Uma das figuras mais importantes da história do Figueirense foi um major. José Mauro da Costa Ortiga foi presidente do clube de 1972 a 1976. Nesse tempo, com pulso firme e muita criatividade, trouxe novamente ao Estádio Orlando Scarpelli o título do Campeonato Catarinense, botando fim a um jejum de 30 anos sem conquistas.
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Pois hoje, o Alvinegro tem Argel, uma nova figura de liderança, um verdadeiro general para seus jogadores, carinhosamente chamados de soldados. Esse general hoje completa um ano no comando técnico do Figueirense.
No dia 24 de julho de 2014, Argel Fucks foi contratado para tirar o Furacão da zona de rebaixamento da Série A do Campeonato Brasileiro. Quando o treinador assumiu o time era um dos principais candidatos à Segunda Divisão. Pois, com Argel no comando o Figueirense deixou o Z-4 e com três rodadas de antecedência.
Ele poderia ter saído do clube ao final do ano, mas renovou o contrato e ficou para conquistar o título do Campeonato Catarinense – que foi confirmado pelo Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD) na semana passada depois de imbróglio jurídico com o Joinville.
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O último técnico a ficar tanto tempo no Furacão foi Márcio Goiano, que assumiu em 2010 e só deixou o time no Catarinense de 2011, demitido depois de perder o primeiro turno do Estadual.
O terceiro mais antigo no cargo
No Brasil, apenas dois treinadores estão há mais tempo no cargo do que Argel Fucks. O primeiro é Eduardo Baptista que está no Sport desde o dia 31 de janeiro de 2014. O outro é Levir Culpi que será adversário do Figueira amanhã, às 21h, no Independência. O técnico do Atlético-MG foi contratado no dia 24 de abril do ano passado.
– No Brasil é notícia que o técnico está um ano no clube. Mas é assim que funciona o mercado. O que me deixa feliz no Figueirense é que em um ano conseguimos mudar a cara do time, na maneira de jogar, hoje somos mais aguerridos – analisou Argel, que recebeu a reportagem em sua casa, no centro de Florianópolis, para uma conversa de mais de uma hora
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Confira o bate-papo completo com o técnico do Figueirense:
No Figueirense tiveram mais paciência com o Argel, por isso você completa um ano no clube?
Ficar um ano em um clube e no Brasil é uma marca histórica. Acho que isso é fruto da sequência do trabalho e, claro, dos resultados. Esse é o primeiro clube que fico um ano e já deveria ter acontecido antes, no Criciúma. Eu nunca me rotulei como técnico para períodos curtos, mas muitas vezes isso acontece pela falta de resultados ou pela impaciência. Sabia que isso iria acontecer. É uma marca importante na minha carreira.
Além dos resultados, o que fez você continuar no clube?
O técnico não pode centralizar muito as coisas. Ele tem é que colocar o que tem de melhor. A minha sala está sempre aberta para todos os funcionários do clube. O que eu sinto hoje no Figueira é uma harmonia entre todos o que me faz concentrar apenas no futebol. Lá é cada um no seu quadrado.
Você recebeu muitas propostas e de times grandes, por que nunca saiu?
Não tenho ansiedade de sair do Figueirense, estou muito feliz e me dão as condições de trabalho. Temos resultados. Em 34 jogos no Orlando Scarpelli perdemos só três jogos. Para mim o trabalho é importante e a minha intenção é continuar mais dois anos no clube.
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Uma frase famosa sua é: “Treino é jogo. Jogo é Guerra”. Por que isso?
Gosto dessa guerra do futebol e me sinto bem nisso. Adoro quando as pessoas me subestimam. Isso me dá ainda mais forças. Eu vivo futebol há 25 anos e aprendi que o mar calmo não cria marinheiro. Isso ajuda a aumentar a competitividade dos nosso jogadores.
E os soldados?
Dentro do Figueirense eu tenho verdadeiros soldados e não é fácil ter o comando em cima de 35 jogadores. Cada um com a sua mania e jeito de fazer as coisas. Há muito tempo eles entenderam que a novidade em uma partida de futebol é ganhar. Não existe outra possibilidade.
Você tem ótimas frases, de onde vem elas?
Isso é natural. As coisas fluem facilmente, acho que isso é um dom. Quando vou fazer a preleção antes dos jogos, principalmente em partidas importantes, essas frases saem automaticamente. As preleções têm em torno de 25 minutos e nunca me preparei para isso. Eu não fico pensando nelas, apenas sai. Algumas vezes aprendo algumas. Tem uma do Vanderlei (Luxemburgo) que é muito boa: “Quer moleza? Mastiga água”. Essas coisas saem muito da minha criação, da minha infância.
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E essa tatuagem de um rosário no braço esquerdo?
Isso é uma coisa pessoal de fé. Sou católico praticante, mas tenho muito respeito por todas as religiões. Sempre convivi muito bem com isso. Religião cada um tem a sua é como time de futebol. Eu sempre queria fazer um rosário porque acho que hoje no mundo a fé é muito importante e ter um tempo para se dedicar a Deus também. Fiz ela uma semana antes de enfrentar o Avaí na Copa do Brasil.
De onde vem essa fé?
Isso é uma herança do meu pai. A nossa vida sempre foi muito dura. Cheguei em Porto Alegre com 14 anos com uma mochila, uma calça jeans, um kichute e o sonho de ser jogador. Por isso agradeço a Deus e também ao Charles Miller (responsável por trazer o futebol ao Brasil). Brinco com os jogadores que temos que agradecer a ele, porque se não estaríamos desempregados (risos). O futebol envolve muita gente e movimenta muita coisa. É importante para a economia.
E o que um bom treinador tem que ter?
Um bom treinador de futebol é aquele que tem um bom comando de vestiário. A parte tática e técnica você vai acertar e errar como todos os outros técnicos. O comando é importante porque você é o espelho do clube e é aquele que tem que sempre tomar a decisão certa no momento mais difícil. Eu acredito que estou melhor a cada ano, sou como vinho quanto mais velho, melhor.
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Argel, em pouco tempo você criou uma identificação grande com o Figueira. Por que foi tão rápido esse entrosamento?
Para algumas pessoas isso é um defeito, mas para mim é uma virtude. Eu consigo me identificar com os clubes que trabalho com muita rapidez. Isso desde jogador. Eu me apaixono muito fácil pelo clube que estou trabalhando. Quando eu visto a camisa do Figueirense é como se eu fosse para uma batalha. Isso, às vezes, magoa algumas pessoas. Mas quero que elas entendam que não é só com o Figueira, foi assim com o Criciúma, Joinville, tantos outros.
Qual é a tua adrenalina hoje?
A minha é poder jogar na lateral, no ataque, no meio de campo. Tudo isso assistindo aos jogadores, vendo que o trabalho que fizemos eles estão conseguindo por em campo. Mas o que mais me orgulha é a confiança deles em mim
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