Cientista político de um dos mais respeitados centros docentes da França, Bruno Jérôme diz que François Hollande, que venceu as eleições presidenciais no país, não é um “socialista verdadeiro” e prevê conflitos na coalizão com partidos de extrema-esquerda, pela escassa margem de manobra para uma França socialista em meio a uma Europa conservadora.
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Confira trechos da entrevista:
ZH – O que esperar de um novo governo socialista na França?
Jérôme – Eu diria que quase nada mudará. Há pouco a fazer a não ser reduzir a dívida pública e cortar gastos públicos. Mesmo sendo Hollande, ele terá de fazer isso. Ele não poderá fazer o que quer. O governo do Banco Central Europeu disse há poucos dias que cada país terá de reduzir dívida pública e gastos públicos. É necessário achar um consenso entre os 27 países da UE e os conservadores são maioria.
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ZH – Qual será a fórmula para lidar com a crise, então?
Jérôme – O problema é como estimular o crescimento. Hollande quer aumentar gastos públicos e impostos. Terá de dobrar impostos se realmente quiser aumentar os gastos públicos. Mas não tem margem para fazer isso. Hollande terá de rever suas posições.
ZH – Nos últimos tempos, governos socialistas deram lugar aos conservadores na Europa (como ocorreu na Espanha). Como explicar que na França ocorra o oposto?
Jérôme – Vinte anos atrás, absorvíamos as ideologias. Mas agora, a onda não é ideológica. É apenas resultado da crise.
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ZH – Como você descreveria o perfil de Hollande?
Jérôme – Ele é um social-liberal, como Dominique Strauss-Kahn. Ele não é um socialista verdadeiro. É um social-democrata. Por ele, não faria uma política radical. Para vencer, buscou o apoio da frente de Jean-Luc Mélenchon. Pode-se prever conflitos entre os verdadeiros socialistas e os social-democratas.