Um dos momentos mais citados no processo de impeachment (nacional e internacionalmente) foi quando o deputado Jair Bolsonaro resolveu exaltar um conhecido torturador da época da ditadura brasileira. Sem dúvidas, foi um dos períodos históricos que menos cicatrizou na memória do povo. O próprio cinema já demonstrou diversas vezes sequelas sociais, individuais e impossíveis de apagar.
Continua depois da publicidade
Leia as últimas colunas de Andrey Lehnemann
Conheça Gabriela Petry, atriz catarinense que atua no filme O Escaravelho do Diabo
Dossiê Jango, do brilhante Paulo Henrique Fontenelle, por exemplo, evidenciou as dúvidas que ainda permeavam a morte do ex-presidente João Goulart e a Operação Condor, patrocinada pelos EUA para assassinar líderes populares na América Latina. Um processo cuidadoso com depoimentos fortíssimos que denunciavam as articulações políticas para sumir com documentos e pessoas, mas que assustava por não ser ficcional. Uma fala do general Carlos Guedes tornava-se uma promessa de perigo ao falar daquele momento histórico por que passamos: ¿Se não amarmos a deus, temos que temê-lo!¿. A figura divina, nesse caso, é o Estado.
O Que é Isso Companheiro?, de Bruno Barreto, que chegou a concorrer ao Oscar, cita uma ação feita por militantes contra um embaixador americano. Figuras conhecidas, como Fernando Gabeira, Franklin Martins e Joaquim Câmara, eram os protagonistas. O mesmo se dá com o documentário Hércules 56, cuja narrativa intercala depoimentos dos ativistas com a libertação de 15 presos políticos feita por eles. Vlado – 30 Anos Depois, de João Batista de Andrade, igualmente, tornou-se uma obra dona de um silêncio devastador ao fim, cobrindo uma das figuras mais icônicas do período: Vladimir Herzog. Jornalistas que cobriam o período também foram retratados no excelente Batismo de Sangue, do mineiro Helvecio Ratton, que acompanhou principalmente a ação de frades dominicanos que ajudaram guerrilheiros a passar a fronteira para se esconder de torturadores. Com isso, foram os cristãos que acabaram sofrendo as consequências do cárcere. A primeira cena do filme, com Frei Tito numa árvore, continua uma das mais inesquecíveis da década passada. São inúmeros casos que denunciam o período fúnebre por que esse e outros países da América Latina passaram. E é surpreendente que, nesta história recente, da qual ainda juntamos cacos, ainda temos muito o que aprender.
Continua depois da publicidade
Outros filmes importantes sobre a ditadura brasileira
Um Ato de Fé
Cabra Marcado pra Morrer
Brizola
Cabra-Cega
Pra Frente, Brasil
Marighella
O Ano em que Meus Pais Saíram de Férias
O dia que Durou 21 Anos
No Netflix
O documentário de José Padilha Ônibus 174 é um grande exemplo ao diagnosticar exclusão social. O diretor tira o foco da situação, do sequestro no transporte coletivo, para denunciar quem aquela pessoa era antes e como ela chegou até ali. O resultado é um dos melhores testemunhos que poderíamos ter sobre a transformação de um jovem em um criminoso.