de comida. Os laços afetivos da idosa estão estampados em fotografias que decoram as paredes da sala.
Disputando espaço com as fotos, estão imagens religiosas de santos dos quais ela era devota. A idosa frequentava grupos de oração e conhecia quase todos os vizinhos. De vez em quando, andava pelas ruas do bairro para jogar conversa fora. Ela prezava pela sua independência e liberdade, conquistada trabalhando durante anos em um engenho na cidade de Orleans, no Sul do Estado.
– Ela fazia questão de morar sozinha e ter autonomia. No final do ano passado, fiz uma viagem com ela para Gramado (RS) porque ela nunca tinha andado de avião e queria muito descobrir a sensação – relembra.
O filho de Maria acredita que a força da mãe foi a principal herança deixada. Para ele, toda essa energia não deve ser esquecida e a morte da senhora deve ser encarada como um exemplo.
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– Eu quero que a morte dela não seja em vão e que sirva para melhorar a sociedade. Espero que a justiça seja feita e que os criminosos entendam que esses crimes não ficarão impunes – completa.
Familiares e amigos de Maria organizam uma passeata para este sábado, às 14 horas, no bairro Iririú, na zona Leste de Joinville.
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Delegada Tânia Harada fala em retenção de crimes
Para a delegada regional de Joinville, Tânia Harada, o registro da 50ª morte violenta na cidade pode ser atribuída a uma onda crescente na criminalidade. A delegada observa que este acréscimo não é exclusivo do município, outros locais também estão sofrendo com o aumento no número de mortes violentas. Porém, Tânia destaca que, desde que foi instalada na cidade, a Delegacia de Homicídios (DH) registrou retenção no número de crimes.
– Desde a instauração da DH, foi freado o aumento de mortes violentas, que vinha em uma crescente de 40% ao ano. Vamos ter que aguardar o término deste ano para ver como fica a conta, mas certamente a quantidade não irá ultrapassar essa taxa – afirma.
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Conforme a delegada regional, o trabalho da Polícia Civil ocorre após o delito. Para ela, a criação de uma delegacia especializada ajuda a inibir a onda de criminalidade por meio da investigação e resolução dos casos, além da qualidade dos inquéritos. O reflexo deste trabalho, reforça Tânia, é observado por meio da taxa de delitos solucionados.
– A resolução dos inquéritos passou de 20% para 60%. Antes da DH, quase 80% das mortes violentas ficavam sem um esclarecimento – complementa.
No momento, a DH está estruturada com três delegados e 13 policiais. A intenção é que este contingente seja ampliado, mas ainda não há previsão para que isso aconteça