A Av. Josué di Bernardi até tenta separar São José de Florianópolis, mas não há qualquer diferença no cenário social e de infraestrutura entre os dois lados quando se cruza a Via Expressa (BR-282). Tanto que nesta sexta-feira os moradores e comerciantes das duas margens se juntaram para protestar pelo mesmo problema: o aumento no número de moradores de rua que usam crack na região.
Continua depois da publicidade
::: Moradores e comerciantes fazem protesto após galpão ser incendiado em São José
::: Donos de estofaria incendiada em São José precisam de ajuda para recomeçar
::: Incêndio atinge casa, loja de autopeças e estofaria no bairro Campinas, São José
Continua depois da publicidade
::: Leia todas as notícias da Grande Florianópolis
Na segunda-feira uma estofaria de mais de 30 anos foi destruída por fogo e o proprietário, Carlos Renato Silva, acredita que as chamas teriam iniciado em um galpão abandonado ao lado, utilizado frequentemente por usuários de drogas. O misto de indignação e desespero do dono do estabelecimento, que estimou até agora um prejuízo de R$ 800 mil, contagiou a comunidade para reclamar a presença de fato do poder público.
Pneus foram incendiados em frente ao que restou da estrutura da estofaria, num ato simbólico – para comprar a pedra do crack na região, os usuários furtam fios e objetos de metal ou cobre e queimam a borracha que revestem estes materiais.
A prefeitura de São José se manifestou por nota, alegando que são constantes as ações na região do viaduto, com intervenções de limpeza, Saúde, Segurança e Assistência Social. Somente neste ano, as equipes da Assistência Social abordaram 633 pessoas e, destas, 478 foram retiradas, 269 encaminhadas para tratamento em comunidades terapêuticas, 56 retornaram para suas cidades de origem e 153 foram encaminhadas para casas de acolhimento.
Continua depois da publicidade
Carlos denunciou a falta de limpeza do terreno três vezes
Carlos Renato Silva aprendeu com o pai o ofício de estofaria e não sabe como se reerguer. Para piorar, de quatro carros que estavam estacionados no galpão durante o incêndio, apenas um tinha seguro. Todos foram destruídos, entre eles uma BMW, avaliada em R$ 500 mil.
– O meu estabelecimento foi o terceiro a pegar fogo. Já denunciei para a ouvidoria da Prefeitura de São José e ninguém tomou nenhuma providência – disse Carlos Renato Silva, que revelou ter uma auditoria aberta na Guarda Municipal para apurar possível caso de omissão.
De acordo com a nota da prefeitura, 329 intimações para limpeza de terreno foram feitas em 2014, a maior parte vinda de denúncias registradas na própria ouvidoria _ pelo telefone 0800 644 9040 ou o site www.pmsj.sc.gov.br. As denúncias são encaminhadas para a Secretaria de Serviços Públicos que enviam fiscais ao local que podem notificar o proprietário do terreno a fazer limpeza, construir muro ou passeio, com prazo determinado em lei, sob pena de multa.
Continua depois da publicidade
Fiscalização deve ser intensificada
O ciclo do crack é de conhecimento popular na região do entorno da Via Expressa. Os usuários furtam peças de metal ou fios de cobre de residências e comércios da região, queimam nas margens da rodovia, a olhos vistos, e depois trocam o material em ferros-velhos dos dois lados – mesmo sendo a compra de cobre furtado enquadrado no crime de receptação.
Entre agosto e setembro, a Secretaria do Continente de Florianópolis alega em nota ter interditou 12 estabelecimentos por não ter alvará de funcionamento nos Bairros Chico Mendes e Monte Cristo. A metade deles voltou a funcionar com licença provisória de seis meses.
No lado de São José, a Secretaria da Receita informa que na semana que vem vai fazer um mutirão de fiscalização em setores do município, incluindo estes locais. Até o final do ano, novos fiscais, já aprovados em concurso público, devem ser chamados pelo município.
Continua depois da publicidade
Recusa de Tratamento
O coordenador do Centro Pop de Florianópolis, Edelvan Jesus da Conceição, conta que a divisa é usada pelos moradores de rua durante o trabalho de abordagem para tratamento ou outro tipo de atendimento. De acordo com ele, quando as equipes se aproximam do lado de Florianópolis, o grupo foge para o lado de São José.
– O mesmo ocorre no caminho contrário. É preciso fazer uma ação conjunta, mas isto não é possível sempre por questões de demanda, pessoal e outras circunstâncias. Outra dificuldade é que muitas das pessoas nesta situação não querem nem conversa – disse ele, sem informar quantas.
A prefeitura de São José deve inaugurar ainda em novembro o Centro de Atendimento Psicossocial Ácool e Drogas (Caps AD), localizado no Loteamento Ana Clara, no bairro Areias – resta a apresentação dos candidatos aprovados no concurso.
Continua depois da publicidade
A expectativa é que sejam feitos 100 atendimentos por dia entre consultas e grupos de apoio. Além disto, o município aderiu ao programa “Crack, é possível vencer”, desenvolvido pelo Governo Federal. Até o final, são aguardados recursos para informativos, capacitação de profissionais e aumento da oferta de tratamento.
Em caso de denúncias sobre terrenos baldios, ferro-velhos com atividade suspeita e outras irregularidades, dois telefones podem servir como canal:
– Fiscalização da Secretaria do Continente de Florianópolis – 3271-7934
Continua depois da publicidade
– Ouvidoria da Prefeitura de São José – 0800 – 644 9040 ou www.pmsj.sc.gov.br