O judoca Flávio Canto esteve em Florianópolis nesta segunda-feira para um talk show com alunos de escolas de artes marciais da região da Grande Florianópolis. Ele dividiu com a plateia os ensinamentos que aprendeu com o judô, ensinou golpes e contou sobre o trabalho que faz no Instituto Reação, organização fundada por ele que trabalha com crianças e jovens em bairros da periferia do Rio de Janeiro.
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Flávio Canto divide os ensinamentos que aprendeu com o judô
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Como está o judô brasileiro para o Rio 2016? Temos boas chances?
O Brasil teve uma Olimpíada de 2012 muito boa, tivemos quatro medalhas. No Mundial, em 2013, foram seis, em 2014 mais quatro e no ano passado apenas duas. Tivemos que ligar o alarme e de alguns meses para cá os atletas que não estavam indo bem voltaram a ter bons resultados. Com isso, elevou a nossa expectativa.
Mas neste final de semana aconteceu a última competição classificatória para o ranking olímpico e o Brasil não foi bem, conseguiu só duas medalhas de prata (com Sarah Manezes e Mayra Aguiar). É um torneio com os 16 melhores do mundo em cada categoria, poderia servir de base para o Brasil e não fomos muito bem. Temos que refletir e avaliar o que aconteceu a dois meses da Olimpíada. Eu contava com quatro ou cinco medalhas, se alcançarmos esse número vai ser bom demais. Estou preocupado com o que pode acontecer nos Jogos.
Você percebe o espírito olímpico presente entre os brasileiros a dois meses para os Jogos?
As pessoas fazem uma associação de Olimpíada diferente do que fazem com o futebol. O espírito olímpico tem valores muito bonitos de determinação e superação. Há uma resistência muito menor com relação a Olimpíada do que vimos com a Copa do Mundo no Brasil. Estamos passando por um ano tão difícil e é uma pena que haja pouco engajamento. Mas ao mesmo tempo os Jogos podem servir de alento, um divisor no estado de espírito dos brasileiros.
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Por ser aqui no Brasil e ter mais investimentos no esporte, acho que teremos boas referências após a Olimpíada, os atletas representam muito isso, trazem essa mensagem de coragem, de determinação. O Guga é um grande exemplo. Você olha para ele e sente que nos representa. A gente vai ter um monte de Guguinha nos Jogos que vão levantar a nossa autoestima. É um momento de esperança, precisamos nos sentir bem como brasileiros.
Você é um ídolo no esporte e também tem um papel importante para muitas crianças. Como encara isso?
Eu acho que faz parte do pacote, vejo com naturalidade. Não sou pai ainda, mas acho que a figura do professor é semelhante a de pai, fala-se sobre valores, virtudes, comportamentos. Começamos a fazer uma avaliação para ver se praticamos o que falamos. Essa coisa de ter um bom resultado no esporte é uma responsabilidade que você tem que carregar.
Qual é o prazer de trabalhar com crianças? O esporte salva?
Eu tenho uma família maravilhosa, mas o esporte é um grande aliado na minha educação. O Instituto Reação tem 16 anos, surgiu de uma vontade de ajudar o mundo, mas eu não sabia como. Então escolhi o judô, que era o que eu sabia fazer melhor. Tivemos um caso difícil, um garoto nosso foi assassinado e, no velório, os amigos colocaram a camisa do Reação no peito dele. Foi um momento que eu percebi que a gente tinha uma ferramenta poderosa, para dar pertencimento.
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Como funciona o instituto?
Comecei dando aula como voluntário, em uma parceria com a prefeitura. Em uma troca de mandato o projeto ficou sem apoio e eu chamei alguns amigos para me ajudar. Cada um pagava um boleto mensal fixo e assim foi o nosso começo. A coisa cresceu e hoje temos 1,4 mil alunos, espalhados em seis polos no Rio de Janeiro. Temos três programas e um deles é o olímpico, que tem dois atletas classificados para as Olimpíadas Rio 2016. A primeira campeã mundial do judô brasileiro, Rafaela Silva, é uma atleta do Reação e que está classificada para o Rio 2016. Cada dia é uma aula nova, a gente aprende muito mais do que ensina.