Quando Adriana Tironi Vogel entrou em seu pátio naquele fim de manhã de uma sexta-feira, se deparou com o portão dos fundos aberto. Ao desviar o olhar, a janela da cozinha sem um vidro revelou o que já imaginava. Arrombada, sua casa havia sido furtada durante as cerca de duas horas em que ficou fora. No entroncamento das ruas Luiz Sarti, João Ropelatto e André Voltolini, no bairro Nereu Ramos, em Jaraguá do Sul, os furtos a residências têm sido constantes e assustam os moradores, que buscam em equipamentos de segurança e travas um pouco de tranquilidade. Com receio de deixarem os lares e na volta não encontrarem seus pertences, os moradores clamam por ajuda.
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Segundo informações da Polícia Militar, apenas cinco boletins de ocorrência sobre furtos foram registrados no bairro neste ano: três de furto a residência, um de carro e outro de uma bicicleta. Já os dados da Polícia Civil não são separados por bairros. O delegado regional Uriel Ribeiro conta, porém, que foram 64 furtos a casas neste ano na cidade. Os números não aparecem nos registros oficiais, mas cada caso está bem gravado na memória dos moradores. Adriana Vogel e seu marido Jorge Gercino Vogel Júnior citam com facilidade as ocorrências: o vizinho de perto dos trilhos já foi roubado duas vezes e agora colocou sua casa à venda. Na esquina, outra casa sofreu dois furtos e ganhou instalação de alarmes. A bicicleta de uma funcionária foi levada no meio do expediente, sob o olhar das câmeras de vigilância. E das quatro casas vizinhas à sua, duas sofreram tentativas de arrombamento e duas foram furtadas. Inclusive a de Adriana e Jorge.
Adriana e Jorge levaram algumas horas para listar tudo o que foi levado de sua casa, devido à completa bagunça deixada pelos ladrões. Tablets, notebook, tênis, três televisores e joias foram levados. Jorge deu sorte: percorreu o mato nos fundos da casa em busca de pistas e descobriu, escondidas sob uma lona, as três televisões da casa. O resto dos pertences não foi encontrado e ninguém foi preso.
É justamente o fundo das casas o possível acesso dos ladrões. O trilho passa por lá e é ladeado por mato e campos – rota fácil de fuga, longe dos olhos de quem passa pela rua e local ideal para esconder os objetos roubados. As casas que ficam nesse local são alvo mais frequente. Os vizinhos suspeitam de pessoas que são vistas circulando com frequência pelos trilhos. Porém, não há provas e a polícia pouco pode fazer, a não ser que haja flagrante.
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União e segurança
Os moradores do bairro já pediram, em diversas ocasiões, mais policiamento e a criação de um posto da Polícia Militar na localidade. Distante do Centro cerca de dez quilômetros, os atendimentos da polícia podem demorar. Segundo informações repassadas pelo sargento do 14º Batalhão da PM de Jaraguá do Sul, Luiz Antonio Wiltner, apenas uma viatura atende ao Nereu Ramos – e divide-se ainda entre o Três Rios do Sul, Três Rios do Norte, Santo Antônio, o Ribeirão Cavalo, o Estrada Nova e parte do Amizade. O baixo número de efetivos impossibilita o deslocamento de mais viaturas para a região.
Para buscar mais segurança, os moradores resolveram agir por conta própria. Um grupo no WhatsApp foi criado e por ali os vizinhos avisam um ao outro em casos de situações suspeitas: uma janela aberta, um alarme que disparou, pessoas circulando pelos trilhos. Alertas, eles buscam proteger-se mutuamente por meio da informação.
A importância dos BOs
Segundo o sargento Wiltner, muitos moradores acreditam que registrar o boletim de ocorrência não trará resultados concretos, especialmente quanto à recuperação dos objetos furtados. Por isso, muitos sequer procuram a polícia para avisar sobre os furtos.
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– Entretanto, muitos desconhecem que os boletins de ocorrência são inseridos em um sistema que nos mostra em números a criminalidade em determinada região, ou seja, mesmo que alguém tenha uma bicicleta velha furtada ou o muro pichado, deve acionar o 190 para que uma viatura lavre o BO – ensina Wiltner.
Ele acrescenta que as ações da PM só são tomadas com base nos dados registrados. O sargento explica que a diferença entre o que ocorre na realidade e os dados registrados chama-se “cifra oculta”: fatos que ocorrem e que não chegam ao conhecimento das instituições policiais. Portanto, se não há registro, não há base estatística para justificar a intensificação de policiamento. Ele destaca, ainda, que a Polícia Militar faz os boletins de ocorrência no próprio local, porém, se o documento não é feito na hora, a vítima tem que se deslocar até a delegacia para registrar a ocorrência.