O naufrágio da tarde de sábado quase custou a vida do empresário Mayron Dalla Santa de Carvalho, 26 anos, de Caxias do Sul. Ele chegou a ficar um minuto preso debaixo d’água. Também temeu por um casal de amigos alemães, o advogado Thomas Weiser e a assistente social Sabine, ambos de 49 anos, que vieram da Europa passar uma temporada com ele e vão voltar assustados com as condições de segurança no país:

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Zero Hora – Quais eram as condições da embarcação?

Mayron de Carvalho – Um funcionário disse que o barco era de alta tecnologia, com rádio e GPS, e que a navegação seria tranquila naquele dia. Fomos entrando um a um. Foi respeitada a capacidade de 20 passageiros e dois tripulantes, mas uma mãe e uma criança ficaram no chão, não havia lugar para todos sentarem. Achei os coletes salva-vidas de péssima qualidade.

ZH – Quando os problemas começaram?

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Carvalho – Depois de 25 minutos, o barco começou a encher de água, por causa do choque com as ondas. Elas vinham de cinco em cinco segundos, e ventava bastante.

ZH – Como foi o naufrágio?

Carvalho – O barco bateu de frente com uma onda. Entrou muita água. A base de fibra se soltou da boia e naufragou. O bico afundou. Todo mundo correu para a parte de trás. Eu perguntei ao comandante onde estava o rádio e se tinha sinalizador, mas a resposta dele não passou segurança, o que causou desespero. Foi aterrorizante, um trauma. Vi que nossa vida estava em risco.

ZH – Como vocês conseguiram pedir ajuda?

Carvalho – Um passageiro disse que tinha celular. Um tripulante telefonou para a pousada e disse que estávamos naufragados.

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ZH – Houve outros momentos de risco?

Carvalho – Nós estávamos segurando entre o barco e a boia. Segundos depois do telefonema, a parte de trás do barco se descolou da boia também e afundou. Foi todo mundo para dentro do mar. Quando isso aconteceu, fui empurrado para baixo da água pelo teto de lona. Ao mesmo tempo, o colete me puxava para cima. Fiquei submerso por quase um minuto. Abri os olhos dentro do mar, achei a barra que segurava o teto e puxei. Foi assim que consegui sair.

ZH – E a espera pelo socorro?

Carvalho – Alguns começaram a se afastar pela água, em pânico, sem saber o que fazer. Consegui puxá-los de volta com um remo. Ficou todo mundo em volta das boias. O tripulante do barco foi guerreiro. Enquanto o comandante estava na boia, ele ficou o tempo todo nadando e segurando a criança, sem colete.

ZH – Quanto tempo vocês ficaram na água?

Carvalho – Entre 25 e 35 minutos. Quando o helicóptero chegou, um bombeiro saltou e salvou a criança. Mas ainda não estávamos 100% tranquilos. Começou a entrar água no barco dos bombeiros. Chegaram vários jet skis particulares, que foram levando os passageiros para a costa.

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ZH – Qual foi a reação de seus amigos da Alemanha?

Carvalho – Ficaram assustados, com uma impressão de falta de segurança nos serviços brasileiros. A Sabine ainda chora.