Hugo Chávez ganhou a chancela dos venezuelanos para completar 20 anos no poder. O militar reformado e atual presidente venceu a corrida para se manter no cargo, com 54,42% dos votos, contra 44,9% alcançados por seu principal opositor, o advogado Henrique Capriles. Foi a confirmação do que indicavam quatro das seis principais pesquisas eleitorais divulgadas nos últimos dias.
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A autorização para El Comandante continuar mais seis anos à frente do Palácio Miraflores foi confirmada às 22h05min deste domingo (horário local) pelo Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela.
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Três são as razões que levaram a maioria dos 13 milhões de venezuelanos que votaram (de um total de 18 milhões habilitados) a manter no governo o autor da chamada Revolução Bolivariana, um misto de esquerdismo e nacionalismo que gerou seguidores em grande parte da América do Sul.
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A primeira é seu inegável carisma, com um discurso totalmente voltado para as camadas mais pobres da população. Incita o ódio aos ricos (a quem chama de “burguesia corrupta”) e, num modelo já explorado por Perón na Argentina, diz que vai defender sua “revolução popular” à custa da própria vida, se preciso. Foi o que repetiu numa conferência de imprensa às vésperas do pleito, na qual falou por quase duas horas, desfiando números positivos de inclusão social. O amparo popular é tamanho que ele não hesitou em mudar a Constituição para poder se reeleger – agora, pela segunda vez. Chávez está no poder desde 1998.
Foi também no sábado, um dia antes da eleição, que Chávez mostrou uma segunda razão para aquela que seria sua vitória: o discurso populista vem acompanhado de dinheiro, muito dinheiro, despejado em obras e programas sociais. Principalmente às vésperas do pleito.
No sábado, Zero Hora flagrou o Banco da Venezuela liberando o equivalente a mais de R$ 1 mil para cada mãe de família cadastrada num desses programas. Outro exemplo de investimento capaz de garantir muitos votos é o das casas próprias (ele promete 3 milhões de residências para os mais necessitados, até 2019). Cada edifício construído com dinheiro governamental exibe nas fachadas retratos imensos de Chávez.
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O terceiro motivo é que a oposição diminuiu o ímpeto, na reta final. Sabe-se-lá por que razão, a movimentação dos apoiadores de Capriles foi tímida, no domingo decisivo do pleito. Pelo menos em Caracas. Isso não quer dizer derrota, mas acanha os adeptos. O próprio Capriles, ao invés de ir para o corpo a corpo, tirou o sábado para fazer uma caminhada (quase escalada) no majestoso pico com florestas que emoldura Caracas, o Cerro El Ávila. Agradou aos jovens classe-medianos que praticam esportes radicais, como ele, mas terá causado bom impacto entre os pobres, maioria no país.
Seja qual for o veredito das urnas, o pleito na Venezuela já tem vitoriosas: as filas. Elas tomaram quarteirões ao longo do dia, especialmente pela manhã, quando a maioria preferiu votar, tirando o resto do domingo para descanso. Alguns dos 18,8 milhões de eleitores venezuelanos levaram até seis horas na espera. O grande problema era conseguir entrar na seção eleitoral e ter o nome encontrado pelos mesários. Desde as 6h, ainda noite escura, os venezuelanos começaram a se deslocar para votar e, mesmo assim, foi grande a confusão.
Havia muito temor de violência após o resultado, dos dois lados. A oposição, comandada pelo candidato Henrique Capriles, receava que as milícias chavistas (como os Círculos Bolivarianos e a Guardia del Pueblo) saíssem das favelas e promovessem baderna nos bairros nobres, caso o projeto continuísta de Chávez fosse derrotado nas urnas. Seria uma reedição, organizada, do famoso Caracazo, um protesto de massas contra o governo de Carlos Andrés Perez, realizado em 1989 e que deixou saldo de 300 mortos e mais de mil feridos.
Se Chávez vencesse por pouca margem, apoiadores de Capriles poderiam alegar fraude e uso da máquina pública. E havia margem para baderna com a derrota da oposição – em 2002, oposicionistas chegaram a derrubar e prender Chávez, mas foram derrotados após três dias de combates nas ruas de Caracas. Como Chávez ganhou com boa vantagem sobre Capriles, a esperança é que não corra muito sangue em decorrência das eleições. Os oposicionistas, antes mesmo do resultado, conclamavam o povo a respeitar a voz das urnas. Capriles, ao saber do resultado, conclamou os partidários a aceitarem.
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– Estamos no começo de um caminho. Mais de 6 milhões de pessoas nos buscaram como um caminho alternativo ao que está aí. Quero felicitar o presidente.
A verdade é que a calma apregoada pode ter percalços. Alguns tiros e mortes já aconteceram. Uma pessoa morreu ao ser atingida por tiros de escopeta disparados por motoqueiros, quando se aproximava de uma das filas de votação. O homicídio ocorreu em Paroquia Macarao, distrito de Caracas.
Outras três pessoas foram mortas no vizinho Estado de Miranda, todas próximas a postos eleitorais. A Polícia Nacional não vê indícios, ainda, para relacionar os assassinatos às eleições. Tudo indica que o temor de uma convulsão social, alardeado pelos dois lados da disputa, está longe de se concretizar.
Pelo Twitter, Chávez deixou de lado o materialismo e liberou o lado religioso. “Graças a Deus. Graças a todos e a todas!”
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