Com a água do rio Piraí correndo na altura do joelho, a dona de casa Sueli Borges de Oliveira batia roupas nas pedras e torcia peça por peça para levar para casa e estender.

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A cena quase impensável, numa época em que a maioria das famílias dispõe de tanques e máquinas modernas de lavar roupas, ocorreu na tarde desta quarta-feira e foi, na verdade, um protesto.

Sueli e outros moradores de dois loteamentos do bairro Itinga, em Araquari, lavaram roupas e tomaram banho nas águas do rio Piraí, na localidade do Jacu, uma forma inusitada de protestar pela falta de água nas torneiras das casas.

Há pelo menos 20 dias os moradores dos loteamentos São Benedito e Santa Mônica estão com o abastecimento comprometido. A água não tem chegado nos reservatórios das casas e os caminhões-pipa enviados pela Casan passam uma vez por semana em cada uma das ruas.

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Cerca de dez famílias percorreram 10 quilômetros pelas BRs 280 e 101 até a ponte José de Oliveira, numa região conhecida como Jacu, área rural de Araquari.

Debaixo da estrutura alta de concreto, cercada por morros, corria uma água avermelhada, imprópria para o banho ou para o consumo. Mesmo assim, os moradores levaram vários baldes com roupas sujas, sabão, sabonete e até shampoo e creme para o cabelo.

-Já paramos o trânsito no Itinga, já conversamos com os vereadores e ligamos todos os dias para a Casan, mas nada tem dado resultado. Queremos água na torneira. Estamos pagando-, dizia Sueli, umas das mais revoltadas com a situação.

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Ela mora em uma das ruas do Loteamento Santa Mônica, onde não há água com regularidade desde o fim do ano passado.

O vigilante Vanderlei Abatti e a dona de casa Elizete Costa deixaram o grupo e foram para o meio do rio, onde havia pedras maiores. Torceram dois baldes de roupas, sozinhos.

-Não é por causa da roupa suja. O problema é que meu marido está doente. Precisa dois banhos por dia. Não podemos nem cozinhar direito-, dizia Elizete.

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O protesto durou cerca de três horas. Os moradores tentam discutir com a Prefeitura e a Casan uma alternativa para o abastecimento oficial, que hoje é feito pela Companhia Águas de Joinville, em convênio com a Casan.

Casan espera resolver o problema esta semana

O superintendente da Casan para o Norte do Estado, César Luis Cunha, diz que um sistema novo de tratamento e abastecimento está sendo construído, emergencialmente, para abastecer as regiões mais atingidas.

A previsão é de que até sexta-feira seja possível encher dois reservatórios com 20 mil litros cada, o que resolveria o problema provisoriamente. Em vez dos caminhões-pipa, a empresa encherá esses reservatórios e tratará a água para a população.

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Técnicos da Casan também já identificaram dois locais para perfuração de poços artesianos. Os projetos já estão prontos, mas faltam as licenças ambientais para que sejam iniciadas as perfurações.

Vazamento na zona Sul

A Companhia Águas de Joinville informou que localizou e consertou um vazamento na rua Santa Catarina, no bairro Floresta, que estava prejudicando o abastecimento de toda a zona Sul da cidade e, consequentemente, da região do Itinga, em Joinville e Araquari.

-O vazamento não era facilmente percebido porque a água caía num riacho próximo-, disse o fiscal de serviços da Águas de Joinville, Marcos Moisés Müller.

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Segundo a companhia, o sistema já começou a voltar ao normal ainda na manhã desta quarta-feira. Além do reparo na rua Santa Catarina, a Águas de Joinville consertou mais de quarenta pequenos vazamentos. Também foram encontradas duas ligações irregulares na rua Lagoa Azul, no bairro Itinga.

-É importante lembrar que, mesmo com o abastecimento voltando ao normal aos poucos, toda a cidade deve continuar a usar água sem desperdício-, afirma o gerente Cristian Ricardo dos Santos.

Em médio prazo, com a inauguração da nova adutora do Piraí, prevista para março, a região terá melhora no sistema de distribuição de água, beneficiando cerca de 200 mil moradores.

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