Quando chegou em casa na manhã daquela segunda-feira, após duas angustiantes noites dormindo em um vizinho do bairro, tudo o que sentiu foi sintetizado em duas palavras: “Perdi tudo”. Adriano Schwarz e a esposa, Terezinha Almeida, atravessaram metros de lodo para chegar à casa no fim da rua Adolfo Augusto Alfredo Zieman, no bairro Czerniewicz, e encontrar o que sobrou dos pertences espalhados entre a via e os cômodos da casa. Restaram uma cama e uma televisão, retiradas às pressas na noite de sábado para a residência vizinha, mais elevada.
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Os relatos de Adriano e Terezinha ecoam as muitas impressões que abateram os moradores de Jaraguá do Sul nos dias 7 e 8 de junho. A chuva incessante, a água chegando de forma rápida, a velocidade implacável com a qual o rio atingiu as casas, a incredulidade ante o nível que a ela alcançou. Adriano e Terezinha saíram de casa na madrugada do domingo, resgatados de bote pela Defesa Civil. Encontraram no dono da Lanchonete De Bértoli, Artur Fernando Bértoli, o ombro amigo que lhes cedeu uma cama para dormir até que a enchente passasse.
Vivem no mesmo terreno, mas abandonaram a casa no nível mais baixo, onde Adriano mediu 2,14 metros de altura de água. Hoje moram na casa da locatária, Jussara Bauer, que lhes liberou o espaço e os móveis enquanto vive provisoriamente com o namorado. Como muitos outros jaraguaenses, Adriano e Terezinha não têm condições financeiras de buscar um novo aluguel e não querem, tampouco, retornar à antiga casa. A tranquilidade, porém, deixou de marcar suas noites.
– A gente vai dormir e, quando escuta qualquer chuvinha, já dá medo. Não quero ter lembranças, mas a gente acaba lembrando. É por isso que a gente batalha. Desanima, mas não podemos abaixar a cabeça _ desabafa Adriano.
Enquanto Adriano e Terezinha lutam para resgatar a rotina, no outro lado da cidade quatro famílias ainda vivem sob um teto coletivo e provisório. O abrigo disponibilizado pela Prefeitura no Parque de Eventos chegou a receber 119 pessoas. Um mês depois, 19 pessoas continuam aguardando por um lar. Das quatro famílias, apenas uma é dona de uma casa interditada pela Defesa Civil, tendo portanto direito ao auxílio-aluguel. Mas Marli Franco se cansou dos preços altos e da dificuldade em alugar um imóvel.
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– Não quero mais saber de aluguel, quero a minha casa _ desabafa.
As outras três famílias viviam de aluguel, o que impossibilita o benefício. Enquanto lamentam a falta de possibilidade de apoio do poder público e procuram por locação, elas se deparam com as dificuldades de compartilhar o mesmo espaço.
– Ficamos das 10 horas da manhã até o fim da tarde procurando casas, mas nada. Ou é por imobiliária e não temos fiador, ou já foi alugada. É muito humilhante estar aqui. Se pudéssemos, já teríamos saído _ lamenta Maria das Dores, que busca imóveis preferencialmente na região de Rio Cerro, Barra do Rio Cerro ou Rio da Luz.
Uma quinta família, que permaneceu por mais de três semanas no abrigo, conseguiu alugar um imóvel apenas em Schroeder.
Busca por recursos ainda segue
A enchente que atingiu Jaraguá do Sul em junho foi a maior em volume de água: foram 380 milímetros de chuva, o que levou o Rio Itapocu a atingir 7,1 metros e o Rio Jaraguá a subir 7 metros. A estimativa é de que 94 mil pessoas tenham sido afetadas na cidade. Enquanto a população luta para reconstruir seus lares, a Prefeitura segue na busca por recursos para a reconstrução da cidade.
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Os prejuízos com bens públicos foram estimados em R$ 8,3 milhões, sendo R$ 4,4 milhões em infraestrutura. Além disso, foram R$ 6,3 milhões em prejuízos agropecuários e R$ 28,7 milhões no restante setor econômico. Em um levantamento inicial para ações de emergenciais, a Prefeitura solicitou R$ 2,7 milhões. O governador Raimundo Colombo respondeu com o anúncio de repasse de R$ 800 mil. Na última sexta-feira, foi publicado no “Diário Oficial” o repasse de R$ 281 mil.
O prefeito Dieter Janssen indica que a atual necessidade está na desobstrução dos bueiros, destinação do lixo e do entulho restante das casas, a limpeza dos pilares das pontes e reparos nas saias das cabeceiras de pontes. No plano de recuperação, a estimativa de gastos é de R$ 5 milhões. A Prefeitura também reorganiza planos como desassoreamento de rios, obras de contenção nas margens de rios (enrocamentos), replantio da mata ciliar e educação ambiental. Para tais ações, o valor estimado é de R$ 50 milhões.
Um mapeamento das áreas de risco está sendo finalizado pela Defesa Civil e um estudo encomendado à Universidade Regional de Blumenau (Furb) é aguardado. No documento, será apontado quais áreas podem ser alagáveis em relação à média de milímetros de chuva, possibilitando o aviso prévio da população.
Outras instâncias do poder público também mobilizam-se após a tragédia. A Câmara de Vereadores de Jaraguá do Sul criou uma comissão especial para tratar do fenômeno. Uma das ações já tem datas marcadas: o atual e os ex-secretários da Defesa Civil têm encontros marcados com os vereadores para esclarecer suas ações e as necessidades da cidade.
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FGTS
Aguardado para que a recuperação de cada família seja mais eficaz, a liberação do FGTS deve ocorrer em algumas semanas. A Prefeitura encaminhou à Caixa Econômica Federal a documentação necessária e logo a possibilidade de saque do fundo deve ser anunciada. O secretário da Defesa Civil Marcelo Prochnow explica que apenas as famílias cujas casas foram atingidas pela enchente poderão realizar o saque. As informações sobre ruas e pontos da cidade com inundações foram enviadas à Caixa através de um relatório da Defesa Civil.
Quando for liberado, a solicitação do saque será feita por telefone para aqueles que já têm cadastro na Caixa. Para quem não tem, será feito um mutirão de cadastro. O limite para saque será de R$ 6.220,00 por conta de FGTS.