Em visita a Porto Alegre, nesta quarta-feira, o governador de Santa Catarina, Raimundo Colombo (PSD), defendeu a convocação extraordinária do Congresso no mês de julho, durante o recesso parlamentar. Convidado a palestrar no projeto Tá na Mesa, da Federação das Associações Comerciais e de Serviços do Rio Grande do Sul (Federasul), Colombo disse que o presidente interino Michel Temer precisa agir rápido. Na avaliação dele, o país “não pode mais esperar” e o mercado “precisa de sinalização”.

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Empresários e autoridades, entre elas o governador José Ivo Sartori, prestigiaram o visitante, que ganhou fama por gerir um Estado com contas equilibradas e capacidade de investimento — uma espécie de “oásis” em meio ao cenário de crise generalizada.

— A ascensão de Temer abre uma janela para mudanças, mas ele não pode se iludir e achar que tem tempo. Tem de convocar o Congresso em julho. Vai sofrer desgaste, mas será só por um mês. A pauta terá prazo determinado. Se deixar os deputados voltarem para as suas bases, a votação não sai antes de novembro — advertiu.

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Para Colombo, o setor público brasileiro “vai explodir”, se a reforma na previdência dos servidores federais não for priorizada. Até agora, a equipe econômica de Temer tem falado apenas na possibilidade de alterar as regras do regime geral, voltado aos trabalhadores do setor privado.

— É um momento difícil para todos nós, e eu sinceramente estou muito preocupado com o Brasil e com as coisas que virão nos próximos meses, caso a gente não tome as atitudes necessárias. Nosso problema não é só mudar pessoas, alterar siglas ou ideologias. O problema é estrutural — alertou.

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Questionado sobre a montagem do ministério do governo interino e as suspeitas que levaram à queda de dois ministros em menos de 20 dias, Colombo evitou criticar Temer diretamente.

Disse que a crise ética “é resultado de um modelo político absurdamente equivocado” e de um sistema que “apodreceu”. Reconheceu que a estratégia adotada pelo substituto de Dilma Rousseff priorizou a “lógica antiga”, da busca por maioria no Congresso, que Colombo considera “fracassada”.

— A minha esperança é de que ele faça o que precisa ser feito — declarou.

O chefe de Estado também falou sobre a Operação Lava-Jato e as delações premiadas — ele próprio foi citado pelo ex-senador Delcídio Amaral. Admitiu que a classe política precisa “corrigir erros” e entender que antigas práticas não podem mais se repetir.

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— Temos de ter a humildade de entender e ajudar nas transformações que o país deseja. As delações vão trazer a nu essa realidade e vão tornar irreversível a continuidade de alguns e superável a de outros. É um tumor que veio e que precisa ser extirpado — avaliou.

Em sua delação, Delcídio falou sobre um suposto encontro entre Colombo e o ex-ministro José Eduardo Cardozo em Florianópolis, em 2015. Na ocasião, segundo o ex-líder do governo Dilma no Senado, Cardozo teria pedido ajuda ao político catarinense para convencer um ministro do Superior Tribunal de Justiça a “mitigar os efeitos da Lava-Jato”.

— É desagradável, é ruim. Você fica chateado. Ele coloca que o ministro teria me procurado para fazer uma intervenção junto ao STJ para favorecer alguém, mas isso não aconteceu. E eu também nunca procurei ninguém — afirmou Colombo, em entrevista coletiva.

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Outro tema tratado foi renegociação da dívida dos Estados com a União. Santa Catarina foi a primeira a obter liminar no Supremo Tribunal Federal (STF) favorável à suspensão do pagamento. Depois disso, outros Estados, entre eles o Rio Grande do Sul, seguiram o mesmo caminho. Agora, por decisão do STF, Estados e União tentam chegar a um acordo sobre o tema, e Colombo disse estar otimista em relação ao resultado:

— Em 1998, Santa Catarina tinha uma dívida de R$ 4 bilhões. Nós pagamos R$ 13 bilhões, e hoje estamos devendo R$ 9 bilhões. É um negócio inaceitável. Nenhum agiota teria coragem de cobrar de alguém o que a União cobra dos Estados, por isso que a renegociação faz todo o sentido. Não queremos migalha ou favor. Só queremos justiça. E os sinais do governo indicam que teremos uma vitória.

Em vários momentos, antes e durante a palestra, o governador mencionou a parceria com Sartori na discussão sobre a dívida. Classificou o gaúcho como “homem de bem”, falou em “união de forças” e criticou a postura pessimista predominante no Estado.

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— Acho que vocês estão somatizando muito. O Rio Grande do Sul continua muito forte, muito vivo — ponderou.