As famílias e os militantes do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST) que estavam acampados desde abril numa fazenda em Garuva montaram acampamento em um outro terreno particular, desta vez em Araquari, no Norte de Santa Catarina. Contratado pelo proprietário do terreno, o advogado Alvaro Carlos Meyer afirmou à reportagem do jornal A Notícia que deve protocolar a ação de reintegração de posse até a próxima terça-feira, dia 29 de agosto.

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De acordo com a direção do MST, há cerca de 150 famílias se deslocando para o terreno, localizado na Estrada Porto Grande, na localidade de Corveta. A propriedade é da Florasa, uma empresa que comercializa plantas ornamentais. O MST alega que a terra não cumpre sua função social e que a terra estaria abandonada há quatro anos. Os proprietários negam o abandono.

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Os carros começaram a chegar no local ao amanhecer de terça-feira, surpreendendo os moradores da região. Na tarde desta quarta-feira, quando a equipe de reportagem do A Notícia esteve no local, as famílias trabalhavam para organizar o acampamento. Uma bandeira do MST foi hasteada no portão do terreno, caminhões entravam e saíam e as famílias erguiam seus barracos.

Neuza Aparecida Mendes, de 53 anos, morava no bairro Jardim Paraíso, em Joinville, antes de se mudar para a ocupação em Garuva e agora para Araquari. Neuza afirmou que tem casa própria em Joinville, mas está lutando para ter um lugar para plantar. Também justificou que busca um lugar menos violento para morar. Nesta quarta-feira, ela foi uma das responsáveis por preparar o almoço do acampamento: arroz, frango e macarrão.

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– Para muitos, aqui só tem bandido. Mas aqui tem muito amor. É como diz um slogan: “companheiro que é companheiro divide o pão”. Ninguém deixa ninguém na mão. O mundo está como está por falta de amor. Nosso objetivo aqui é construir, não destruir. Não vai ser fácil, mas vamos vencer. Para Deus, nada é impossível – afirmou.

De acordo com Geziel Bernardes, um dos acampados que integra a comissão do acampamento, o objetivo do movimento é manter as plantações existentes no terreno e ampliar as atividades no local, com pecuária, produção de mel e plantação de hortaliças e verduras. Segundo Geziel, as decisões do acampamento são tomadas em assembleias que contam com a participação de todos os acampados. Há comissões para cuidar de diferentes áreas, como saúde e infraestrutura.

– Nossa luta é por terra, para mudar a sociedade e pela reforma agrária. É como dizem por aí: “tem muita terra sem gente e muita gente sem terra” – disse Geziel, que afirmou ser artista plástico.

A maioria dos acampados, segundo Geziel, está desempregada, é de baixa renda e morava em Joinville e Araquari. Também há pessoas de cidades mais distantes. Geziel, por exemplo, veio de Caxias do Sul-RS. A intenção do MST é pressionar o Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) a comprar a área e distribuí-la para reforma agrária.

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Eliane Ribeiro, de 42 anos, que ocupava o terreno em Garuva, também se deslocou para o novo acampamento. Natural de Guarapuava-PR, ela se mudou para Joinville há alguns anos, onde trabalhou como catadora de lixo. Agora, tenta uma nova vida no acampamento Egídio Brunetto – o nome é uma homenagem à Egídio Brunetto, que era responsável pelas relações internacionais do MST e morreu em 2011, em um acidente de carro, em Mato Grosso do Sul. Eliane integra a comissão de saúde do acampamento.

O movimento informou que pretende agendar uma reunião com a Prefeitura de Araquari para tratar de serviços oferecidos às famílias do acampamento. Procurada, a assessoria de imprensa a Prefeitura informou que ainda não foi procurada e que o setor jurídico recomendou que o proprietário protocole uma ação de reintegração de posse.

Reintegração de posse

O advogado Alvaro Carlos Meyer afirmou que ainda está analisando a documentação, mas até a próxima terça-feira, dia 29 de agosto, ele deve protocolar a ação de reintegração de posse. O advogado afirmou que seu cliente não tem nenhuma dívida agrária e que vai defender o “dever constitucional da propriedade”. Alvaro foi responsável pela ação de reintegração de posse do terreno em Garuva.

– Não existe nada de abandono, é tudo falácia do movimento. Há casas ocupadas, as plantas estão sendo vendidas. Se o proprietário está vendendo, é direito dele. O terreno está à venda, mas a área continua em plena atividade – defendeu Alvaro.

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Acampados querem terra para plantar

Todas as pessoas entrevistadas pelo jornal A Notícia afirmaram que buscam no acampamento um lugar para plantar. Entre elas, está Gumercindo Gonçalves de Araújo, de 65 anos. Na tarde desta quarta-feira, ele carregava pedaços de madeira para construir um barraco que deve abrigar ele e mais dois filhos.

– Eu preciso de terras, me criei no sítio. Quero plantar para comer e para vender. Temos que batalhar – disse Gumercindo, que antes de acampar com o MST morava em Joinville. Ele é natural de Francisco Beltrão-PR e há oito anos mora em Santa Catarina.

Neide Gonçalves, de 51 anos, está no acampamento com mais quatro familiares. Ela conta que estava desempregada há dois anos. Antes de trabalhar como caseira em Joinville já tinha trabalhado plantando maracujá em Araquari. Junto de Neide, um filho, a nora, o marido e dois netos vão tentar uma nova vida no acampamento.