As cirurgias bariátricas agendadas para acontecer nesta semana no Hospital Regional Hans Dieter Schmidt foram canceladas em Joinville. O motivo foi a falta do grampeador cirúrgico, material usado durante o procedimento para grampear e cortar o estômago dos pacientes. Em fevereiro deste ano, quatro procedimentos já tinham sido cancelados pela falta de grampos.

Continua depois da publicidade

Os pacientes que tiveram as cirurgias canceladas chegaram a fazer a preparação pré-operatória, que envolve um período de 72 horas de dieta líquida, além da ingestão de medicamentos gastrointestinais. Entretanto, a preparação completa começa quase dois anos antes, com inúmeras consultas de várias especialidades – passando por nutricionista a psicólogos – até a liberação para o procedimento.

Das duas cirurgias agendadas para terça-feira (27), uma foi cancelada e a outra realizada. Já nesta quinta (30), os dois procedimentos marcados não foram realizados. Segundo Vera Regina Martins Araújo, presidente da Associação dos Obesos Mórbidos de Joinville e Região (Assobesimor), o kit de grampeadores cirúrgicos custa cerca de R$ 6 mil. Além deste material, os pacientes que estão na fila já enfrentaram problemas com outros materiais, como pinças e grampos, ou até a falta de especialistas.

Ainda conforme ela, por mês, uma média de 60 novos pacientes são encaminhados para realizar o procedimento. O aviso do cancelamento geralmente ocorre um ou dois dias antes da agenda já feita, quando a pessoa já está no meio da preparação.

Sem expectativa para pacientes

Continua depois da publicidade

A manicure Tatiane Noronha, 35 anos, aguarda há um ano e meio para realizar o procedimento. Inicialmente, a cirurgia estava agendada para 11 de setembro, mas foi cancelada pela falta de anestesistas. Agora, uma nova remarcação foi feita para 25 de setembro, mas ela já foi orientada pela associação a ficar de sobreaviso porque não sabem quando o hospital receberá o material cirúrgico.

— Nós ficamos à mercê da ausência desses materiais: uma hora falta uma coisa e depois é outra. É todo um preparo que nós fazemos, é bem desanimador — lamenta Tatiane.

Para Tatiane, ainda há outros prejuízos relacionados ao cancelamento. Pacientes com a agenda fazem uma programação no trabalho, por exemplo, e com o cancelamento precisam alterar atestados ou avisos aos gestores. Ela também aponta a questão psicológica como um fator primordial, já que muitos anseiam por uma “transformação social” após o procedimento e pela melhoria na saúde.

Por causa dos cancelamentos, alguns pacientes acabam desanimando e abandonam o tratamento. Conforme Tatiane, quando retornam ao grupo, em alguns casos, voltam com um agravamento no quadro da obesidade e outras doenças relacionadas ao excesso de peso, as comorbidades.

Continua depois da publicidade

Cancelamento acarreta refazer exames

Fora a preocupação com a vida dos pacientes, Tatiane aponta que os cancelamentos acarretam em desperdício de dinheiro público. Durante a preparação, os pacientes realizam diversos exames, como ecocardiografia e hemograma completo. Com a demora no agendamento por falta de material, os exames vão “vencendo”, precisando ser refeitos.

— A obesidade é uma doença e que vai gerando outras. Precisamos de uma posição porque acontece essa falta de material, porque parece até uma brincadeira de mau gosto — garante.

O que diz o Estado

Em nota, a Secretaria de Estado da Saúde (SES) informou que houve uma situação, de fato, que já está solucionada. A partir da próxima semana os procedimentos serão retomados.