Pessoas saudosas pelo passado de Joinville resolveram criar um espaço no Facebook para compartilhar memórias e, ao perceberem o crescimento de adeptos, extrapolaram as fronteiras da internet para se reunir neste domingo de comemoração dos 192 anos de independência do Brasil. O grupo “Joinville de Ontem” tem 12.538 integrantes. Aproximadamente 170 deles compraram o ingresso para se encontrar na Sociedade Rio da Prata, em Pirabeiraba.
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Diante da repercussão, o criador do grupo, Valmir Santhiago, e outros integrantes resolveram organizar um evento, em que ofereceram almoço e café da tarde, regado ao compartilhar de memórias.
– Esse evento é importante porque resgata a história da cidade – explicou Santhiago, que concluiu – Remete ao passado. Remete à saudade.
A maioria das pessoas reunidas, de acordo com o criador do grupo, tem mais de 50 anos de experiência de vida. Trazem na bagagem a vontade de reviver um tempo em que Joinville rimava com “calmaria”.
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– Agora é uma metrópole. Fica a lembrança de um tempo – comentou Valmir.
Para Santhiago, é impossível lembrar de uma coisa só. Uma memória puxa a outra. Assim, pelo fio da meada, ele recorda da importância dos imigrantes.
– Eles desbravaram isso aqui – ressaltou ele.
Trajada de Frida, em homenagem aos alemães, a professora Carmen Fuchsberger recepcionou os participantes do evento. Quando aluna das Escola de Educação Básica Germano Timm e do Colégio Santos Anjos, ela sempre participava dos desfiles no dia 7 de setembro. Santhiago garantiu que a data do evento não foi uma homenagem, mas uma coincidência. No feriado, a maioria tinha disponibilidade para se reunir. Mas foi inevitável transitar por memórias de 40 anos de idade, que guardam o apreço pela independência do Brasil.
O sete de setembro de ontem
Saia de pregas, meia três quartos, sapato preto e uma espécie de suspensório completavam o uniforme de gala usado em ocasiões especiais pelos alunos do Santos Anjos, como o desfile em homenagem ao grito às margens do Ipiranga. Estudantes, militares e autoridades marchavam pela avenida Getúlio Vargas, em Joinville, na década de 1970. Todos participavam. Hoje, de acordo com Fuchsberger, tem quem se recuse a desfilar.
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Carmen, com laço nos cabelos, é a primeira a desfilar na segunda fila do pelotão
– A gente tinha um civismo muito grande, que hoje não tem – comparou a professora, que continuou a crítica – Era o patriotismo. As pessoas perderam isso. O amor ao seu país.
A professora lembra com saudade da época em que puxou o pelotão da escola. Com 1,73 metros, era uma das mais altas da turma. Desfilar era motivo de orgulho. Carmen e suas amigas “se sentiam o máximo”. Hoje, as dores no joelho a impedem de ficar muito tempo de pé e assistir ao passar dos pelotões. Além disso, para ver todas as escolas e instituições, ela teria que ir aos bairros da cidade, mais de uma vez.
– Naquela época, em que eu desfilava, era 7 de setembro mesmo! Hoje eles marcham desde o 1º dia do mês – lembrou ela.
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Os ensaios começavam meses antes. A rua do Príncipe era o local de ensaio dos alunos do Santos Anjos. Os estudantes cruzavam a avenida Juscelino Kubitschek, que não tinha passarela há 40 anos mas contava com fluxo de veículos menos intenso.
Mas nem tudo é tão diferente assim. As meninas do Santos Anjos, vestindo os trajes de gala, aguardavam os “moços” da Tupy. Eles esperavam por elas também, para inticar:
– Tá marchando com o pé errado – gritavam os garotos.