Há uma semana, Marli Franco voltou à sua casa, às margens do km 73 da BR-280, em Jaraguá do Sul. Identificar a residência logo após a curva do crematório não é difícil. O marrom-avermelhado rasga a paisagem na forma de uma montanha de terra, resultado do deslizamento de um morro. Escondida sob o barro estão os restos da serraria, única fonte de renda para o sustento do casal, de dois filhos e três netos.
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No dia 7 de junho, a encosta desmoronou e levou consigo não apenas o trabalho de Marli e de seu marido Angelo Antunes, mas também um mês de convivência familiar. Por 32 dias, Marli, uma filha e três netos viveram no abrigo municipal, já que a casa foi interditada pela Defesa Civil pelo risco de mais terra deslizar. Angelo e o filho permaneceram na casa de um vizinho próximo para cuidar dos pertences que restaram.
– São 32 anos de casados e foram 32 dias separados. Foi muito difícil. A gente sabe do risco que corre, mas não tinha mais condições de ficar lá – lamenta Marli.
Agora, resta uma mistura de alívio por deixar o abrigo, e de tristeza por ver de perto tudo que a família perdeu. Ao redor da casa há máquinas retorcidas e sujas de barro, espalhadas pelo pátio junto a restos de madeira. Tudo resgatado da antiga serraria, em uma tentativa de salvar algum pertence.
Com um galpão que precisa ser reconstruído, máquinas que precisam ser refeitas e matéria-prima que deve ser comprada, Angelo calcula que teve um prejuízo de cerca de R$ 180 mil.
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Esta é a segunda vez que o casal depara-se com uma enchente. Em 2008, eles perderam a casa e a serraria devastada pela terra do mesmo morro. Reconstruíram a casa um pouco mais distante e a serraria no mesmo local. Seis anos depois, a situação se repetiu e eles mantêm-se firmes para recomeçar.
– É uma vida inteira de trabalho que está embaixo da terra e retorcida com o barro. Mas a gente levanta a cabeça – diz Marli.
Casa foi interditada pela Defesa Civil
Ela retornou para casa sabendo dos riscos, já que o local ainda está interditado pela Defesa Civil. Com a casa ao lado do morro, qualquer ruído é motivo de preocupação. E por que o casal não se muda? A mesma razão que leva tantos moradores a retornar a áreas de risco:
– E iríamos para onde? Não temos outra alternativa – diz Angelo.
Agora, eles aguardam que uma barreira de contenção seja feita no morro para construir a nova serraria. Enquanto isso não ocorre, aceitam pequenas encomendas e consertos, feitos com as poucas máquinas que escaparam da destruição. Também aceitam ajuda e doações pelo telefone 9674-0989.
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Três famílias continuam no abrigo
Mais de um mês após a enchente que atingiu Jaraguá do Sul e região, o drama dos desabrigados persiste. Das cinco famílias que permaneceram por mais tempo no abrigo montado no Parque de Eventos, apenas duas conseguiram deixar o local. Além da família de Marli, outra deixou o espaço há cerca de uma semana, quando alugou um imóvel em Schroeder.
As outras três famílias seguem em busca de um lar que caiba no orçamento. Segundo elas, os preços encontrados para locação são muito elevados, acima do que pagavam antes da enchente. Além disso, a documentação necessária para alugar através de uma imobiliária traz dificuldades para fechar contratos.