Há cerca de dois anos, Stefano Viti Cunha, 20 anos, iniciou os preparativos para realizar a cirurgia bariátrica em Joinville. O período pré-operatório envolve inúmeras consultas de várias especialidades – passando por nutricionista a psicólogos – até a liberação para a realização do procedimento. A cirurgia do jovem foi agendada para última quinta-feira (1).

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Entretanto, antes de se dirigir do Hospital Hans Dieter Schmidt, ele recebeu a notícia que a operação foi cancelada devido a falta do grampeador. Além deste, outros três procedimentos também foram suspensos.

— A enfermeira ligou falando que a cirurgia não iria acontecer por falta de material. Como eu ia dar uma notícia dessas para o meu menino, que esperava ansiosamente por isso? – conta Rita de Cássia Viti, mãe do jovem.

Stefano começou a engordar depois de perder o pai, com 12 anos. Fazer a bariátrica representa para ele uma transformação social, com mais qualidade de vida e saúde. O jovem chegou a realizar a dieta líquida na última segunda-feira (29), preparo obrigatório para a realização do procedimento.

Ainda de acordo com Rita, desde o cancelamento, o filho não quer mais sair de casa, porque ficou “decepcionado e sem expectativa de mudar de vida”. Além do desânimo, Stefano também enfrenta outras doenças por causa da obesidade, como diabetes, resistência à insulina e problemas na pele.

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Essas comorbidades são uma realidade inerente a outros pacientes que aguardam para realizar o procedimento. Segundo Vera Regina Martins Araújo, presidente da Associação dos Obesos Mórbidos de Joinville e Região (Assobesimor), a preocupação com a vida dos pacientes é grande, porque todos que tiveram a cirurgia cancelada encaram enfermidades devido ao excesso de peso.

— Eles podem perder a vida, porque muitos têm muitas comorbidades e sofrem muito. A obesidade é uma doença crônica — informou.

A presidente também garante que as pinças utilizadas nas cirurgias bariátricas não estão sendo fornecidas. O material é necessário nos procedimentos onde o paciente tem a circunferência abdominal muito grande. É o caso da costureira Maria Aparecida Silvestre, 49 anos. Conforme ela, a liberação médica para realizar a cirurgia ocorreu há cerca de dois anos, mas desde então, aguarda a chegada do material para realizar a operação.

— O paciente precisa provar que está apto para a cirurgia, inclusive emagrecendo. Com essa demora, toda a preparação vai por água abaixo. Você fica mais ansiosa e volta até a engordar — desabafa a costureira.

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A Secretaria de Estado da Saúde (SES) informou, por meio de nota, que estão em processo de compra grampeadores e pinças cirúrgicas para a retomada das cirurgias bariátricas no Hospital Regional Hans Dieter Schmidt, em Joinville. A expectativa da SES é que os grampeadores cheguem à unidade na primeira quinzena de Fevereiro, podendo ser retomadas as cirurgias bariátricas de barriga menor.

A preparação pré-operatória inclui quase vinte exames, dentre eles ecocardiografia e hemograma completo. Segundo Maria, com a demora no agendamento por falta do material, esses exames vão “vencendo”, precisando ser refeitos. Ainda que bancados pelo Sistema Único de Saúde (SUS), as análises são caras e, na opinião de Maria, a situação representa um “desperdício de dinheiro”.