A curiosidade e a falta de limites, aliadas ao avanço da tecnologia, estão permitindo que conteúdos agressivos se propaguem rapidamente e a um número cada vez maior de pessoas. Há poucos dias, em questão de horas, imagens do acidente sofrido por Maristela Stringhini, 40 anos, eram compartilhadas entre usuários do WhatsApp, o aplicativo que permite a troca de mensagens pelo celular. Na madrugada do dia 13 ela estava em uma moto com o namorado quando foi atingida por uma Saveiro. Com o impacto, caiu no chão e ficou presa ao veículo, sendo arrastada por 700 metros no Centro de Rio do Sul.
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Nem o condutor da Saveiro nem o da moto se feriram. Maristela, por sua vez, teve queimaduras nos braços, costas e pernas. E por causa do contato do corpo com o asfalto, teve os seios mutilados. Apesar da gravidade do caso, usuários do WhatsApp não se sentiram perturbados em ver e disseminar tais imagens.
A psicóloga Christine Gabel explica que o interesse por conteúdos dessa natureza é antigo. O que ela chama de situação mórbida, a vontade das pessoas em esquadrinhar detalhes de uma tragédia, tornou-se parte do comportamento humano. Curiosidade em vez de repulsa não é novidade. O novo agora é o acesso a redes sociais, que permitem propagar imagens na velocidade de um vírus, e a celulares sofisticados, que geram fotos e vídeos de qualidade cada vez superior.
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– A tecnologia potencializa esse traço comportamental – explica Christine.
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Em alguns casos, soma-se a esses elementos o pouco apreço aos limites:
– Pessoas assim só se preocupam em satisfazer as próprias necessidades.
Dois dias antes do acidente de Maristela, uma página sobre o bairro da Velha no Facebook, curtida por pouco mais de 3 mil pessoas, publicou a foto de um corpo carbonizado em um acidente na BR-470. Usuários postaram mensagens criticando a divulgação da imagem e pedindo a retirada. Entre acusações de sensacionalismo e falta de respeito com a vítima e a família, a imagem foi excluída. No entanto, continuou circulando pelos grupos de WhatsApp.
Mestre em Tecnologia da Informação, a professora da Univali Heloisa Helena Leal Gonçalves aponta que a troca ou publicação dessas informações está ligada à necessidade de integrar um grupo. Para ela, a rede é apenas o espaço onde isso ocorre. Se na virada do século a moda era compartilhar por e-mail mensagens em Power Point, agora o fenômeno é disseminar conteúdos mais agressivos.
– Acho que a gente não vai conseguir coibir isso. O que se pode fazer é um trabalho de conscientização na escola, na família – afirma Heloisa.
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