Família de estudante assassinado em casa noturna faz homenagem na UFSC pedindo paz

Em resposta à violência sofrida, uma mensagem de paz. Esta foi a maneira que a família do estudante da UFSC Diogo Cuiabano de Medeiros, 26 anos, encontrou de eternizar a memória do jovem, assassinado na casa noturna Fields, no Centro de Florianópolis, em março de 2015.

Uma parede branca próximo ao Restaurante Universitário, local onde o rapaz costumava fazer as refeições com os colegas, agora estampa a arte do grafiteiro carioca Marcelo Ment, que veio para Florianópolis a convite da família especialmente para a homenagem.

Vestindo camisas brancas, com o símbolo do infinito e a digital de Diogo impressa, a mãe, a avó, a tia e amigos prestavam a homenagem, distribuindo flores para os estudantes e uma mensagem de paz, pedindo mais gentileza, incentivando cinco atitudes que podem fazer a diferença.

— É o nosso jeito de transformar essa tragédia que aconteceu com a gente em alguma coisa boa — disse a mãe, Flávia Cuiabano.

A banda Tempestade Futura contribuiu com a ação levando sua música. O vocalista Victor Guilherme Lima, 27 anos, não conhecia Diogo, mas ao saber da história na época do crime ficou sensibilizado e escreveu uma música em homenagem:

— Fiquei muito chocado na época que vi a história, ele tinha a minha idade, e percebi uma indiferença da sociedade, estamos nos acostumando com a violência. Participei da celebração que fizeram para ele na UFSC e me emocionei ao ver a família, então resolvi escrever a música. Quando tocamos em um show gravaram um vídeo e a família me procurou — explica.

A tia e madrinha do jovem, Patrícia Cuiabano, lembra que o Diogo era um jovem tranquilo, tímido e muito pacífico. Ele se declarava doador de órgãos, mas devido à violência da morte não foi possível fazer a doação. Ela conta que ele também adorava desenhar, e a parede do quarto dele na casa no Rio de Janeiro — onde vive a família — era laranja com quadrinhos com as impressões digitais, por isso as flores distribuídas eram nesta cor.

O grafiteiro Marcelo Ment, um dos maiores nomes da arte urbana brasileira da atualidade, conta que foi procurado por Flávia para fazer um trabalho, mas quando ela explicou a história viu que era algo diferente:

— Não considero um trabalho e nem poderia cobrar. É uma maneira de eu participar da homenagem — falou.

Estudantes se emocionaram

Enquanto aguardavam na fila para o almoço no fim da manhã desta segunda-feira, milhares de estudantes que passavam pelo local ficaram tocados ao receber as flores dos familiares com os cartões pedindo gentileza e uma pequena pomba branca em madeira, símbolo da paz.

Henrique Montagna era colega de Diogo e conta que ainda tem uma sensação estranha de não ter mais o amigo:

— Um dia antes a gente estava junto se divertindo. Meu coração bateu mais forte quando o grafite começou a tomar forma, ver o rosto dele ali — disse.

A estudante de odontologia Natália Fontana não conhecia pessoalmente Diogo, mas se recorda da história pela imprensa e não conseguiu conter as lágrimas quando recebeu a flor das mãos da tia do jovem:

— Fiquei muito tocada com a mensagem que veio. Muita coisa poderia ser evitada se tivesse mais gentileza e respeito entre as pessoas.

Julgamento no dia 20 de setembro

Está marcado para acontecer no dia 20 de setembro, em Florianópolis, o júri popular de Leonardo dos Passos Pereira, 21 anos, que confessou ter assassinado Diogo Cuiabano dentro da casa noturna Fields. De acordo com testemunhas, o acusado esbarrou propositadamente contra a vítima no banheiro, sendo que esta chegou a se desculpar para evitar confusão, mas ainda assim Leonardo desferiu um tapa na garrafa que estava na mão de Diogo. Consta ainda que o acusado foi atrás da vítima e efetuou o golpe com um copo enquanto Diogo estava de costas. Ele foi contido por seguranças enquanto tentava fugir do local e preso em flagrante.

A família preferiu não falar sobre o júri, disse que a homenagem já estava marcada antes de saberem da data:

— Hoje é um dia para falar de paz, essa é a mensagem que queremos passar, não quero associar ao julgamento — disse a mãe Flávia.